Marian Keyes de volta, com níveis extras de profundidade
Por: Helder Miranda
Em março de 2012
Dizem que a vingança é um prato que se come frio. Marian Keyes aposta neste tema desde sua estreia no país, com “Melancia”, que a apresentou ao público brasileiro no final de 2003.
A expectativa em torno de “A Estrela Mais Brilhante do Céu”, lançado no finalzinho de 2011, no entanto, era maior. Pois a própria autora considera este, mais um lançamento da Bertrand Brasil, o seu melhor livro. A surpresa sobre tal declaração vem na contramão de outras, em que afirmou se sentir insultada quando lhe perguntavam qual era a obra favorita escrita por ela. Com “A Estrela Mais Brilhante do Céu”, a justificativa é simples e instigante: “ele transmite um incrível sentimento de otimismo”.
Mais do que um habilidoso plano de vingança, a obra surpreende pela celebração às mulheres dos 20 aos 80 anos. A inconsequência da faixa etária menor é retratada com a taxista Lydia, que divide o aluguel com dois poloneses grandalhões e os aterroriza. A crise dos 40, com a autossuficiente de fachada Katie, às voltas com o namorado workaholic. O amadurecimento com Jemina, a vidente telefônica que, ao lado do fiel cão Rancor (que, às vezes, se torna um divertido narrador), dá a impressão de que está acenando para a vida, mas recebe a visita inesperada do filho de criação, caso raro que mistura príncipe encantado e falta de higiene.
Com a habitual leveza de Marian Keyes, temas delicados voltam a fazer parte de mais uma obra, desta vez com o casal Maeve e Matt, que enfrentam um dilema que os coloca à prova. Todos, de alguma maneira, estão ligados, ou, ao longo da história, passam a interagir. A exemplo de “Tem Alguém Aí?”, a obra flerta com o sobrenatural, tendo como narrador um ser sobrenatural que tem dois meses para cumprir uma missão com um desses moradores do edifício de quatro andares do número 66 da Star Street, em Dublin, na Irlanda.
Enquanto permanece atravessando paredes entre um apartamento e outro, vivencia dramas particulares e o cotidiano dos personagens, marcados por grandes amores, decepções, receios e, como talvez por ser o livro mais denso de Marian Keyes até então, pouca dose de descontração.
Leitores habituados à Marian Keyes de antes podem estranhar os personagens que imaginam quantos bolos de chocolate têm de comer para morrer, ou sentem alívio em arriscar a vida em sinais de trânsito. Com “A Estrela Mais Brilhante do Céu”, é possível perceber uma autora mais aprofundada, mais vivida, que cresceu acompanhada de seu público pisando fundo em searas tempestuosas, como abuso sexual, depressão, divórcio, drogas, infidelidade e luto. É uma leitura sobre morte e vida, mas, principalmente, sobre a linha tênue que separa os arrependimentos das segundas chances que todos recebem sem esperar e podem conduzir à redenção.
Marian Keyes em raio-x: Ela tem como escritores favoritos Kate Atkinson, Sebastian Barry, Alexander McCall Smith, Christopher Brookmyre, Michael Connolly, e hoje é figura tarimbada na lista de livros mais vendidos ao redor do mundo. Irlandesa, a escritora Marian Keyes considera magnífico que haja muitas escritoras irlandesas. “Nós temos a tradição em contar histórias, com o colonialismo, tudo foi deixado para nós. Mas os irlandeses ainda formam uma sociedade patriarcal, então temos muito trabalho a fazer”, diz ela.
Ela nasceu em Limerick, na Irlanda, em 1963. “Não escrevia até os 30 anos e não tinha ideia de que escrever era algo que gostaria de fazer. Minhas bases não estavam na escrita”, disse ela, em entrevista ao Resenhando.com. “O meu primeiro conto foi muito poderoso, até porque eu nunca tinha feito nada com que eu me sentisse útil e me orgulhasse de alguma forma”. Depois de tudo o que passou, principalmente por ter dado a volta por cima ao lutar contra o vício do alcoolismo, ela acredita que as dificuldades serviram para torná-la escritora, mas não se preocupa em ser famosa. “O melhor de tudo é ter contato com as pessoas ao redor do mundo”.
Mas ela não esperava que o primeiro livro, lançado no final de 2003 pela Bertrand Brasil, fizesse tanto sucesso. “Pensei que as pessoas de fora da minha família não iriam recebê-lo bem e que os britânicos não iriam entendê-lo. No final, o sucesso ao redor do mundo foi surpreendente”. Autora de grandes personagens femininas, ela acredita que suas personagens são heroínas. “Elas passam por momentos difíceis, sobrevivem e emergem, fortes e sábias”.
Cenário para toda obra: Todos os livros de Marian Keyes, até mesmo “Los Angeles”, cuja maior parte da trama se passa na cidade do título, têm Dublin como cenário. O lema deste lugar, muitas vezes lembrado pelos pubs, na atualidade, e também pela característica medieval, é: "Feliz a cidade onde os cidadãos obedecem". Será mesmo? Entre os escritores, além de Marian Keyes, estão George Bernard Shaw, Bram Stoker, Jonathan Swift, Oscar Wilde, William Butler Yeats, Samuel Beckett e James Joyce.
