Obra de Marco Haurélio reúne rico acervo com 22 contos regionais apurados em trabalho que durou cinco anos.
O cordelista e pesquisador da cultura popular brasileira Marco Haurélio, na tentativa bem-sucedida de reunir contos populares recolhidos diretamente da memória coletiva do brasileiro, deu origem ao livro "O urubu-rei e outros contos do Brasil", que chega agora pela Volta e Meia – selo infantil da editora Nova Alexandria. São 22 histórias apuradas entre 2005 e 2010, em um trabalho minucioso, que procura manter não só a essência como a oralidade de tais narrativas.
A maior parte dos envolvidos no projeto é do interior da Bahia, onde a caatinga abraça o cerrado. As primeiras narrações se situam nos domínios da fábula, pois pertencem ao tempo em que os bichos falavam. Outras histórias têm base no conhecimento religioso, como em Adão e Eva, versão paralela ao relato bíblico do Gênesis. Neste, explica como surgiu o pomo de Adão, o gorgomilo, a origem da agricultura e do extrativismo vegetal.
Os contos de fadas também se fazem presentes, a exemplo de O cavalo encantado e de Maria Borralheira, uma versão muito bem “abrasileirada”, se assim podemos dizer, do clássico Cinderela, dos irmãos Grimm. O autor considera que, “dentre tantas pedras preciosas do nosso garimpo”, O Urubu-Rei, a versão baiana do Rei Lear é a mais valiosa delas.
“O nosso conto, no entanto, ameniza o lado trágico da peça de Shakespeare, pois traz um príncipe enfeitiçado numa ave de rapina das regiões tropicais, o urubu-rei (Sarcoramphus papa), que vem a ser o salvador da heroína, expulsa e condenada à morte pelo pai por sua sinceridade no relato de um sonho”, diz ele.
Para dar um “empurrãozinho”, o Vocabulário tira a dúvida no caso de expressões como “de bucho”, que significa grávida; “tirar tirão”, que na verdade nada mais é que divertir-se à custa do outro. E sinônimos como “Cão”, referência ao Diabo; “Manga”, que ao invés da fruta, refere-se ao pasto, entre outros.
Se essa obra, que une tantas outras em um projeto único – em número e qualidade – é importante e essencial para o público infantil, deve também ser tratada como obrigatória para todos aqueles que desejam conhecer mais da cultura brasileira. São 87 páginas de uma leitura curiosa e instigante, que por muitas vezes te permite ouvir a voz e velocidade no discurso de cada narrador, já que Haurélio preocupou-se muito com essas características.
O autor, por ele mesmo:
Nasci numa localidade chamada Ponta da Serra, no sertão da Bahia, hoje pertencente ao município de Igaporã. Na época em que nasci era parte do município de Riacho de Santana. A casa de minha avó Luzia Josefina (1910-1983) era, como se dizia então, parede e meia com a de meu pai. Sempre que podia, ia à sua procura para ouvi-la narrar as histórias fabulosas que me transportavam para reinos distantes, habitados por heróis valorosos, princesas encantadas e gigantes orgulhosos. E também para a leitura noturna dos folhetos clássicos da literatura de cordel, como João Acaba-Mundo e a serpente negra, de Minelvino Francisco Silva, e Juvenal e o dragão, de Leandro Gomes de Barros. Desde os sete anos, passei a anotar essas histórias, ao mesmo tempo em que já escrevia meus primeiros folhetos de cordel.
Passou o tempo, cursei Letras Vernáculas na Universidade do Estado da Bahia em Caetité e, já no final do curso, inspirado pelos poderosos exemplos de Luís da Câmara Cascudo e Sílvio Romero, resolvi reunir em uma ou em várias publicações a rica tradição oral da região. Foi um trabalho árduo, mas reconfortante, pois, a cada história gravada ou anotada, estabelecia-se um vínculo de amizade com o narrador, e a certeza de que, aqui e ali, eu garimpava algumas pedras preciosas. O trabalho, iniciado em 2005 e jamais interrompido desde então, resultou em vários livros que incluem a contística e a poesia popular (cancioneiro). Algumas joias deste garimpo, que, mesmo lapidadas, não escondem as marcas da oralidade, compõem este livro. Outras foram recriadas em cordel e, misturadas às minhas memórias afetivas, ajudam a compor parte de minha trajetória como poeta cordelista e pesquisador da cultura popular brasileira.
