“O que acontece é que mulheres estão assumindo papéis cada vez mais masculinos e homens com a cabeça do século passado - eu me incluo nisso. Existe uma 'pororoca', um enfrentamento, entre os sexos.” - João Paulo Cuenca
Por: Helder Miranda
Colaboração: Mary Ellen Farias dos Santos
Em abril de 2011
Afinal, o que querem os homens? Descubra aqui no Resenhando.com na entrevista do escritor João Paulo Cuenca!
Um escritor e cronista carioca. Aos 33 anos, João Paulo Cuenca ostenta um currículo de encher os olhos de qualquer veterano. Já publicou pelas editoras Planeta, Agir, Companhia das Letras e, agora, lança pela Leya Brasil o roteiro da série global Afinal, O Que Querem As Mulheres?, em uma edição luxuosa. Integrante da antologia As Cem Melhores Crônicas Brasileiras, foi selecionado pela organização do festival Bogotá Capital Mundial do Livro como “um dos 39 autores mais destacados da América Latina com menos de 39 anos”.
João Paulo Cuenca começou a trajetória em um blog de diários na internet com o nome de Folhetim Bizarro. Consequentemente, iniciou o que seria, mais tarde, o esboço de seu primeiro romance Corpo Presente. Aventurou-se ao enviar um trecho de sua primeira produção para a revista eletrônica Ficções, assim, em 2003, publicou seu livro de estreia pela editora Planeta.
De 2003 a 2005, publicou crônicas semanalmente na Tribuna da Imprensa e no Jornal do Brasil, além de ser responsável por uma coluna mensal na Revista TPM entre 2004 e 2006 e ser cronista do suplemento Megazine do jornal O Globo de 2006 a 2010. Ainda em 2003, Cuenca foi palestrante convidado da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty. Ele que em 2007 foi considerado pelo festival Bogotá Capital Mundial do Livro como um dos 39 autores mais destacados da América Latina com menos de 39 anos, também participou de feiras internacionais, como a Feira do Livro de Madrid, na Espanha, Hay Festival Cartagena das Índias, na Colômbia, Feira Internacional do Livro de Lima, no Peru, Correntes D´escritas, em Portugal, Bienal do Livro do Rio de Janeiro, entre outros.
Nesta entrevista ao site cultural Resenhando.com, João Paulo Cuenca fala sobre a guerra dos sexos, o amor na modernidade, a escrita de um romance, a novela que escreveria e o papel de editores na descoberta de novos autores.
RESENHANDO - Afinal, o que querem os homens?
JOÃO PAULO CUENCA - Grande parte do tempo, adivinhar o que querem as mulheres, um ser misterioso, insondável... Mas os homens se esquecem cada vez mais dessa parte da reflexão do Freud, porque já não faz mais sentido, o desejo hoje é tão fragmentado...
RESENHANDO - Então você descobriu, afinal, o que querem as mulheres?
J.P.C. - Desde a tenra infância venho tentando saber sobre isso, mas não... nada. Na verdade, acho que mostrar as mulheres como enigmas ou esfinges é uma mistificação.
RESENHANDO - Qual é a grande diferença entre os desejos masculinos e femininos?
J.P.C. - Hoje em dia os papéis estão se misturando e ficando ainda mais confusos. O que se vê são inversões, não estou falando em “mulheres sapatonas” e “homens viados”, não é nada disso.
RESENHANDO - O que quer dizer?
J.P.C. - Acontece que as mulheres estão assumindo papéis cada vez mais masculinos e os homens com a cabeça do século passado - eu me incluo nisso. Existe uma “pororoca”, um enfrentamento, entre os sexos.
RESENHANDO - Por haver tal transformação, há alguma interferência na orientação sexual do ser humano atual?
J.P.C. - As pessoas estão cada vez mais livres para exercer os seus desejos. Nas próximas gerações, a homossexualidade tende a não ser mais um fardo de isolamento, nem haverá mais sentido para a fragmentação social, como a Parada Gay. Assim espero.
RESENHANDO - Como foi a sua relação com a literatura quando pequeno?
