terça-feira, 1 de dezembro de 2009

.: Entrevista com Caio Vecchio, diretor

“Precisamos desenvolver mecanismos que tornem o investimento no cinema brasileiro um bom negócio financeiro.” - Caio Vecchio

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em dezembro de 2009


Em entrevista ao Resenhando.com o diretor Caio Vecchio comenta detalhes sobre seu primeiro filme, Um Homem Qualquer, sobre o cenário cinematográfico e o que está lendo atualmente. Confira!


O entrevistado do R.G. de dezembro é o diretor de uma tragicomédia metropolitana que discute o que realmente importa, o que não importa e o que é relativo. Caio Vecchio, diretor de Um Homem Qualquer, seu primeiro filme, com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2010, fala ao Resenhando.com sobre o processo de produção deste lançamento nacional, além de falar da importância do cinema na sociedade e seus planos dentro do cenário cinematográfico para até 2011.

O diretor: Estudou Cinema na FAAP, em São Paulo. Iniciou a carreira em 1996, como assistente de produção do filme Cronicamente Inviável, de Sérgio Bianchi. Trabalhou como assistente de direção e produção em inúmeros curtas-metragens, documentários e séries para a TV. Dirigiu os curtas Metástase (2002), Keró (documentário, 2003) e Amor de Mula (2004). Para a TV, dirigiu o documentário Catástrofe de Caraguá (2008). Um Homem Qualquer é seu primeiro longa-metragem.


RESENHANDO – Comente um pouco sobre o filme “Um homem qualquer”. 
CAIO VECCHIO - É um filme que fala sobre o drama de um homem que se encontra perdido e sem rumo. Além disso, ele está desempregado, sua companheira terminou o relacionamento com ele e, por isso, está pensando em se matar. Nesse momento de desespero, Jonas (Eriberto Leão) questiona os dogmas religiosos que aprendeu durante a vida. Muitas coisas tidas como certas passam a virar dúvidas e ele vai em busca de respostas. 


RESENHANDO - Na sua opinião, qual foi o momento mais marcante na produção do filme? 
CAIO VECCHIO - Nas cenas em que Isy (Carlos Vereza) contracena com Jonas no abrigo para moradores de rua. No final de cada take a equipe aplaudia a atuação dos dois. Foi emocionante, mas acho que o momento mais marcante foi depois da gravação da última cena. Depois de muitas dificuldades, havíamos acabado uma etapa importante - as quatro semanas de gravação - e nos abraçamos e comemoramos juntos no bar da Rua Augusta onde gravamos as cenas de Tico (Norival Rizzo) sequestrando o gringo (Javier). 


RESENHANDO - O que o público pode esperar de "Um homem qualquer"? 
CAIO VECCHIO - Uma identificação muito grande. Acho que todos passam por momentos em que a vida parece que não esta dando certo. Momentos de grande questionamento sobre o sentido da vida. Por tratar de temas existenciais, o filme agrada a todos os públicos. O amor, a política e a religião... os caminhos para se questionar a realidade... a dificuldade de ser feliz. Acho que outro diferencial está no fato de tratar alguns questionamentos básicos à Instituição Igreja que poucas vezes são citados no cinema: a invenção do pecado, a divinização do Jesus crucificado e não do Jesus redentor, a eterna dúvida da origem do homem, o conflito do Deus vingativo do antigo testamento ("olho por olho, dente por dente") com o Deus amoroso do novo testamento.


RESENHANDO - Como foi dirigir atores brasileiros importantes como Carlos Vereza, Eriberto Leão, Nanda Costa, Pedro Neschling e Norival Rizzo? 
CAIO VECCHIO - Foi muito tranquilo... uma harmonia muito grande no set. Até hoje nós somos grandes amigos. Estava muito ansioso antes do início das filmagens. Nunca imaginei que teria atores tão talentosos e renomados. Acontece que eles gostaram do roteiro e se dispuseram a entrar nesse processo coletivo de realização, que é o cinema. Cada um com sua forma de interpretar, trouxe para o filme uma carga dramática fantástica e fez o filme criar "corpo". Mesclando essa nova safra de atores - Eriberto Leão, Nanda Costa e Pedro Neschling com atores mais experientes como Carlos Vereza e Norival Rizzo, conseguimos fazer um belo filme! 