Ficha Técnica:
Livro:
Autor: Marco Haurélio
Páginas: 96
O cordelista e pesquisador da cultura popular brasileira Marco Haurélio, na tentativa bem-sucedida de reunir contos populares recolhidos diretamente da memória coletiva do brasileiro, deu origem ao livro "O urubu-rei e outros contos do Brasil", que chega agora pela Volta e Meia – selo infantil da editora Nova Alexandria. São 22 histórias apuradas entre 2005 e 2010, em um trabalho minucioso, que procura manter não só a essência como a oralidade de tais narrativas.
A maior parte dos envolvidos no projeto é do interior da Bahia, onde a caatinga abraça o cerrado. As primeiras narrações se situam nos domínios da fábula, pois pertencem ao tempo em que os bichos falavam. Outras histórias têm base no conhecimento religioso, como em Adão e Eva, versão paralela ao relato bíblico do Gênesis. Neste, explica como surgiu o pomo de Adão, o gorgomilo, a origem da agricultura e do extrativismo vegetal.
Os contos de fadas também se fazem presentes, a exemplo de O cavalo encantado e de Maria Borralheira, uma versão muito bem “abrasileirada”, se assim podemos dizer, do clássico Cinderela, dos irmãos Grimm. O autor considera que, “dentre tantas pedras preciosas do nosso garimpo”, O Urubu-Rei, a versão baiana do Rei Lear é a mais valiosa delas.
“O nosso conto, no entanto, ameniza o lado trágico da peça de Shakespeare, pois traz um príncipe enfeitiçado numa ave de rapina das regiões tropicais, o urubu-rei (Sarcoramphus papa), que vem a ser o salvador da heroína, expulsa e condenada à morte pelo pai por sua sinceridade no relato de um sonho”, diz ele.
Para dar um “empurrãozinho”, o Vocabulário tira a dúvida no caso de expressões como “de bucho”, que significa grávida; “tirar tirão”, que na verdade nada mais é que divertir-se à custa do outro. E sinônimos como “Cão”, referência ao Diabo; “Manga”, que ao invés da fruta, refere-se ao pasto, entre outros.
Se essa obra, que une tantas outras em um projeto único – em número e qualidade – é importante e essencial para o público infantil, deve também ser tratada como obrigatória para todos aqueles que desejam conhecer mais da cultura brasileira. São 87 páginas de uma leitura curiosa e instigante, que por muitas vezes te permite ouvir a voz e velocidade no discurso de cada narrador, já que Haurélio preocupou-se muito com essas características.
O autor, por ele mesmo:
Nasci numa localidade chamada Ponta da Serra, no sertão da Bahia, hoje pertencente ao município de Igaporã. Na época em que nasci era parte do município de Riacho de Santana. A casa de minha avó Luzia Josefina (1910-1983) era, como se dizia então, parede e meia com a de meu pai. Sempre que podia, ia à sua procura para ouvi-la narrar as histórias fabulosas que me transportavam para reinos distantes, habitados por heróis valorosos, princesas encantadas e gigantes orgulhosos. E também para a leitura noturna dos folhetos clássicos da literatura de cordel, como João Acaba-Mundo e a serpente negra, de Minelvino Francisco Silva, e Juvenal e o dragão, de Leandro Gomes de Barros. Desde os sete anos, passei a anotar essas histórias, ao mesmo tempo em que já escrevia meus primeiros folhetos de cordel.
Passou o tempo, cursei Letras Vernáculas na Universidade do Estado da Bahia em Caetité e, já no final do curso, inspirado pelos poderosos exemplos de Luís da Câmara Cascudo e Sílvio Romero, resolvi reunir em uma ou em várias publicações a rica tradição oral da região. Foi um trabalho árduo, mas reconfortante, pois, a cada história gravada ou anotada, estabelecia-se um vínculo de amizade com o narrador, e a certeza de que, aqui e ali, eu garimpava algumas pedras preciosas. O trabalho, iniciado em 2005 e jamais interrompido desde então, resultou em vários livros que incluem a contística e a poesia popular (cancioneiro). Algumas joias deste garimpo, que, mesmo lapidadas, não escondem as marcas da oralidade, compõem este livro. Outras foram recriadas em cordel e, misturadas às minhas memórias afetivas, ajudam a compor parte de minha trajetória como poeta cordelista e pesquisador da cultura popular brasileira.
Ficha Técnica:
Livro:
Autor: Marco Haurélio
Páginas: 96
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