terça-feira, 21 de outubro de 2014

.: Limites da camaradagem e seu funcionamento são temas da Flica

Seria o Brasil o país do compadrio? Quem discute e opina sobre isso na 4ª edição da Flica é a repórter especial da revista "Piauí", Consuelo Dieguez, e o professor de Teoria da Comunicação da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Wilson Gomes. O debate, que acontece às 10h do dia 30 de outubro, quinta-feira, fala sobre a tendência de algumas famílias de considerarem-se microestados dentro do Estado Brasil e as negociações que convém a elas mas que infligem - ou não - o espaço público. Qual seria o limite para a camaradagem?

Um dos curadores do evento, Aurélio Schommer, explica a escolha do tema. “Foi levantado principalmente por autores identificados como de direita, desde Varnhagen até Roberto da Matta, passando por Capistrano de Abreu, numa crítica de viés liberal ou mesmo conservador no sentido clássico, de Estado enquanto ente impessoal. A Flica, para não 'chover no molhado', traz um autor que aborda o compadrio a partir de um viés de esquerda e uma jornalista investigativa, de viés ideológico neutro, que traz fatos para um debate que interessa a todas correntes políticas, não de um ponto de vista moralista, pois o compadrio, desde a economia das mercês do período colonial, permeia toda sociedade, ninguém é inocente nesse nosso arranjo social”, diz ele, que mediará o bate-papo.

A Flica chama para a mesa a jornalista Consuelo Dieguez, que já teve passagens pelo jornal "O Globo", revistas "Exame" e "Veja", e venceu em 1997 o Prêmio Esso e o Prêmio Mulher Imprensa, em 2011, como melhor profissional de revista. Seu foco é investigativo, especialmente no livro "Bilhões e Lágrimas - A Economia Brasileira e Seus Atores" (Companhia das Letras), um inventário de casos de compadrio recentes sem um juízo de valor ideológico, além do perfil de alguns homens de empresas e negócios públicos sequestrados por interesses privados.


Ao seu lado, Wilson Gomes, que, a partir das relações entre mídia, capital e Estado oferece em "Transformações da Política na Era de Comunicação de Massa" (Paulus), uma análise para o vínculo entre esses três pilares, que também é marcado pelo compadrio e troca de favores. Políticos profissionais planejam as suas ações com um olho no jogo político partidário e outro no jornalismo, governantes nem podem se dar ao luxo de abrir mão de um conjunto de profissionais de comunicação habilitados a uma gestão eficiente da sua imagem, ninguém que tenha recursos e competência se apresenta a uma eleição sem considerar as suas chances em face de cada um dos “emes” fundamentais: Media, Money e Marketing.

Essa é apenas umas das mesas do evento, que vai do dia 29 de outubro a 2 de novembro e, este ano, conta com patrocínio da Oi, COELBA e Governo do Estado da Bahia, por meio programa "FazCultura". Cachoeira, a cidade sede, é, depois de Salvador, o município baiano que reúne o mais importante acervo arquitetônico no estilo barroco, por isso, as casas, igrejas, prédios históricos, entre outras construções, o Rio Paraguaçu e suas cachoeiras se misturam à poesia de vida das pessoas que ali vivem e as que por ali passam. Pela formação e notoriedade dos convidados, o evento tem tudo para ser um marco na cultura nacional.


Sobre o livro "Bilhões e Lágrimas"
Em meados de 2006, Consuelo Dieguez se tornou colaboradora da revista "Piauí", que seria lançada em outubro daquele ano. A primeira reportagem que lhe foi encomendada, um perfil do banqueiro Luiz Cezar Fernandes, lhe pareceu inusitada. Afinal, a história do ex-dono do banco "Pactual", que passara de elefante a formiga do mercado financeiro, já era conhecida por todos.

Mas depois de acompanhar o dia a dia de Fernandes, Dieguez entendeu que o melhor jornalismo é feito de histórias não contadas, detalhes ignorados, frases despretensiosas. O melhor perfil conta o avesso dos perfilados. A partir daí, com o brilhantismo que lhe é peculiar, a jornalista concentrou-se em desvendar figuras centrais da história recente do país - como Daniel Dantas, Luciano Coutinho, Sérgio Rosa, entre outros - para revelar o momento econômico por que vimos passando desde a posse de Lula. A partir de histórias individuais, Dieguez aponta como se deu o expressivo aumento da participação do Estado na economia, fato essencial para compreensão do Brasil de hoje. 

Pela primeira vez reunidos em livro, os ensaios de "Bilhões e Lágrimas" apresentam um análise contundente da economia atual, a partir do melhor e do pior traço da personalidade de cada um de seus atores.“Se não há no mundo nada mais interessante do que gente, pode-se dizer que o perfil - gente posta em palavras - é o mais interessante dos gêneros jornalísticos.” - Humberto Werneck.


Sobre o livro "Transformações da Política na Era de Comunicação de Massa"
Todos parecem saber demais sobre a política que se tornou um mero espetáculo da mídia, sobre o fato de que os políticos deixaram de ser agentes para serem atores da cena televisiva, sobre o fato de que os marqueteiros e os consultores de comunicação é que afinal decidem as eleições. Este livro pretende de algum modo desafiar esse conjunto de certezas. 

Para isso, põe-se a examinar de perto cada uma das teses que tratam da interface entre comunicação e política: a profissionalização da política através das consultorias de comunicação, a cobertura jornalística da política, a construção das imagens políticas e a luta pela imposição da imagem predominante dos políticos, a fabricação da opinião pública, o controle político da comunicação, a espetacularização da política. 

Depois, contrapõe à evidência presente o argumento histórico: o que a política se tornou parece muito diferente daquilo que a política sempre foi? Por exemplo, fala-se hoje que a competição pela produção de imagens públicas consome grande parte das energias no campo político, mas esquece-se que as prescrições de Maquiavel aos príncipes incluíam cuidadosos conselhos para a gestão de imagens. Por fim, o autor procura examinar o que é de fato novidade e o que permanece constante na atividade política contemporânea. 

A política, afinal, é atividade variada, dotada de muitos sistemas de práticas e habilidades e com diversos propósitos. Assim, parece sensato perguntar-se se nas sociedades da comunicação de massa mudou a política como um todo ou apenas um dos seus sistemas? Em uma formulação original, o autor propõe que aquilo que mudou na política contemporânea em função da comunicação de massa é justamente uma dimensão da política que historicamente se modifica em virtude das alterações do meio ambiente da comunicação pública, permanecendo todo o resto inalterado. 

É uma leitura proveitosa para o estudante de graduação de Comunicação, Sociologia e Ciência Política, para qualquer leitor interessado nas questões decisivas situadas na interface entre política e mídia, mas é também um material sugestivo para incrementar o debate de ponta na área de pesquisa da Comunicação Política.

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