terça-feira, 21 de outubro de 2014

.: O cordel na sala de aula e na feira do livro

Escritor, poeta popular, radialista, ilustrador, chargista e xilogravador, o cearense Arievaldo Viana ministrará na 60ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre a oficina Cordel na sala de aula, no dia 13 de novembro, às 18h, na Sala de Vídeo. 

Viana, que já escreveu mais de 100 livretos de cordel e publicou, como autor e ilustrador, cerca de 30 obras – sendo cinco lançadas em 2014 –, trará para a Feira as experiências do projeto "Acorda Cordel na Sala de Aula", a partir do livro homônimo de 2005. Em pauta, as origens de cordel, suas modalidades, principais expoentes e regras básicas. "Tudo isso com interatividade com o público e, no final, faço uma aula-espetáculo declamando alguns clássicos do gênero", explica o cordelista.

Criado em 2002 em Canindé, no Ceará, o projeto propõe a utilização da poesia popular como ferramenta auxiliar na educação, através de oficinas de capacitação para professores e de cursos de iniciação à Literatura de Cordel para educadores e estudantes, assim como de estudos a partir da linguagem e informações diversas contidas nos folhetos.

O crescente interesse pela Literatura de Cordel pode ser medido pelo avanço do projeto em outras cidades cearenses, assim como em outros estados, e pela participação do autor em evento literários em todo o Brasil. Em 2014, Viana virá para a Feira do Livro pela terceira vez.

Segundo ele, um ponto alto das participações anteriores foi o lançamento de alguns folhetos pela editora Corag, com adaptações de contos de Simões Lopes Neto para o cordel, além do Estatuto do Idoso e do Estatuto da     Criança e do Adolescente nesse formato. "Gosto muito da receptividade do povo de Porto Alegre e da forma como a Feira [na Área Infantil e Juvenil] vem sendo organizada pela Sônia Zanchetta e toda a sua equipe. Espero dar continuidade ao meu projeto editorial nas editoras do Rio Grande Sul, pois sou fascinado pela cultura gaúcha e, principalmente, pelos livros do escritor Simões Lopes Neto, que tenho adaptado para o cordel", conta.

A atividade integra a programação do ciclo A Hora do Educador. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail visitacaoescolar@camaradolivro.com.br. É necessário informar nome completo, profissão, e-mail e telefones.

Do Sertão para o mundo
Nascido no Sertão Central do Ceará, criado com feijão de corda, cuscuz e rapadura, à luz de lamparina e bebendo água de pote, como faz questão de ressaltar na sua biografia, Viana é mais do que conhecedor, é um apaixonado pela poesia popular nordestina. Alfabetizado em meados da década de 1970, graças ao valioso auxílio da Literatura de Cordel, teve como referência o seu pai, Evaldo Lima e sua avó, Alzira de Sousa Lima, que liam folhetos de cordel em voz alta para ele e outras crianças da família.

Uma vivência que virou marca do seu trabalho. "Minhas primeiras incursões no mundo das letras já estavam relacionados com o cordel. Em 1986, lancei uma HQ intitulada 'Canindé – da Lenda à Realidade', que mesclava a linguagem dos quadrinhos com a literatura de cordel. Nos anos seguintes, publiquei algumas crônicas em jornais e revistas e alguns folhetos de cordel que resolvi enfeixar num livro chamado 'O Baú da Gaiatice' (hoje na terceira edição), que foi um sucesso. Em 2002, surgiu o projeto 'Acorda Cordel na Sala de Aula' e começaram a surgir convites de editoras para publicação de textos em cordel no formato livro infantojuvenil ilustrado", lembra.

"A princípio, houve alguma resistência por parte de pesquisadores alegando que isso descaracterizaria o cordel. Isso não é verdade. O que determina a autenticidade do cordel é a sua linguagem e não seu suporte. Eu sempre procurei ser fiel à escola de Leandro Gomes de Barros e José Pacheco da Rocha, pioneiros e grandes expoentes desse gênero", defende.

Em 2000, Viana foi eleito para a cadeira de número 40 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, cujo patrono é o poeta João Melchíades Ferreira (1869 – 1933), um dos pioneiros desse gênero. Em 2002, conquistou o prêmio Domingos Olimpio de Literatura, promovido pela Prefeitura de Sobral-CE, com uma adaptação do romance Luzia Homem para o cordel.

O autor já recebeu selo "altamente recomendável" da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e teve livros incluídos no catálogo da Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, na Itália, uma das mais importantes do mundo. Alguns dos seus livros também foram adotados pelo Ministério da Educação (MEC), através do PNBE (Programa Nacional da Biblioteca Escolar). São eles: A Raposa e o Cancão (Editora IMEPH, 2007), Ilustrado por Arlene Holanda, A ambição de Macbeth e a maldade feminina (Editora Cortez, 2009), ilustrado por Jô Oliveira, João de Calais e sua amada Constança (Editora FTD, 2012), em parceria com Jô Oliveira. Lançado em 2014 em parceria com Arlene Holanda, O beabá do sertão na voz de Gonzagão (Editora Armazém da Cultura), também integra a relação.

Mais sobre a Literatura de Cordel
Considerada a mais legítima manifestação cultural do povo nordestino, a Literatura de Cordel representa um poderoso veículo de comunicação de massas. Oportunamente batizada de "professor folheto", foi responsável, durante muitos anos, pela alfabetização de milhares de nordestinos, constituindo, em muitos casos, o único tipo de leitura que tinham acesso as populações rurais na primeira metade do século 20.

A poesia popular nordestina, que ainda sobrevive nos dias de hoje, é herdeira direta da tradição grega, eivada de influências dos trovadores medievais da Península Ibérica. Essa poesia, antes difundida pela tradição oral, passou a ser publicada sistematicamente a partir da última década do século 19, pelo poeta paraibano Leandro Gomes de Barros. Aliás, o poeta, que completa 150 anos de nascimento em 2015, é tema de uma biografia ainda inédita de Viana, intitulada Leandro Gomes de Barros – Vida e Obra. Para saber mais sobre Literatura de Cordel, acesse o blog do autor http://www.maladeromances.blogspot.com.br/.

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