"Gosto da ficção que tenha humor e imaginação" - Moacyr Scliar
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em novembro de 2004, entrevista republicada em maio de 2011
Moacyr Jaime Scliar autor de quase cem livros e membro da Academia Brasileira de Letras, conhecido popularmente sem o segundo nome (Jaime), no dia 27 de fevereiro, teve falência múltipla de órgãos, aos 73 anos. Internado desde 11 de janeiro para uma cirurgia de extração de tumores no intestino, Scliar sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico no dia 16 de janeiro, sendo encaminhado à Unidade de Tratamento Intensivo.
No dia seguinte, sofreu uma cirurgia para retirada de coágulo decorrente do AVC, quando foi mantido com o mínimo de sedação necessária. Quando passava pela retirada gradual da sedação quando, no dia 9 de fevereiro, o escritor apresentou um quadro de infecção respiratória, retomando a sedação e a respiração por aparelhos.
Ele que nasceu em Porto Alegre, no dia 23 de março de 1937, conversou com a equipe do site cultural Resenhando.com, no final de 2004 e falou suas publicações, seus gostos e suas referências literárias. Saiba mais sobre de Moacyr Scliar!
RESENHANDO - Como foi para você receber, em 1968 - Prêmio da Academia Mineira de Letras, quando havia ingressado na literatura á pouco tempo?
MOACYR SCLIAR - Foi muito importante. O prêmio foi para o meu segundo livro, "O Carnaval dos Animais" (contos) que representava para mim mesmo um desafio. É que eu estava insatisfeito com meu primeiro livro, "Histórias de médico em formação", uma coletânea de contos sobre minhas vivências como estudante de medicina que, relendo, me pareceu uma obra de principiante, com muitas falhas. Eu havia decidido que meu destino como escritor dependeria de "O Carnaval". O livro foi bem recebido, ganhou prêmios como o mencionado e, mais importante, resistia à minha própria releitura. Fui em frente...
RESENHANDO - Qual o seu estilo literário preferido?
MOACYR SCLIAR - Gosto da ficção que tenha humor e imaginação.
RESENHANDO - Entre os seus mais de 60 livros publicados, qual prefere? Porque?
MOACYR SCLIAR - Pergunta difícil de responder: é o mesmo que perguntar a um pai de que filho gosta mais (para mim não é problema: só tenho um filho). Mas gosto muito de "O Centauro no Jardim", "A Majestade do Xingu" e "A Mulher que escreveu a Bíblia". Além dos contos.
RESENHANDO - Como é produzir livros voltados para o público infantil?
MOACYR SCLIAR - Exige uma sensibilidade especial. O importante é recuperar a criança que existe dentro de cada um e dialogar com ela.
RESENHANDO - Em 31 de julho de 2003 você foi eleito, por 35 dos 36 acadêmicos com direito a voto, para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira nº 31, ocupada até março de 2003 por Geraldo França de Lima. Qual a sensação de estar entre os imortais da literatura?
MOACYR SCLIAR - O aspecto mais importante, para mim, é o fato de ser um escritor gaúcho. O RS tinha um trauma com a ABL desde que o nosso grande poeta Mario Quintana foi derrotado duas vezes em eleições. Quando me pediram que me candidatasse hesitei muito, mas não havia como recusar. Candidatei-me meio apreensivo mas o resultado final não deixou dúvidas.
RESENHANDO - Como você interpreta a palavra "imortais", muito empregada para o escritores que fazem parte da Academia Brasileira de Letras?
MOACYR SCLIAR - Não a levo muito a sério. Imortalidade é uma metáfora, não a realidade.
RESENHANDO - Qual foi o momento mais marcante na sua carreira de escritor?
MOACYR SCLIAR - Vou falar em momentos: são aqueles em que me ocorrem uma boa ideia ou quando eu termino um texto que considero satisfatório
RESENHANDO - Após o reconhecimento, o que a literatura representa na sua vida?
MOACYR SCLIAR - É uma realização pessoal e é uma forma de relação com as pessoas: ofereço-lhes o melhor que sei fazer e fico contente quando um leitor diz que gostou de um livro ou de um texto que escrevi.
RESENHANDO - Quais os escritores que lhe influenciaram na escrita? Qual deles é referência para você até hoje?
MOACYR SCLIAR - No início de minha carreira, Érico Veríssimo e Jorge Amado; depois, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Graciliano Ramos. Todos eles são referência, ainda hoje.
RESENHANDO - Entre os novos escritores, qual nome destaca? Por quê?
MOACYR SCLIAR - Não saberia dizer. Não consigo acompanhar todos os lançamentos, tenho medo de injustiças ou omissões.
Alguns títulos de Moacyr Scliar:
A estranha nação de Rafael Mendes.
A festa no castelo.
A guerra no Bom Fim.
A majestade do Xingu.
A mulher que escreveu a Bíblia.
Cavalos e obeliscos.
Cenas da vida minúscula.
Ciumento de carteirinha.
Doutor Miragem.
Eu vos abraço, milhões.
Os cavalos da República.
O ciclo das águas.
O exército de um homem só.
O tio que flutuava.
Os deuses de Raquel.
Os vendilhões do templo.
Manual da paixão solitária.
Max e os felinos.
Memórias de um aprendiz de escritor.
Mês de cães danados.
Na noite do ventre, o diamante.
No caminho dos sonhos.
Os leopardos de Kafka.
Os voluntários.
Pra você eu conto
Sonhos tropicais.
Um sonho no caroço do abacate.
Uma história farroupilha.
Uma história só pra mim.
