quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

.: Quase Coadjuvante lança EP "Vermelho"

Lançamento finaliza os trabalhos da Geração Perdida de Minas Gerais no ano de 2014.

Por Luan Nobat


Existem as possibilidades e elas permanecem infinitas e insuspeitas, todo caminho deve revelar alguma beleza, por mais inóspito que pareça.


Em seu terceiro trabalho, a banda mineira Quase Coadjuvante disponibiliza o registro de um processo íntimo e intenso que carrega em sua órbita um tom mais confessional em todas as escolhas quando comparado aos lançamentos anteriores – o confessional aqui pode alcançar tanto o lado da poesia confessional americana das décadas de 50 e 60, como pode atingir a conotação de religiosidade que a palavra permite, ambos satisfazem o que pretendo dizer. 

O álbum tem algo de externo, de 'pra fora', apesar de que há de se considerar que um dos principais pontos de 'Vermelho' é a voz – isto, quando literalmente lido, significa aquilo que fisicamente ocupa, ao mesmo tempo, a parte interior e exterior do corpo; quando metaforicamente lido, insinua aquilo que denuncia a alma mais doméstica das coisas. 

O EP traduz em seus timbres, texturas e arranjos uma maneira delicada de promover relatos pessoais que são elegantemente contornados por estruturas que destacam as nuances das canções, estas que poderiam ser vistas como um desabafo, um apelo existencial, um grito passional diante daquilo que não se revela.

As quatro faixas escolhidas e a ordem a elas aplicada desenha uma trajetória que o ouvinte acompanha como quem desfila por um imaginário de sensações e percepções programadas, de modo a causar movimentos e estímulos os mais diversos. A primeira delas, 'Caixa Preta', notavelmente a mais densa e tensa, propõe um caminho supostamente hostil, tanto em seu arranjo mais impermeável, quanto em sua letra que dispara frente ao conforto e almeja o desequilíbrio existencialista, o 'absurdo' de Camus, o contato sóbrio e lúcido com a ausência, o vazio – nada de clarividência. 

No entanto, preserva em seu âmago uma doçura que restabelece e recompõe o transeunte que por ali passeia especialmente na manobra suave e mansa que a voz opera. 'Sereno', talvez a música mais direta, mantém uma dinâmica mais dura e divulga uma cena (conjugal), dentro do que Barthes trata por tal. A tristeza lírica concorda com toda a estrutura que a envelopa. 'Indispensável' preserva o caráter de confusão que até aqui o EP convoca, mas o desloca para outros termos e tempos – o ritmo agora é mais ameno e as acusações menos pontiagudas, a voz curva-se mais pra dentro, se enconchava. 

'O Sonho de se Perder ao Ponto de Não Conseguir Voltar' fecha o disco provocando nele uma possibilidade de nascimento do sol, de esperança, de renovação, porém sem todas as luzes e cores ainda, coisa parecida com o que ocorre lá pras cinco horas da manhã, quando o sol apenas sugere, sem definir muito bem, as cores e humores do dia. O disco não é um disco que conclui – apesar de que talvez nenhum seja – isso, neste caso, parece ser a parte de composição que compete a quem ouve-lê-vê o que a obra exala.

'Vermelho' termina como acaba um pedido de perdão, com um sonoro e denso silêncio. 'Vermelho' termina como quem (pessoa) sabe muito bem que o que existem são as possibilidades e que elas permanecem infinitas e insuspeitas. Todo caminho deve revelar alguma beleza, por mais inóspita que pareça."

Ouça em primeira mão pelo Altnewspaper: http://www.altnewspaper.com/materias/baixe-vermelho-o-novo-ep-do-quase-coadjuvante/

Ouça diretamente no bandcamp: http://quasecoadjuvante.com.br/album/vermelho-2

Ouça todos os lançamentos da Geração Perdida: https://geracaoperdida.bandcamp.com/

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