quarta-feira, 24 de setembro de 2014

.: Entrevista com José Luiz Tahan, idealizador da Tarrafa Literária

“Os escritores me tornam um forte, devo a eles e aos leitores a minha carreira”.

Por Helder Miranda


“Os escritores me tornam um forte, devo a eles e aos leitores a minha carreira”.

Por Helder Miranda


Ele não sabe, mas a primeira lembrança que tenho do livreiro e editor José Luiz Tahan José Luiz Tahan foi quando, eu ainda na adolescência, juntei dinheiro para o primeiro livro novo comprado por mim, os outros, na época vieram de sebos. O livro era “As Pessoas dos Livros”, de Fernanda Young, cuja capa, que se complementa frente e verso havia me conquistado. Tahan pediu o meu e-mail para cadastrar no mailing da extinta (e tradicional) livraria santista “Iporanga”, localizada no coração do Gonzaga, talvez o mais famoso e acolhedor bairro santista.

Acontece que no início dos anos 2000, quando a internet não era tão popularizada, e os adolescentes precisavam esperar até meia-noite para conectar à internet para que os pais pagassem um pulso só pela conexão discada, eu não tinha e-mail. Tive muito tempo depois e respondi qualquer coisa, talvez um e-mail inventado pela vergonha de “ainda” não ter um e-mail.

Depois, nossos caminhos se cruzaram outras vezes. Eu, no curso de jornalismo, e ele à frente da primeira livraria “Realejo”, que ficava na saudosa e aconchegante Faculdade de Filosofia da UniSantos - Universidade Católica de Santos, no campus demolido da Rua Euclides da Cunha, no bairro da Pompéia. E ainda nas reuniões do livro “Claríssima”, de Clara Monforte, quando ele já estava no número 2 da Rua Marechal Deodoro, no coração do Gonzaga. Uma admiração que só cresceu, e que se materializa virtualmente nesta entrevista.

Tahan vive o cotidiano de uma livraria de rua. Nela, atende leitores, publica livros e realiza lançamentos na livraria até um grande festival que celebra e festeja o encontro do leitor com seus escritores preferidos, que começa nesta quarta, nesta quinta, dia 25 de setembro, às 20h, na abertura do Festival Tarrafa Literária 2014, com Jorge Mautner, no Teatro do SESC - Santos. Mais que uma celebração à leitura e à arte, é uma celebração à vida e o que ela pode inspirar, em verso, prosa e paixão.


RESENHANDO - De onde surgiu a sua paixão pelos livros?
JOSÉ LUIZ TAHAN - Da infância. Minha mãe era professora e recebia em casa pacotes de livros amarrados com barbantes. Lia tanto clássicos juvenis como HQ, paixão do meu pai.


RESENHANDO - O que representa a literatura em sua vida?
J.L.T. - Diversão séria. A maneira como consigo enxergar outros mundos, resolver outros dilemas. Aprendizado em tempo real, ininterrupto.


RESENHANDO - Quais são seus autores preferidos?
J.L.T. - Paulo Mendes Campos, Millôr, Ian Mcwean e Pirandello me vieram rápido à cabeça, mas podem ser outros, de acordo com o meu dia e a minha fome.


RESENHANDO - Num universo menor - qual o seu livro preferido e seu personagem favorito?
J.L.T. - Hum, “Nenhum e Cem Mil”, do Pirandello, e o protagonista,  Moscarda. Leia e me fale!


RESENHANDO - Muitas pessoas o conhecem como um livreiro. Mas já chegou a se arriscar, também, como escritor?
J.L.T. - Sou livreiro, mas também ilustrador, editor e cometo algumas crônicas, bissextas, que podem ser lidas no (site) Publishnews. Quem sabe vira um livro?


RESENHANDO - Você lida com a parte operacional de uma editora, que envolve o financeiro, sem dúvida a mais racional. Paralelamente, trata com livros e escritores, que é um mundo mais emocional. Existe alguma contradição nisto?
J.L.T. - Nenhuma. O livro é o encontro da arte com o produto. Somos racionais apaixonados.


RESENHANDO - Desde que se aventurou como livreiro, fez muitas amizades com escritores?
J.L.T. - Os escritores me tornam um forte, devo a eles e aos leitores a minha carreira. Tenho orgulho de ter me tornado amigo de muitos, como o Zuenir Ventura, Xico Sá, a Adriana Falcão, Verissimo, ufa, a lista é longa!


RESENHANDO – Por que “Realejo Livros”?
J.L.T. - Queria um nome romântico. O realejo e seu tocador caminha pelas ruas, espalhando música e sorte. Somos uma livraria de rua, que busca o leitor, e o realejo é um bonito símbolo para mim.


RESENHANDO - E a “Tarrafa Literária”, qual foi o combustível para seguir em frente com este evento?
J.L.T. - A “Tarrafa” é a maturidade do nosso trabalho, que já acumula duas décadas. Nos divertimos seriamente,  e o evento cresce ano a ano.


RESENHANDO - O que faz para trazer grandes escritores para Santos?
J.L.T. - O meu sogro tinha uma frase: “Você pensa que o Diabo é sábio? Não! Ele só viveu muito!”. Brincadeiras à parte, trabalhamos muito, sem solenidade,  e os resultados vão aparecendo.  Acho que ser livreiro me ajuda muito,  e a cidade também,  Santos é especial.


RESENHANDO - Qual seria, dentro da Tarrafa Literária, o painel de seus sonhos , com os participantes de seus sonhos, entre escritores vivos e mortos?
J.L.T. - Nelson Rodrigues e Ariano Suassuna? Philip Roth e Patricia Highsmith? Nick Hornby e JK Rowling? João Guimarães Rosa e James Joyce? Entre vivos e mortos são muitos!

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