*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter: @maryellenfsm
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em novembro de 2004, entrevista republicada em maio de 2011
Moacyr Jaime Scliar autor de quase cem livros e membro da Academia Brasileira de Letras, conhecido popularmente sem o segundo nome (Jaime), no dia 27 de fevereiro, teve falência múltipla de órgãos, aos 73 anos. Internado desde 11 de janeiro para uma cirurgia de extração de tumores no intestino, Scliar sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico no dia 16 de janeiro, sendo encaminhado à Unidade de Tratamento Intensivo.
No dia seguinte, sofreu uma cirurgia para retirada de coágulo decorrente do AVC, quando foi mantido com o mínimo de sedação necessária. Quando passava pela retirada gradual da sedação quando, no dia 9 de fevereiro, o escritor apresentou um quadro de infecção respiratória, retomando a sedação e a respiração por aparelhos.
Ele que nasceu em Porto Alegre, no dia 23 de março de 1937, conversou com a equipe do site cultural Resenhando.com, no final de 2004 e falou suas publicações, seus gostos e suas referências literárias. Saiba mais sobre de Moacyr Scliar!
RESENHANDO - Como foi para você receber, em 1968 - Prêmio da Academia Mineira de Letras, quando havia ingressado na literatura á pouco tempo?
MOACYR SCLIAR - Foi muito importante. O prêmio foi para o meu segundo livro, "O Carnaval dos Animais" (contos) que representava para mim mesmo um desafio. É que eu estava insatisfeito com meu primeiro livro, "Histórias de médico em formação", uma coletânea de contos sobre minhas vivências como estudante de medicina que, relendo, me pareceu uma obra de principiante, com muitas falhas. Eu havia decidido que meu destino como escritor dependeria de "O Carnaval". O livro foi bem recebido, ganhou prêmios como o mencionado e, mais importante, resistia à minha própria releitura. Fui em frente...
RESENHANDO - Qual o seu estilo literário preferido?
MOACYR SCLIAR - Gosto da ficção que tenha humor e imaginação.
RESENHANDO - Entre os seus mais de 60 livros publicados, qual prefere? Porque?
MOACYR SCLIAR - Pergunta difícil de responder: é o mesmo que perguntar a um pai de que filho gosta mais (para mim não é problema: só tenho um filho). Mas gosto muito de "O Centauro no Jardim", "A Majestade do Xingu" e "A Mulher que escreveu a Bíblia". Além dos contos.
RESENHANDO - Como é produzir livros voltados para o público infantil?
MOACYR SCLIAR - Exige uma sensibilidade especial. O importante é recuperar a criança que existe dentro de cada um e dialogar com ela.
RESENHANDO - Em 31 de julho de 2003 você foi eleito, por 35 dos 36 acadêmicos com direito a voto, para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira nº 31, ocupada até março de 2003 por Geraldo França de Lima. Qual a sensação de estar entre os imortais da literatura?
MOACYR SCLIAR - O aspecto mais importante, para mim, é o fato de ser um escritor gaúcho. O RS tinha um trauma com a ABL desde que o nosso grande poeta Mario Quintana foi derrotado duas vezes em eleições. Quando me pediram que me candidatasse hesitei muito, mas não havia como recusar. Candidatei-me meio apreensivo mas o resultado final não deixou dúvidas.
RESENHANDO - Como você interpreta a palavra "imortais", muito empregada para o escritores que fazem parte da Academia Brasileira de Letras?
MOACYR SCLIAR - Não a levo muito a sério. Imortalidade é uma metáfora, não a realidade.
RESENHANDO - Qual foi o momento mais marcante na sua carreira de escritor?
MOACYR SCLIAR - Vou falar em momentos: são aqueles em que me ocorrem uma boa ideia ou quando eu termino um texto que considero satisfatório
RESENHANDO - Após o reconhecimento, o que a literatura representa na sua vida?
MOACYR SCLIAR - É uma realização pessoal e é uma forma de relação com as pessoas: ofereço-lhes o melhor que sei fazer e fico contente quando um leitor diz que gostou de um livro ou de um texto que escrevi.
RESENHANDO - Quais os escritores que lhe influenciaram na escrita? Qual deles é referência para você até hoje?
MOACYR SCLIAR - No início de minha carreira, Érico Veríssimo e Jorge Amado; depois, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Graciliano Ramos. Todos eles são referência, ainda hoje.
RESENHANDO - Entre os novos escritores, qual nome destaca? Por quê?
MOACYR SCLIAR - Não saberia dizer. Não consigo acompanhar todos os lançamentos, tenho medo de injustiças ou omissões.
Alguns títulos de Moacyr Scliar:
A estranha nação de Rafael Mendes.
A festa no castelo.
A guerra no Bom Fim.
A majestade do Xingu.
A mulher que escreveu a Bíblia.
Cavalos e obeliscos.
Cenas da vida minúscula.
Ciumento de carteirinha.
Doutor Miragem.
Eu vos abraço, milhões.
Os cavalos da República.
O ciclo das águas.
O exército de um homem só.
O tio que flutuava.
Os deuses de Raquel.
Os vendilhões do templo.
Manual da paixão solitária.
Max e os felinos.
Memórias de um aprendiz de escritor.
Mês de cães danados.
Na noite do ventre, o diamante.
No caminho dos sonhos.
Os leopardos de Kafka.
Os voluntários.
Pra você eu conto
Sonhos tropicais.
Um sonho no caroço do abacate.
Uma história farroupilha.
Uma história só pra mim.
*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter: @maryellenfsm
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