J.P.C. - Leio desde pequeno, frequentava bibliotecas. Eu lia muito mais aos 10 anos do que hoje em dia.
RESENHANDO - Você gosta de escrever?
J.P.C. - Não sei exatamente. Sei que gosto mais do resultado, da sensação de que criei algo. Eu gosto de perceber que consegui me comunicar. O curioso é que enquanto escrevo, não gosto. É um processo difícil.
RESENHANDO - Como foi migrar dos livros para um seriado na Globo?
J.P.C. - Foi agradável e menos solitário do que escrever um romance que, para mim, dura em média três anos, sofrendo e perseguindo uma obsessão. O roteiro foi uma encomenda para a emissora, mas o mérito é dividido com os outros roteiristas, o diretor, o iluminador... Diferentemente do romance, em que sou o cara que faz tudo.
RESENHANDO - Depois da experiência de adaptar um livro para a TV você pensa em escrever novelas?
J.P.C. - Penso em ser colaborador. Se fosse para escrever a minha, seria sobre os bastidores de uma telenovela, abordando as relações com o diretor, os atores entre si e a imprensa, que vaza todas as novidades e os mistérios dos capítulos. Isso, sim, seria divertidíssimo.
RESENHANDO - Como é escrever um romance?
J.P.C. - Começa com uma ideia e, mais do que respostas, penso em formular uma pergunta. A partir daí, tudo se desenvolve.
RESENHANDO - O título de um de seus livros é "O Único Final Feliz Para Uma História de Amor É Um Acidente". Você não acredita em finais felizes?
J.P.C. - Acredito, mas sem que para isso seja cobrada a felicidade. Isso dá ao sentimento um fardo errôneo, sendo que deve ser algo feliz, confortável. A vida não é assim. No lançamento desse livro, contratei uns “lambes-lambes” para colocar cartazes espalhados com esse título. Alguns acharam desagradável, mas no final das contas foi só uma provocação. Relações terminam o tempo todo, seja porque um não gosta mais do outro e abandona, seja porque têm o ponto final com um acidente...
RESENHANDO - Conte uma pouco da sua história. Como você foi descoberto na literatura?
J.P.C. - Comecei a escrever um blog em 1999 e consegui publicar na revista Ficções, que está meio parada, mas publica gente nova e consagrada, como Rubens Batista Figueiredo. A partir daí, as coisas aconteceram, como lançar pela editora Planeta e a participação em outras publicações literárias.
RESENHANDO - Considerando o início de sua história, você acredita que a internet seja um caminho?
J.P.C. - É, mas tem muita gente e, por isso, as pessoas ficam meio perdidas. Acho válido, mas não pode ser só isso. Uso a internet como interlocução, mas creio que é importante, talvez o primeiro passo, seja ter um conto publicado numa revista conceituada. É um filtro. Na internet, não tem editor, então pode se escrever tudo.
RESENHANDO - E a importância dos editores?
J.P.C. - Os editores, nesse caso, atuam como peneiras. E é muito mais fácil você ser lido em uma revista do que alguém chegar em um blog e descobrir um novo autor.
RESENHANDO - Você foi considerado um dos 39 autores mais destacados da América Latina com menos de 39 anos. Como foi isso?
J.P.C. - Bacana. Convivi e tive a oportunidade de ler uma geração de escritores que não conhecia. Tive uma noção muito forte do que é estar na América Latina. A referência é que, infelizmente, o Brasil não se insere nisso, não participa das coisas, como se fosse algo isolado.
Publicações de João Paulo Cuenca
Romances
Corpo presente, Planeta, 2002
O dia Mastroianni, Agir, 2007
O único final feliz para uma história de amor é um acidente, Companhia das Letras, 2010
Antologias
Cem melhores crônicas brasileiras Objetiva, 2007
Cenas da Favela Geração Editorial, 2007
Missives – Nouvelles brésilliennes contemporaines Société Littéraire, França, 2008
B39 — Antologia de cuento latinoamericano Ediciones B, Uruguai 2007
Obras traduzidas
Una giornata Mastroianni Cavalo di Fierro, Itália, 2008
O Dia Mastroianni Caminho Editorial, Portugal, 2009
O único final feliz para uma história de amor é um acidente, Caminho Editorial, Portugal, 2011
Por: Helder Miranda
Colaboração: Mary Ellen Farias dos Santos
Em abril de 2011
Afinal, o que querem os homens? Descubra aqui no Resenhando.com na entrevista do escritor João Paulo Cuenca!
