quarta-feira, 8 de outubro de 2014

.: Entrevista com Ederson dos Santos, sambista e partideiro

“Um caldeirão de boa música ajudou a construir minha musicalidade”, Ederson dos Santos.

Por Helder Miranda
Em outubro de 2014

Um dos representantes da nova geração de sambistas do país, o músico, compositor e intérprete Ederson dos Santos iniciou sua carreira em grupos de samba de Santos, sua cidade natal, e em pouco tempo partiu para a carreira solo. Seu carisma e versatilidade fizeram com que passasse a se tornar um dos mais queridos e respeitados sambistas de toda a Baixada Santista, motivo pelo qual pareça ser inevitável seu talento ser apreciado por plateias de todo o país. 

Em 2009, teve uma composição gravada pelo cantor Mário Sérgio, do grupo “Fundo de Quintal”, quando ele gravava um projeto solo. Intitulada "Na Laje", a única escolhida pelo artista em um concurso promovido por uma rádio de São Paulo, dentre mais de dez mil músicas vindas de todos os lugares do país, tornando real o sonho de alcançar o público brasileiro com sua obra. 

Foi o estopim para novas parcerias com grandes compositores como Serginho Meriti, Renato Milagres, Carlos Caetano e Moisés Santiago, além do contato com outros grandes artistas como os cantores Reinaldo, Mumuzinho, Leandro Sapucahy e o Grupo Fundo de Quintal, os dois últimos com músicas em seus mais recentes trabalhos: "Tem Pobre Ligando Pra Mim" com Sapucahy, e "Senhora Aparecida", com o grupo “Fundo de Quintal”.

Ederson esbanja talento e personalidade na hora de cantar. Seguro e de voz potente, busca sempre no fundo da alma a emoção em cada samba. Influenciado por mestres como João Nogueira, Ivone Lara, Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, consegue fazer de toda essa mistura sua identidade e canta a verdade do seu coração: o samba, o ritmo que o Brasil se orgulha de dizer que é seu. 


Entoando refrões fáceis e versando como poucos de forma improvisada, Ederson passeia de mãos dadas com o “partido alto”. O “partideiro” (que faz versos de improviso) costuma destacar alguns momentos inesquecíveis, como por exemplo quanto teve a oportunidade de versar com Dudu Nobre. Mas nada se compara ao espetáculo "Desafio de Partideiro", onde protagonizou  com Chapinha (“Samba da Vela”) e Serginho Meriti (“Quintal do Pagodinho”), o show que marcou pela originalidade, pelo recorde de público e principalmente pela ilustre visita e participação do grande sambista e compositor Nelson Sargento. Recentemente, lançou o CD "Meu Samba Vai te Conquistar", um dos assuntos desta entrevista.



RESENHANDO - Como a música entrou em sua vida?
EDERSON DOS SANTOS - Desde sempre, lá em casa ouvíamos de tudo, de Beatles a Carlos Santana, passando pelo samba e choro. Um caldeirão de boa música ajudou a construir minha musicalidade, graças a Deus.

RESENHANDO - Você começou a carreira em grupos de samba santistas. Que lições tirou desta época?
E.S. - A grande lição que tive neste período, foi que a música é coletividade. Aprendi a somar o som que eu fazia ao som dos meus companheiros, buscando uma sonoridade única, compacta e indivisível.

RESENHANDO - Quando, e por que, percebeu que era o momento de partir para a carreira solo?
E.S. - Em meados de 2007, após ter alguns sambas gravados, percebi que era o momento de iniciar um novo ciclo, era preciso encarar um novo desafio.

RESENHANDO - Como conseguiu se tornar um dos mais queridos e respeitados sambistas da região?
E.S. - Isso é algo que eu não saberia responder ao certo. Tudo aconteceu de forma bem natural, sempre fui de mostrar meus sambas por onde eu fosse. As pessoas começaram a me ver como o cara que sempre tinha uma música nova. Felizmente, tudo deu certo e tem dado até hoje. Deus é muito bom comigo!