Localizada na costa oriental da Irlanda, na província de Leinster, é a capital e maior cidade deste país. Repleta de história, Dublin e seus habitantes passaram por profundas transformações ao longo dos séculos, passadas de geração em geração como herança das revoltas, das guerras e das conquistas deste lugar.
Em 1960, Dublin passou por um significativo processo de restauração. A Dublin moderna, mostrada nos romances de Marian Keyes, hoje é uma cidade de glamour, como as maiores capitais europeias, que segue respeitando o patrimônio histórico e, ao mesmo tempo, permanece ligada às tendências da modernidade, sem deixar de manter um padrão econômico de país desenvolvido.
O clima é caracterizado por invernos suaves e verões frios, mas tem menos dias chuvosos, em média, do que Londres. Na área de educação, são três universidades e várias outras instituições de ensino. Culturalmente, Dublin abriga grandes festivais que já são tradição, desde festivais religiosos até feira literárias. Mas a festa mais popular, e também a que atrai mais turistas, é o Dia de São Patrício, comemorado em 17 de março.
Famílias a grupos de amigos, munidos de cervejas e o tradicional café irlandês, saem às ruas fantasiados ou com os rostos pintados, em uma espécie de carnaval. Na ocasião, podem ser vistos grandes bonecos infláveis, teatro de rua, artistas circenses, exibição de filmes irlandeses, shows e brincadeiras.
É fácil se movimentar pelo centro de Dublin, levando em consideração que a maioria dos monumentos e os principais pontos turísticos da cidade são acessíveis a pé e estão situados em uma área pequena. Por isso, não é necessário nenhum meio de transporte para ver o centro da cidade. No entanto, se o visitante quiser chegar um pouco mais longe, poderá alugar automóveis ou utilizar a ampla rede de transportes públicos de Dublin. Também se pode fazer uma visita guiada por meio do “Viking Splash Tour”, cujos guias se disfarçam de vikings para explicar a história da cidade, ao mesmo tempo que um veículo anfíbio percorre as ruas mais populares de Dublin. A visita guiada inclui uma parte do percurso na água, dentro do Grand Canal Docklands.
Livro: A Estrela Mais Brilhante do Céu
Título original: The brightest star in the sky
Autora: Marian Keyes
Tradutor: Maria Clara Mattos
598 páginas
Ano: 2011
Editora: Bertrand Brasil
Por: Helder Miranda
Em março de 2012
Dizem que a vingança é um prato que se come frio. Marian Keyes aposta neste tema desde sua estreia no país, com “Melancia”, que a apresentou ao público brasileiro no final de 2003.
A expectativa em torno de “A Estrela Mais Brilhante do Céu”, lançado no finalzinho de 2011, no entanto, era maior. Pois a própria autora considera este, mais um lançamento da Bertrand Brasil, o seu melhor livro. A surpresa sobre tal declaração vem na contramão de outras, em que afirmou se sentir insultada quando lhe perguntavam qual era a obra favorita escrita por ela. Com “A Estrela Mais Brilhante do Céu”, a justificativa é simples e instigante: “ele transmite um incrível sentimento de otimismo”.
Mais do que um habilidoso plano de vingança, a obra surpreende pela celebração às mulheres dos 20 aos 80 anos. A inconsequência da faixa etária menor é retratada com a taxista Lydia, que divide o aluguel com dois poloneses grandalhões e os aterroriza. A crise dos 40, com a autossuficiente de fachada Katie, às voltas com o namorado workaholic. O amadurecimento com Jemina, a vidente telefônica que, ao lado do fiel cão Rancor (que, às vezes, se torna um divertido narrador), dá a impressão de que está acenando para a vida, mas recebe a visita inesperada do filho de criação, caso raro que mistura príncipe encantado e falta de higiene.
Com a habitual leveza de Marian Keyes, temas delicados voltam a fazer parte de mais uma obra, desta vez com o casal Maeve e Matt, que enfrentam um dilema que os coloca à prova. Todos, de alguma maneira, estão ligados, ou, ao longo da história, passam a interagir. A exemplo de “Tem Alguém Aí?”, a obra flerta com o sobrenatural, tendo como narrador um ser sobrenatural que tem dois meses para cumprir uma missão com um desses moradores do edifício de quatro andares do número 66 da Star Street, em Dublin, na Irlanda.
Enquanto permanece atravessando paredes entre um apartamento e outro, vivencia dramas particulares e o cotidiano dos personagens, marcados por grandes amores, decepções, receios e, como talvez por ser o livro mais denso de Marian Keyes até então, pouca dose de descontração.