Um escritor e cronista carioca. Aos 33 anos, João Paulo Cuenca ostenta um currículo de encher os olhos de qualquer veterano. Já publicou pelas editoras Planeta, Agir, Companhia das Letras e, agora, lança pela Leya Brasil o roteiro da série global Afinal, O Que Querem As Mulheres?, em uma edição luxuosa. Integrante da antologia As Cem Melhores Crônicas Brasileiras, foi selecionado pela organização do festival Bogotá Capital Mundial do Livro como “um dos 39 autores mais destacados da América Latina com menos de 39 anos”.
João Paulo Cuenca começou a trajetória em um blog de diários na internet com o nome de Folhetim Bizarro. Consequentemente, iniciou o que seria, mais tarde, o esboço de seu primeiro romance Corpo Presente. Aventurou-se ao enviar um trecho de sua primeira produção para a revista eletrônica Ficções, assim, em 2003, publicou seu livro de estreia pela editora Planeta.
De 2003 a 2005, publicou crônicas semanalmente na Tribuna da Imprensa e no Jornal do Brasil, além de ser responsável por uma coluna mensal na Revista TPM entre 2004 e 2006 e ser cronista do suplemento Megazine do jornal O Globo de 2006 a 2010. Ainda em 2003, Cuenca foi palestrante convidado da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty. Ele que em 2007 foi considerado pelo festival Bogotá Capital Mundial do Livro como um dos 39 autores mais destacados da América Latina com menos de 39 anos, também participou de feiras internacionais, como a Feira do Livro de Madrid, na Espanha, Hay Festival Cartagena das Índias, na Colômbia, Feira Internacional do Livro de Lima, no Peru, Correntes D´escritas, em Portugal, Bienal do Livro do Rio de Janeiro, entre outros.
Nesta entrevista ao site cultural Resenhando.com, João Paulo Cuenca fala sobre a guerra dos sexos, o amor na modernidade, a escrita de um romance, a novela que escreveria e o papel de editores na descoberta de novos autores.
RESENHANDO - Afinal, o que querem os homens?
JOÃO PAULO CUENCA - Grande parte do tempo, adivinhar o que querem as mulheres, um ser misterioso, insondável... Mas os homens se esquecem cada vez mais dessa parte da reflexão do Freud, porque já não faz mais sentido, o desejo hoje é tão fragmentado...
RESENHANDO - Então você descobriu, afinal, o que querem as mulheres?
J.P.C. - Desde a tenra infância venho tentando saber sobre isso, mas não... nada. Na verdade, acho que mostrar as mulheres como enigmas ou esfinges é uma mistificação.
RESENHANDO - Qual é a grande diferença entre os desejos masculinos e femininos?
J.P.C. - Hoje em dia os papéis estão se misturando e ficando ainda mais confusos. O que se vê são inversões, não estou falando em “mulheres sapatonas” e “homens viados”, não é nada disso.
RESENHANDO - O que quer dizer?
J.P.C. - Acontece que as mulheres estão assumindo papéis cada vez mais masculinos e os homens com a cabeça do século passado - eu me incluo nisso. Existe uma “pororoca”, um enfrentamento, entre os sexos.
RESENHANDO - Por haver tal transformação, há alguma interferência na orientação sexual do ser humano atual?
J.P.C. - As pessoas estão cada vez mais livres para exercer os seus desejos. Nas próximas gerações, a homossexualidade tende a não ser mais um fardo de isolamento, nem haverá mais sentido para a fragmentação social, como a Parada Gay. Assim espero.
RESENHANDO - Como foi a sua relação com a literatura quando pequeno?
J.P.C. - Leio desde pequeno, frequentava bibliotecas. Eu lia muito mais aos 10 anos do que hoje em dia.