RESENHANDO - Como uma de suas músicas foi parar nas mãos do cantor Mário Sérgio, do grupo “Fundo de Quintal”?
E.S. - Por uma promoção feita por uma rádio de São Paulo, onde um samba de um novo compositor seria escolhido para integrar o repertório do CD solo dele. Entre milhares de candidatos, fui o escolhido com o samba "NA LAJE", que acabou se tornando música de trabalho também.

RESENHANDO - Que diferencial esta música tinha para ser escolhida entre dez mil canções?
E.S. - Talvez tenha sido a linguagem que eu adotei, falando de cotidiano, coisas que acontecem pelas periferias do Brasil e que fazem com que as pessoas se identifiquem.

RESENHANDO - A partir daí, você passou a ser procurado por artistas de renome nacional. Como foi isso para você?
E.S. - Foi realmente especial ver que os frutos começavam a ser colhidos e que pessoas que antes pareciam distantes, passaram a se tornar acessíveis, me prestigiando, mas ao mesmo tempo me fazendo ter muito mais responsabilidade quanto a minha obra.


RESENHANDO - Desses cantores, quais as suas interpretações favoritas?
E.S. - Sou suspeito em dizer, tenho um carinho especial por todas as gravações de sambas meus, mas com certeza a que mais me emociona é "Senhora Aparecida" com o grupo “Fundo de Quintal”. Ter um samba gravado pelo maior grupo de samba de todos os tempos é o meu maior troféu.

RESENHANDO - Existe uma fórmula para a canção perfeita? 
E.S. - Talvez sim, isso é muito subjetivo. Eu acredito que uma boa canção é aquela que mexe com você, tira do seu estado "normal", e faz cantar, sorrir, chorar. Fico feliz quando isso acontece.


RESENHANDO - Em que se inspira para compor?
E.S. - Tudo pode ser inspirador. Procuro estar sempre atento às pessoas, nos "causos" da vida, amores, desamores, enfim, tudo pode ser tema pra uma canção, depende do olhar do poeta.

RESENHANDO - O que o samba pode ensinar para alguém?
E.S. - Acima de tudo, ensina a pensarmos coletivamente. O samba é algo extremamente coletivo, a integração entre música, músicos e plateia é o que determina um bom samba. Isso é o que mais me apaixona nesta coisa "misteriosa" chamada samba.

RESENHANDO - Como compositor, quando percebe que criou uma música boa?
E.S. - A sensação é especial. Eu pessoalmente fico inquieto, eufórico mesmo, nessas horas. A música é mais forte que qualquer sentido, muitas vezes me leva as lágrimas.


RESENHANDO - Há diferença entre o que gosta de cantar, e o que gosta de ouvir?
E.S. - Diferença existe, mas procuro chegar no meio termo. Há coisas que fazem parte da minha formação como sambista, que nem sempre funcionam no palco. Faço a minha verdade se misturar com a verdade do público, este é o segredo.

RESENHANDO - Quem é o seu sambista predileto?
E.S. - É injusto ter que citar um só, prefiro aqui deixar o meu respeito aos compositores daquela geração de ouro do Cacique de Ramos, sambistas que transformaram o jeito de fazer, tocar e cantar samba. O samba pode ser divido em antes e depois do Cacique, sou muito grato a toda essa geração.

RESENHANDO - Como foi o encontro com Dudu Nobre?
E.S. - Tive a felicidade de acompanhá-lo em um evento fechado, e foi realmente memorável. Alguns amigos disseram a ele que eu faço Partido Alto (versos de improviso), e não deu outra, as rimas feitas na hora deram o tom da festa. Dudu é um dos grandes partideiros do país, mais um momento que carrego para sempre.
← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comments:

Postar um comentário

Deixe-nos uma mensagem.

Tecnologia do Blogger.