Leitores habituados à Marian Keyes de antes podem estranhar os personagens que imaginam quantos bolos de chocolate têm de comer para morrer, ou sentem alívio em arriscar a vida em sinais de trânsito. Com “A Estrela Mais Brilhante do Céu”, é possível perceber uma autora mais aprofundada, mais vivida, que cresceu acompanhada de seu público pisando fundo em searas tempestuosas, como abuso sexual, depressão, divórcio, drogas, infidelidade e luto. É uma leitura sobre morte e vida, mas, principalmente, sobre a linha tênue que separa os arrependimentos das segundas chances que todos recebem sem esperar e podem conduzir à redenção.
Marian Keyes em raio-x: Ela tem como escritores favoritos Kate Atkinson, Sebastian Barry, Alexander McCall Smith, Christopher Brookmyre, Michael Connolly, e hoje é figura tarimbada na lista de livros mais vendidos ao redor do mundo. Irlandesa, a escritora Marian Keyes considera magnífico que haja muitas escritoras irlandesas. “Nós temos a tradição em contar histórias, com o colonialismo, tudo foi deixado para nós. Mas os irlandeses ainda formam uma sociedade patriarcal, então temos muito trabalho a fazer”, diz ela.
Ela nasceu em Limerick, na Irlanda, em 1963. “Não escrevia até os 30 anos e não tinha ideia de que escrever era algo que gostaria de fazer. Minhas bases não estavam na escrita”, disse ela, em entrevista ao Resenhando.com. “O meu primeiro conto foi muito poderoso, até porque eu nunca tinha feito nada com que eu me sentisse útil e me orgulhasse de alguma forma”. Depois de tudo o que passou, principalmente por ter dado a volta por cima ao lutar contra o vício do alcoolismo, ela acredita que as dificuldades serviram para torná-la escritora, mas não se preocupa em ser famosa. “O melhor de tudo é ter contato com as pessoas ao redor do mundo”.
Mas ela não esperava que o primeiro livro, lançado no final de 2003 pela Bertrand Brasil, fizesse tanto sucesso. “Pensei que as pessoas de fora da minha família não iriam recebê-lo bem e que os britânicos não iriam entendê-lo. No final, o sucesso ao redor do mundo foi surpreendente”. Autora de grandes personagens femininas, ela acredita que suas personagens são heroínas. “Elas passam por momentos difíceis, sobrevivem e emergem, fortes e sábias”.
Cenário para toda obra: Todos os livros de Marian Keyes, até mesmo “Los Angeles”, cuja maior parte da trama se passa na cidade do título, têm Dublin como cenário. O lema deste lugar, muitas vezes lembrado pelos pubs, na atualidade, e também pela característica medieval, é: "Feliz a cidade onde os cidadãos obedecem". Será mesmo? Entre os escritores, além de Marian Keyes, estão George Bernard Shaw, Bram Stoker, Jonathan Swift, Oscar Wilde, William Butler Yeats, Samuel Beckett e James Joyce.
Localizada na costa oriental da Irlanda, na província de Leinster, é a capital e maior cidade deste país. Repleta de história, Dublin e seus habitantes passaram por profundas transformações ao longo dos séculos, passadas de geração em geração como herança das revoltas, das guerras e das conquistas deste lugar.
Em 1960, Dublin passou por um significativo processo de restauração. A Dublin moderna, mostrada nos romances de Marian Keyes, hoje é uma cidade de glamour, como as maiores capitais europeias, que segue respeitando o patrimônio histórico e, ao mesmo tempo, permanece ligada às tendências da modernidade, sem deixar de manter um padrão econômico de país desenvolvido.
O clima é caracterizado por invernos suaves e verões frios, mas tem menos dias chuvosos, em média, do que Londres. Na área de educação, são três universidades e várias outras instituições de ensino. Culturalmente, Dublin abriga grandes festivais que já são tradição, desde festivais religiosos até feira literárias. Mas a festa mais popular, e também a que atrai mais turistas, é o Dia de São Patrício, comemorado em 17 de março.
Famílias a grupos de amigos, munidos de cervejas e o tradicional café irlandês, saem às ruas fantasiados ou com os rostos pintados, em uma espécie de carnaval. Na ocasião, podem ser vistos grandes bonecos infláveis, teatro de rua, artistas circenses, exibição de filmes irlandeses, shows e brincadeiras.
É fácil se movimentar pelo centro de Dublin, levando em consideração que a maioria dos monumentos e os principais pontos turísticos da cidade são acessíveis a pé e estão situados em uma área pequena. Por isso, não é necessário nenhum meio de transporte para ver o centro da cidade. No entanto, se o visitante quiser chegar um pouco mais longe, poderá alugar automóveis ou utilizar a ampla rede de transportes públicos de Dublin. Também se pode fazer uma visita guiada por meio do “Viking Splash Tour”, cujos guias se disfarçam de vikings para explicar a história da cidade, ao mesmo tempo que um veículo anfíbio percorre as ruas mais populares de Dublin. A visita guiada inclui uma parte do percurso na água, dentro do Grand Canal Docklands.
Livro: A Estrela Mais Brilhante do Céu
Título original: The brightest star in the sky
Autora: Marian Keyes
Tradutor: Maria Clara Mattos
598 páginas
Ano: 2011
Editora: Bertrand Brasil
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