"Reescrever é horrível, é melhor criar uma história nova a arrumar uma que não está legal" - Suzy Ramone
Por: Helder Miranda e Mary Ellen Miranda
Em outubro de 2014
Autora mais nova da 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, realizada em agosto, Stella Robaina, de dez anos, não parece se impressionar com isso. Filha da escritora Suzy Ramone, que tem dois livros publicados, a menina, que tem uma beleza singular, também mostrou que pode ser capaz de ser uma garota normal e, ao mesmo tempo, dar asas à imaginação.
A pequena que é autora do livro "Contos Arrepiantes", lançado pela editora Literata, que apresenta um breve perfil de contos fantásticos de arrepiar em páginas com ilustrações delicadas e envolventes da Carolina Mancini. Na obra, o bicho-papão divide espaço com um lobisomem mais do que enluarado. Bruxas, laboratórios, monstros e vikings esperam pelo leitor que tendo ou não medo do lobo-mau, vai passear por essas histórias.
Stella, que além de escrever, também gosta muito de ler, brincar e assistir TV, está no terceiro ano do ensino fundamental e afirma ser uma boa aluna. Começou a escrever com o incentivo da mãe, que é autora de literatura fantástica e vem se destacando no meio literário com seus livros repletos de elementos sobrenaturais, que se enquadram no gênero terror.
Professora de inglês, Suzy é mãe de dois filhos e artesã. Escreve desde os 14 anos, mas foi somente em 2004, enquanto cursava Letras, que deu início ao primeiro romance, intitulado "O Anjo Maldito". Concluído em 2005 e publicado apenas em 2010, a obra serviu como porta de entrada ao mundo dos autores nacionais.
Com o público conquistado pelo livro e pelos contos que publica no blog Red Rose, Susy foi apresentada ao editor da Literata em 2011. Um ano depois, lançou o "Castelo Montessales", que conta a história de uma família aprisionada em um castelo por poderes mágicos e assombrada por um fantasma, possuidor de corpos, muito cruel e desalmado.Ainda em 2012, participou pela primeira vez da Bienal do Livro de São Paulo como autora. Desde então ela mantém uma publicação por ano e assinou um contrato de exclusividade para as suas obras.
Sob a influência de grandes nomes da literatura, como Stephen King, Anne Rice, Dean Koontz e Agatha Christie, a autora desenvolve seus enredos cheios de elementos surpresa e com desfechos inacreditáveis. Em 2013, Susy lançou o livro "Samyaza", uma releitura de "O Anjo Maldito", já fora de catálogo pela editora antiga. Nesta obra, a narração é feita pela figura bíblica de Enoque, que tudo viu e testemunhou desde que os anjos abandonaram o plano celeste por conta da beleza das mulheres da Terra. É uma trama que envolve anjos e vampiros. O vilão nada mais é do que o próprio Lúcifer e muitos leitores confessaram terem se apaixonado pela forma de como ele foi exposto. A maestria da autora fez com que muitos torcessem por ele no final.
O livro "Poison Heart", lançado este ano, apesar do título em inglês, traz a história de Horácio em língua portuguesa. Foi escrito a partir da letra da música de mesmo nome, dos Ramones. É uma narrativa Pulp, com um estilo de escrita mais coloquial. Quem leu todos os livros da autora, notou a diferença e aprovou.
Na obra, Horácio é um quarentão insatisfeito com o serviço, que se vê conectado a estranhos acontecimentos em seu ambiente de trabalho, inclusive, prevendo a morte da secretária, sua atual namorada. O que no início parece ser uma história comum, vai se desdobrando em acontecimentos fantásticos, deixando o leitor boquiaberto, querendo descobrir logo o que acontece no final.
Susy trabalha atualmente em sua obra para 2015. "O Edifício" traz como pano de fundo a tragédia ocorrida em 1974 no Edifício Joelma, em São Paulo. Entretanto, a trama causará muitas polêmicas religiosas, promete a autora.
RESENHANDO - Como você se sente ao saber que é a autora mais nova desta Bienal do Livro?
STELLA ROBAINA - Eu me sinto bem, é legal. Porque às vezes eu chego no estande e vejo um montão de pessoas, e elas estão lá para comprar o meu livro.
RESENHANDO – É você na capa do livro?
STELLA - (risos) Sou.
RESENHANDO – Como se sente ao ver a sua imagem desenhada na capa de seu livro?
STELLA - Eu olhei e achei legal. É “da hora” eu ficar na capa do meu livro... Mas fico tímida. Elogiam o meu livro, eu falo “obrigada”, e só.
RESENHANDO – Você é sempre tímida?
