sábado, 24 de janeiro de 2009

.: Entrevista com Lobão, cantor e apresentador

"Acho que o melhor sempre está por vir". -  Lobão

Por: Helder Miranda

Em janeiro de 2009


Lobão, sempre inquieto, fala sobre seu trabalho na TV e seu polêmico movimento político. Confira a entrevista!



Inquieto, aparentemente arredio, porém, no decorrer da conversa, extremamente educado e gentil, o cantor LOBÃO tem, no mínimo, dois feitos: ganhar um Grammy de disco de rock com um álbum acústico e ser contemplado com o Prêmio Comunicação e Destaque, o Oscar brasileiro dos melhores apresentadores de Rádio e TV do Brasil, após pouco tempo à frente do programa MTV Debate. 



RESENHANDO - Como foi ganhar o prêmio de melhor apresentador?
LOBÃO - Uma surpresa, afinal estou há pouco tempo nisso. Comecei apresentando um programa de debates para, mais tarde, fazer outro sobre bandas, como realmente aconteceu. Nesse meio tempo, ganhei o prêmio, que muito me envaideceu. 


RESENHANDO - Como se tornou apresentador de TV?
LOBÃO - Aceitei o convite para fazer o programa ‘Saca Rolha’, com o Marcelo Tas e a Mariana Weickert, que fez muito sucesso em Brasília e em São Paulo. Entrei muito respaldado e só dei opiniões, durante dois anos. O Cazé, da MTV, estava sobrecarregado com três programas, pediu para sair do MTV Debate e sugeriu meu nome. A emissora me convidou e eu quis experimentar. 



RESENHANDO - Apresentar esse programa, seria uma rendição à cultura pop?
LOBÃO - Eu sou cultura pop! Toquei no Bolinha, no Faustão, na Xuxa... Toco em rádio AM. Qual o problema disso? Entrei para a MTV, ganhei o prêmio e modifiquei o perfil da emissora, que agora tem programas de informação e antes eram apenas comportamentais. O paradigma da emissora mudou, o que não é pouca coisa. 


RESENHANDO - Quais os assuntos que prefere abordar?
LOBÃO - Às vezes, recebo um e-mail: ‘Pô, Lobão, faz uma coisa sobre ovni...’. Aí eu falo: ‘Legal, vamos fazer’. E às vezes têm assuntos inevitáveis, como Obama ou Tropa de Elite. Geralmente, coisas que eu tenha opinião, porque o fato de eu estar ali é um editorial de mim mesmo.


RESENHANDO - E dos programas que procuram novos talentos, o que acha?
LOBÃO - É muito pouco provável que um cara em um desses programas se firme. Fui jurado do programa “Astros” (SBT) e fiquei emocionado com um “negão” que tinha tudo para ser um grande cantor, mas a partir dali não sei o que aconteceu... Não “pega”, né? É o fim da picada alguém ensinar a ter talento e desenvolvê-lo. 


RESENHANDO - Qual a sua opinião sobre a comemoração dos 50 anos da Bossa Nova?
LOBÃO - Falta de assunto. Estamos muito afastados dos grandes centros de formação cultural do mundo. Tenho muita influência da Bossa Nova. Critico a falta de energia desse estilo musical. Bossa Nova é crônica, não fala sobre a realidade atual. Você vê Ipanema hoje e vê bala perdida, o cara ser atropelado, o funk carioca. Não há clima para andar de “mãozinha dada” na praia... Não dá para fazer serenata para a namorada que mora no 16º andar. Essas coisas mostram o anacronismo da Bossa Nova. O brasileiro se rasga de orgulho com coisas que não são tão maravilhosas assim. 



RESENHANDO - Por que você criou aquele polêmico movimento político?
LOBÃO - Eu simplesmente traduzi o momento da maioria dos políticos, a corrupção, um sem-número de provas a respeito do “mensalão”, o cara pego com dinheiro na cueca e todas as respostas eram: ‘não, não fui eu, querem me derrubar’. “Peidei... Mas Não Fui Eu” é basicamente isso. Claro que peidei, claro que fui eu!


RESENHANDO - Você ainda pensa assim?
LOBÃO - Não mudou muita coisa, né? A política continua provinciana, corrupta e jeca. Com algumas exceções, temos uma nova geração de coronéis. 


RESENHANDO - Você se candidataria?
LOBÃO - Não tenho o perfil. Imagine um cara, falando como eu, sendo político. Não tem como... Só se eu fosse outra pessoa... Com a liberdade que tenho, não poderia exercer bem esse cargo, porque um político é mediador e, eu, sou parcial. É claro que faço política, e muita, mas do meu jeito. 



RESENHANDO - Com foi ganhar o Grammy Latino?
LOBÃO - