sábado, 20 de setembro de 2014

.: Pretendimentos, por Diego Demanoqua

Por Diego Demanoqua 


Pretendia caminhar até chegar. Antes, não chegou. Ficou no meio. Na ponta. Na pinta úmida da rua, olhando a finura de uma gota. A água ali contida era outra, e bem o sabia. 

Um mar retinia no fundo daquela estranha coisa, chegou a imaginar os golfinhos. Mas chovia e tinha uvas na bolsa, pretendia comer no final do dia. As uvas o sabiam desde que puderam, na bolsa recitavam os úvicos mistérios. Passariam antes das três, enraizariam seus corpos rotos, germinariam vinhas em cada bolso, drogariam, bacantes, quem fosse o dono. 

E as gotas favoreciam o atraso, no fundo, tudo combinado.  Os carros desistiram de mascar aquela específica rua e os sinais das placas repercutiram acasos. 

Porém, um instante é muito em pouco para ir além, um olhar não tem direito de digerir o todo inteiro. É fadado aos pedaços passos tão percevejos. É fadado ao julgo dos relógios quem andar assim tão pronto a cada ponto em cada traço. É fadado a tracejar no mais rápido do traço um movimento outro... antes que antes depois se vire. Antes que logo lhe virem pelo agora sem olhos. Escuro como o óleo dos automóveis. Contínuo como os sinais dos telefones. Incutido no celular dos celulares. Descelulando as inúmeras partes. 

Tirando o sol do solar sistema. A cabeça do corpo, o braço e as pernas. Motivo de pena, até para os menos penosos pássaros. Aos cidadãos com penas no percalço, suspirando o perigo daquela escolha, respirando o resultado como um outro ar respirável.

Está tudo bem? Percebe? Sente?

Sim, sim, sim... na verdade, meu pensamento é canhoto.
O que diz?
Vejo tudo por um lado outro e esqueço-me dos outros lados.


Sobre Diego Demanoqua
Nascido em Guarujá, São Paulo, desde muito cedo revelou apreço pela leitura e escrita. Fascinado por escritores como Herman Hesse, Machado de Assis, Borges, Rubem Alves, Mia Couto e Saramago, ama, com o verbo na borda do inevitável, os livros teóricos, por motivos que nem a ele foram explicados. Escreve incessantemente, lê intensivamente e acredita que as palavras não possuem nada de tão incrível quanto as indefinidas coisas que, nos interstícios, comunicam-se. 
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