domingo, 1 de novembro de 2009

.: Entrevista com Marco Haurélio, escritor, cordelista, poeta e professor

“Aos seis anos eu já sabia o que queria. Com essa idade, tentei escrever o primeiro cordel” - Marco Haurélio

Por: Imprensa Editora Paulus / Da Redação do Resenhando
Em novembro de 2009


Conheça melhor o escritor baiano que contribui grandemente para a divulgação da cultura popular em formato de literatura de cordel. Saiba mais de Marco Haurélio!


O escritor, cordelista, poeta, professor e pesquisador do folclore brasileiro e da literatura de cordel no Brasil, Marco Haurélio Fernandes Farias, mais conhecido pelo nome duplo, Marco Haurélio, revela em entrevista toda a magia da literatura de cordel. O representante do Brasil que contribui significativamente para a divulgação da cultura popular brasileira, é um baiano nascido em Riacho de Santana, no dia 5 de julho de 1974.

Ele que gosta de filmes como Um Lugar ao Sol, Arizona Nunca Mais, Cidadão Kane, O Colecionador, Ben-Hur e Mary Poppins, tem em sua bibliografia diversos livros, entre eles: Os Três Porquinhos em Cordel, As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Todos, Breve História da Literatura de Cordel, As Três Folhas da Serpente, Traquinagens de João Grilo, Romance do Príncipe do Reino do Limo Verde, além de seu mais recente lançamento, A Lenda do Saci-Pererê em cordel, publicado pela Editora Paulus. Saiba mais do autor de A Lenda do Saci-Pererê em cordel, Marco Haurélio!




RESENHANDO – Como surgiu a ideia de escrever o livro?
MARCO HAURÉLIO - O Saci é um personagem que fascina crianças e adultos. Ainda hoje existem relatos de pessoas que o avistaram em alguma localidade rural. Há tempos eu queria escrever algo sobre o personagem, mas não queria ficar apenas na descrição de suas características ou de suas peraltices. Daí, pesquisei em vários livros e ouvi alguns relatos da “aparição” do personagem. Recriei-o a partir de várias fontes, todas elas de tradição popular. 


RESENHANDO – O que você espera passar para as crianças com esta obra?
M.H. -As crianças encontrarão no personagem deste livro uma figura simpática, mas que não foge de sua função de atazanar as pessoas. Não quis fugir às suas características, mas também busquei evitar cair no lugar-comum. É um livro infantil que agradará também outros públicos, pois se preocupa, antes de mais nada, em contar uma história.

RESENHANDO – Na sua opinião, o que as crianças mais gostam na história do Saci?
M.H. - O Saci é um personagem que tem DNA africano, indígena e europeu. Entretanto tudo aconteceu espontaneamente, sem interferência consciente. As suas peraltices remetem aos seres do folclore europeu, como duendes e leprechauns. A única perna faz lembrar a lenda do ciápode, um ser mitológico. O gorro também é europeu. A cor e o cachimbo são referências africanas. Em alguns lugares, como no nordeste, ele é retratado como a ave peitica. Acredito que essa mistura facilita a rápida identificação, pois aproxima o personagem de culturas aparentemente tão distintas. Outra coisa a considerar é a peraltice, tão própria das crianças. Embora o Saci exagere em algumas brincadeiras, as crianças acabam se identificando com esse lado traquinas do personagem.



RESENHANDO – Qual outro personagem do folclore você escreveria um livro e por quê?
M.H. - Acho Cobra Norato uma das mais belas lendas, por misturar as tradições indígenas com as crenças europeias. Também escreveria sobre uma lenda urbana, A Moça do Cemitério, que tem forte apelo junto aos jovens, apesar de sua temática ser muito antiga.


RESENHANDO – Fale um pouco sobre a literatura de cordel no Brasil e seu interesse por esse estilo.
M.H. - Não há, em nenhum outro país, uma literatura popular com o mesmo vigor daquela praticada no Brasil. E o cordel, gênero da poesia popular, é o maior responsável por essa honraria. Entrei em contato com o cordel ainda criança, na Ponta da Serra, localidade rural do sertão baiano, no município de Riacho de Santana. Quem me apresentou à literatura de cordel foi minha avó paterna, Luzia Josefina. Ela era também grande contadora de histórias. Num armário antigo, na sala, estava o baú do tesouro: uma gaveta na qual ela guardava os folhetos e romances de cordel. Aos seis anos eu já sabia o que queria. Com essa idade, tentei escrever o primeiro cordel. Aos oito eu já fazia ABCs (cordéis mnemônicos que seguem a ordem do alfabeto), poemas diversos e vários romances de cordel, espalhados por muitos cadernos que guardo como um tesouro.  

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