Por: Helder Miranda
Em abril de 2014
Filme é bom porque tem começo, meio e fim - o que não obriga você a voltar ao cinema para ver as três continuações previstas.
“Divergente é bom”, pensei logo nos primeiros minutos da pré-estreia organizada como parte das comemorações aos 80 anos do Cine Roxy, tradicional reduto da sétima arte santista. A história, futurista, faz certo sentido, embora deixe algumas lacunas. Talvez o “gostar” do filme tenha sido influenciado pela minha falta de expectativas. Não vi trailler, lido sinopse e nem sabia absolutamente nada sobre os atores que interpretam os protagonistas deste que promete ser o blockbuster da vez. A única coisa que sabia a respeito era que os protagonistas ganharam réplicas de bonecos da Mattel, nas versões Barbie e Ken, para colecionadores - consequência de ser marido de uma ferrenha colecionadora de bonecos deste tipo.
Adaptado da trilogia de Veronica Roth - o livro de aventura, distopia, ficção científica e ação (a edição norte-americana tem capa dura) - o longa-metragem acolhe logo nos primeiros minutos e, em pouco tempo, mesmo os descrentes como eu, se veem envolvidos na história de uma menina diferente – e sem bunda – que quer encontrar o seu lugar no mundo. “Divergente” é um filme sobre tribos, e a busca de motivos que podem justificar uma existência.
No Brasil, o livro, lançado em novembro de 2012, vem com o selo da editora Rocco e tradução de Lucas Peterson. Há mais por aí. Nas livrarias, a saga já está completa, à espera de leitores ávidos para saber o que irá acontecer com Tris e companhia limitada. Os títulos das sequências são insolentes, como não poderiam deixar de ser: “Insurgente” e “Convergente”. Estão em primeiro lugar entre os mais vendidos na lista do The New York Times e vem sendo comparado à série “Jogos Vorazes”, da autora Suzanne Collins - que também gerou bonequinhos colecionáveis da Mattel - e à série de livros “The Maze Runner”, de James Dashner.
É inegável o mérito que esses livros têm, independente da qualidade da escrita, de atrair novos leitores - que podem até se contentar com pouco, mas começam, ou voltam, a ler. Questionável é este fenômeno que vem acontecendo desde a primeira adaptação de Harry Potter, de J. K. Rowling, seguida pelo clássico “O Senhor dos Anéis”, de Tolkien – inquestionavelmente, o melhor de todos que, até pela época em que foi escrito, não foi pensado para o cinema.
Incomoda que, desde começou a febre de adaptações de sagas literárias para o cinema, os livros são concebidos para se tornarem filmes, como se a literatura fosse uma arte menor que o cinema. Não há mais arte, nem necessidade de escrever, a “onda” agora é criar blockbusters que gerem franquias milionárias no cinema. Vários exemplos estão por aí, alguns horrorosos, como a série “Crepúsculo”, outros que têm tudo para serem bregas ao extremo, como o erótico-sadomasoquista “50 Tons”, de E. L. James, e até a não tão bem-sucedida imitação da saga de vampiros românticos, pelo menos em repercussão, “16 Luas”...
“Divergente” é bom porque tem começo, meio e fim, tudo muito bem amarradinho - o que não obriga você a voltar ao cinema para ver as três continuações previstas. O enredo é criativo e gira em torno da escolha que adolescentes futurísticos têm de fazer quando chega a hora de escolher uma de cinco facções que são impostas: a Abnegação (formada por candidatos à versões repaginadas de Madre Tereza de Calcutá), a Amizade (por agricultores), a Audácia (policiais), a Sinceridade (não se sabe, talvez humoristas de stand-up) e a Erudição (advogados, técnicos de computação e qualquer outra profissão que seja definida como a de alguém com um QI elevado).
Entre estes adolescentes, está Beatrice Prior, cujo dilema é continuar com a família ou ser quem ela é de verdade. Escolhe por si mesma, vai para a “Audácia” passar por um treinamento de choque, abandona a família, e passa por uma série de desafios com um nome escolhido por ela - Tris - mantendo um segredo que pode resultar na própria morte.
A escolha dos protagonistas de livros de grande sucesso dão confusão desde que Vivian Leight foi escolhida para interpretar a Scarlet O’hara de “...E O Vento Levou1”. Imagino que com Shailene Woodley, a intérprete de Tris, conhecida pelo seriado “The Secret Life of the American Teenager”, não tenha sido diferente. Shailene tem algo que, pessoalmente me incomoda. Tem a cabecinha muito pequena e um pescoção grosso, muitas vezes, de frente, lembra o rosto de um pato e, só quando está bem produzida, é apresentável. O carisma dela, que nas fases boas parece uma versão mal-acabada da atriz Marina Ruy Barbosa, pode ter salvo a personagem.
Mas longe de minhas opiniões pessoais, ela aparentemente é a nova queridinha das adaptações cinematográficas – ela será Hazel Grace, a protagonista de “A Culpa É Das Estrelas”, e ainda irá interpretar Mary Jane Watson em “O Espetacular Homem Aranha 3”.
Aos 29, interpretando um rapaz de 18, Theo James, o Tobias "Quatro" Eaton de “Divergente, é formado em filosofia e atua como cantor e guitarrista da banda londrina “Shere Khan”. Interpretou alguns papéis de destaque, como o Walter William Clark Jr. no seriado "Golden Boy". Também foi o diplomata turco Kemal Pamuk em um episódio de “Downton Abbey”. No elenco, está ainda Zoë Kravitz, filha do cantor Lenny Kravitz, que tem no currúclo, entre outros filmes, “X-Men: Primeira Classe”, que interpreta a amiga de Tris.
Tudo em “Divergente” é tão bem pensado, para agradar a gregos e troianos, que perde em originalidade, embora a narrativa seja agradável e o filme só começa a incomodar, mesmo, nos momentos finais, por ser muito longo. Tris é uma heroína criada milimetricamente para agradar meninos e meninas. Para o universo masculino, ela luta, até com homens – nesse futuro, não existe nenhuma referência à violência contra a mulher, as personagens apanham bastante e, ás vezes, revidam. Para contemplar o universo feminino, Tris, embora violenta, também é a heroína romântica que se apaixona por "Quatro", um rapaz alto, claro e de olhos azuis, que esconde segredos.
A má-notícia é que o caça-níqueis cinematográfico transformará a trilogia de livros em uma quadrilogia, com o último livro da série dividido em duas partes. Ou seja, tudo termina em março de 2017, começando pelas bandas dos EUA.
Filme: Divergente (Divergent)
Ano: 2014
Gênero: Aventura, romance, ficção científica
Duração: 139 minutos
Direção: Neil Burger
Roteiro: Evan Daugherty, Vanessa Taylor, Veronica Roth
Elenco: Shailene Woodley, Theo James, Kate Winslet
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