RESENHANDO - Você gosta de escrever?
J.P.C. - Não sei exatamente. Sei que gosto mais do resultado, da sensação de que criei algo. Eu gosto de perceber que consegui me comunicar. O curioso é que enquanto escrevo, não gosto. É um processo difícil.
RESENHANDO - Como foi migrar dos livros para um seriado na Globo?
J.P.C. - Foi agradável e menos solitário do que escrever um romance que, para mim, dura em média três anos, sofrendo e perseguindo uma obsessão. O roteiro foi uma encomenda para a emissora, mas o mérito é dividido com os outros roteiristas, o diretor, o iluminador... Diferentemente do romance, em que sou o cara que faz tudo.
RESENHANDO - Depois da experiência de adaptar um livro para a TV você pensa em escrever novelas?
J.P.C. - Penso em ser colaborador. Se fosse para escrever a minha, seria sobre os bastidores de uma telenovela, abordando as relações com o diretor, os atores entre si e a imprensa, que vaza todas as novidades e os mistérios dos capítulos. Isso, sim, seria divertidíssimo.
RESENHANDO - Como é escrever um romance?
J.P.C. - Começa com uma ideia e, mais do que respostas, penso em formular uma pergunta. A partir daí, tudo se desenvolve.
RESENHANDO - O título de um de seus livros é "O Único Final Feliz Para Uma História de Amor É Um Acidente". Você não acredita em finais felizes?
J.P.C. - Acredito, mas sem que para isso seja cobrada a felicidade. Isso dá ao sentimento um fardo errôneo, sendo que deve ser algo feliz, confortável. A vida não é assim. No lançamento desse livro, contratei uns “lambes-lambes” para colocar cartazes espalhados com esse título. Alguns acharam desagradável, mas no final das contas foi só uma provocação. Relações terminam o tempo todo, seja porque um não gosta mais do outro e abandona, seja porque têm o ponto final com um acidente...
RESENHANDO - Conte uma pouco da sua história. Como você foi descoberto na literatura?
J.P.C. - Comecei a escrever um blog em 1999 e consegui publicar na revista Ficções, que está meio parada, mas publica gente nova e consagrada, como Rubens Batista Figueiredo. A partir daí, as coisas aconteceram, como lançar pela editora Planeta e a participação em outras publicações literárias.
RESENHANDO - Considerando o início de sua história, você acredita que a internet seja um caminho?
J.P.C. - É, mas tem muita gente e, por isso, as pessoas ficam meio perdidas. Acho válido, mas não pode ser só isso. Uso a internet como interlocução, mas creio que é importante, talvez o primeiro passo, seja ter um conto publicado numa revista conceituada. É um filtro. Na internet, não tem editor, então pode se escrever tudo.
RESENHANDO - E a importância dos editores?
J.P.C. - Os editores, nesse caso, atuam como peneiras. E é muito mais fácil você ser lido em uma revista do que alguém chegar em um blog e descobrir um novo autor.
RESENHANDO - Você foi considerado um dos 39 autores mais destacados da América Latina com menos de 39 anos. Como foi isso?
J.P.C. - Bacana. Convivi e tive a oportunidade de ler uma geração de escritores que não conhecia. Tive uma noção muito forte do que é estar na América Latina. A referência é que, infelizmente, o Brasil não se insere nisso, não participa das coisas, como se fosse algo isolado.
Publicações de João Paulo Cuenca
Romances
Corpo presente, Planeta, 2002
O dia Mastroianni, Agir, 2007
O único final feliz para uma história de amor é um acidente, Companhia das Letras, 2010
Antologias
Cem melhores crônicas brasileiras Objetiva, 2007
Cenas da Favela Geração Editorial, 2007
Missives – Nouvelles brésilliennes contemporaines Société Littéraire, França, 2008
B39 — Antologia de cuento latinoamericano Ediciones B, Uruguai 2007
Obras traduzidas
Una giornata Mastroianni Cavalo di Fierro, Itália, 2008
O Dia Mastroianni Caminho Editorial, Portugal, 2009
O único final feliz para uma história de amor é um acidente, Caminho Editorial, Portugal, 2011
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