RESENHANDO - "Um homem qualquer" é uma tragicomédia metropolitana que discute o que realmente importa, o que não importa, e o que é relativo. Como esse assunto é tratado na película? 
CAIO VECCHIO - O filme trata basicamente dessa busca por respostas, por verdades que nem sempre são absolutas, da busca de si mesmo. Mas trata desse tema com muito amor e humor, por isso se trata de uma tragicomédia. Nela os dramas são apresentados de forma leve e despretensiosa. É como se o filme desse risada dele mesmo.


RESENHANDO - Como você analisa o cenário das produções cinematográficas brasileiras dos últimos anos? 
CAIO VECCHIO - Acho que em termos de qualidade técnica houve uma melhora significativa... Temos bons profissionais e bons equipamentos. O que precisa ser desenvolvido é a indústria do cinema: uma indústria constante e sustentável. Os profissionais precisam de garantias para se dedicarem ao trabalho com mais segurança. Precisamos desenvolver mecanismos que tornem o investimento no cinema brasileiro um bom negócio financeiro. O empresário precisa ver atrativos de retorno financeiro no investimento. Não podemos depender eternamente de subsídios fiscais e os filmes que atingirem o grande público precisam começar a andar com as próprias pernas...


RESENHANDO - Tendo em vista que o Resenhando é um site cultural e publica resenhas de livros, nós queremos saber se você gosta de ler. Há alguma obra que tenha lido e gostado? Qual? Por que? 
CAIO VECCHIO - Gosto muito de ler assuntos ligados a arqueologia antiga. Pesquiso muito as descobertas recentes, trechos de manuscritos antigos e tento traçar um paralelo com a Bíblia. Não vejo a Bíblia unicamente como um livro espiritual e sim com uma coletânea de livros (como biblioteca) que contam a história da origem da humanidade. Entretanto as religiões soberanas de suas épocas escolheram os textos de acordo com seus interesses. Os canônicos foram aceitos e passados para outras gerações e os apócrifos foram tidos como farsas e excluídos da história. A partir dos textos originais (pelo menos até que sejam descobertos outros mais antigos) que foram muito alterados no decorrer do tempo eu busco interpretar e desvendar passagens do nosso longínquo passado. 


RESENHANDO - O que está lendo atualmente?
CAIO VECCHIO - Nesse momento particularmente estou lendo "A epopeia de Gilgamesh", da Editora Martins Fontes. É talvez a história mais antiga registrada na forma escrita pelos Sumérios em cita, pela primeira vez, o caso do dilúvio. Eu fico fascinado!


RESENHANDO - O que o cinema representa na sua vida? 
CAIO VECCHIO - O cinema é uma forma de atuação social. Eu gosto muito de trabalhar com histórias próprias e que tratem de questionamentos que levam a mudanças individuais e coletivas. Pelo menos é o que eu tento. Acho que precisamos nos reinventar como indivíduos e como nação. Acredito que precisamos fazer cinema para crianças, intelectuais, para os questionadores e para o grande público. Não é a toa que a indústria cinematográfica do Estados Unidos é uma das mais importantes. Assim como o cinema foi usado nas últimas décadas para vender cigarros e bebidas, jeans, carros luxuosos, justificar guerras e abusos políticos, também pode ser usado para plantar sementes de questionamentos que possam levar a construção de um país e de um mundo melhor.


RESENHANDO - Já tem planos na carreira de diretor cinematográfico? Comente. 
CAIO VECCHIO - Vou dirigir um curta metragem chamado "Gogó da Ema Futebol Clube" em fevereiro. É um projeto infanto-juvenil sobre um time de garotos de 10 a 12 anos que está na última colocação de um campeonato. Também já tenho mais dois roteiros de longas escritos. As coisas não são tão rápidas como planejamos. Caso tudo dê certo, estarei gravando meu próximo longa metragem em 2011.

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