Por: Marcelo Nogueira
Em maio de 2014
Mateus Solano, com saudade de Félix, tem que montar algum personagem para viver a própria vida.
Em entrevista ao programa “Arte do Artista”, a TV Brasil, o ator Mateus Solano, depois de viver um dos maiores vilões da teledramaturgia brasileira, Mateus Solano, reencontrou o apresentador Aderbal Freire-Filho, que já foi seu diretor na peça “Hamlet”, e relembrou outros trabalhos, cantou, interpretou e fez grandes revelações para o apresentador.
Mateus começou o programa numa cena em busca do Príncipe Hamlet. Passeou pelo cenário e declamou trechos da peça, que é relembrada com imagens dos personagens de Mateus Solano e Wagner Moura. Com essa interseção de imagens, o ator Mateus Solano surgiu no camarim mágico e iniciou o bate-papo falando sobre as muitas vidas de um ator, e o que aprendeu com cada uma dessas vivências, seja no teatro, no cinema ou na televisão.
“Hoje em dia está tudo muito efêmero. As pessoas esquecem as coisas muito rapidamente. A televisão e o cinema trouxeram uma perpetuação do trabalho da gente. O grande barato é visitar aquilo sempre, com um olhar diferente e com o público diferente. Mas, por mais efêmera que seja a nossa profissão, o importante é ficar perpetuado no coração de quem assiste. Isso é o que eu acho mágico e funcional da arte.”, explica Solano.
Aderbal aciona a “Máquina de Pensar/te” e apresentou o livro “O Mito de Sísifo, Ensaio Sobre o Absurdo”, do escritor francês Albert Camus. O apresentador traz uma epígrafe que cai como uma luva quando se trata do fazer artístico: “Ó, minha alma, não aspira à imortalidade, mas esgota o campo do possível”.
Aderbal Freire-Filho - Como ficou a vida fazendo este personagem, Félix, que fez tanto sucesso na televisão brasileira?
Mateus Solano – Você começa a viver dentro do que o outro espera que você seja. Isso é muito complicado, principalmente pra mim que gosta de gente. Eu gosto de gente. Eu gosto de ir aos lugares, ver as pessoas. Mas eu não vejo, eu não assisto, eu sou assistido em qualquer lugar que eu vá. Isso é a parte mais triste, essa visibilidade tão grande. É eu não poder ser eu. Eu tenho que montar algum personagem para viver a minha própria vida.
AFF – E como é o processo e voltar para o Mateus? Quando você pega a taça de vinho o teu gesto ainda é do personagem? O teu corpo ainda está regulado pelo personagem ou você já se livrou dele?
MS - Acho que não. Acho que isso faz parte até da profissão, esse entra e sai esquizofrênico. Na televisão, eu tive a oportunidade de fazer gêmeos. E, para fazer gêmeos na televisão, eu tinha que sair de um, trocar de roupa e entrar em outro, imediatamente porque os dois estavam gravando juntos na mesma cena. Eu lembro que eles brigavam. Era um trabalho esquizofrênico. E, se eu levasse o personagem para a cama, digamos assim, eu estaria numa suruba.
O ator também contou, entre tantas revelações, pérolas pessoais. “No último Carnaval, fui levar a minha filha ao bloco infantil. E aí me vem um animador anão, me reconhece e, lá do carro de som grita para todos no microfone: o ator Mateus Solano está aqui com a gente!. Resultado: saí de fininho”. E quando o papo vai para a música, Solano revela: “Eu voltei a estudar violino. Estou fascinado em voltar a estudar porque eu fiz um pouco quando eu tinha seis ou sete anos, mas fui massacrado pela repetição. Quando eu vi que o meu negócio não era a repetição, e sim o improviso, eu fui para o teatro”.
Na conversa com Aderbal Freire-Filho, Mateus Solano lembrou as sessões de análise que fez e diz que cada personagem é como se fosse um filho. Aderbal, então, perguntou sobre o personagem Félix, e Solano disparou: “Estou com saudades dele. Espero que ele esteja bem”.
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