SUZY RAMONE – Ela está tímida agora, não costuma ser assim. Os desenhos são da ilustradora Carolina Mancini. Mas ela é acostumada a isso. Sempre frequentou eventos literários, nasceu dentro da literatura. Para mim, foi um sufoco danado para publicar um livro. Para ela, foi tudo fácil.
RESENHANDO - Como a sua filha se tornou escritora?
SUZY - A Stella começou a escrever com oito anos, eu fui acompanhando, guardando os textos, como faço com algumas historinhas dela, que vou juntando para o próximo livro. Sempre me viu escrevendo, então para ela escrever livros é normal. Para outras pessoas é tão difícil escrever um livro, mas ela encara com naturalidade.
STELLA – Eu assisti a um filme que tinha o “Bicho Papão”, era um filme de terror. Daí, surgiu a ideia da morte do “Bicho Papão” e escrevi o conto.
STELLA - Não consegui perder o mesmo, mas eu me senti um pouco melhor. É ótimo matar os personagens (risos). Meu personagem preferido é o Freddie Grugher.
RESENHANDO – Suzy, ter uma filha escritora surpreendeu você de alguma maneira?
SUZY - Uma vez eu cheguei na escola dela e a professora me chamou, dizendo que a Stella escrevia histórias de terror nas redações que ela pedia. Perguntou se ela tinha acesso a essas histórias de terror, eu respondi “não, de jeito nenhum, ela lê livros de criança”. No final, ela me deu uma bronca. Até onde eu sabia, era eu que escrevia histórias de terror, mas nunca deixei ela ler. A Stella lê coisas que correspondem à idade dela. Mas já surpreendi a Stella assistindo a filmes do Freddie Grugher à meia-noite, sozinha.
RESENHANDO - Como escrever histórias passou a fazer parte de sua vida?
STELLA - Eu lia livros. Além disso, eu e minhas amigas sempre gostamos de escrever histórias. "A Menina Lobisomem", foi uma das minhas primeiras histórias inventadas por mim. Cresci vendo minha mãe fazendo isso. Ela escrevia, e eu ficava lá, olhando para ela...Eu escrevia com as minhas amigas, mas não achava nada demais. Depois, eu mostrava para a minha mãe. Por exemplo, quando ela estava sem ideias para escrever um conto nórdico, eu mostrei um conto que escrevi.
RESENHANDO - Você continua escrevendo?
STELLA - Agora, não. Está meio difícil estudar, fazer lição, um monte de coisas... e escrever.
RESENHANDO - O que você mais gosta de ler?
STELLA - Gosto de ler histórias de terror e infantis. Já li 12 livros em toda a minha vida. O último livro que li foi "Que Historia É Essa?", de Flavio de Souza.
RESENHANDO - E como é a sua relação com os leitores que admiram você?
STELLA - É interessante. Cheguei no estande e vi, meu Deus, um montão de pessoas. Elas estavam ali me esperando, compraram o meu livro. Aí você chega e acha que vai ser meio difícil vender os livros, mas chegam 20 crianças. E, quando eu estou autografando... (risos) chega uma menina que diz para mim: "ai, meu Deus, é meu sonho! Vou desmaiar!".
RESENHANDO - Mas você também é uma criança. Sente medo de fazer algo que decepcione seus fãs?
STELLA - Geralmente eu fico calada para não falar besteira (risos)...
RESENHANDO – E na escola, você é vista como uma garota diferente, por já ter lançado um livro?
STELLA - Não, eu sou na escola da mesma maneira que sou aqui. Estou na quinta série, de uma escola em São Paulo, e minha matéria preferida é Ciências, mas também gosto de Educação Física. Não gosto de Matemática, mas não tiro nada menos que oito. Minhas notas são de oito a dez.
RESENHANDO – E você, Suzy: como começou a escrever?
SUZY – Eu escrevia poemas na Faculdade de Letras. Fui fazendo a partir das aulas de produção de textos. As poesias foram ficando legais. Era muito difícil publicar. Ficou guardado por algum tempo. Hoje, publiquei três livros solo e trabalhos em antologias.
RESENHANDO – Quais são os seus livros?
SUZY – Lancei “O Anjo Maldito”, por uma editora do Rio de Janeiro que já não existe mais. Não gostei de publicar por lá e também não gostei do livro. Tanto que reescrevi, durante sete anos, e virou o “Samyaza”, lançado pela editora Literata. Reescrever é horrível, é melhor criar uma história nova a arrumar uma que não está legal. Também lancei "Poison Heart", que é inspirado na musica de mesmo nome dos Ramones.
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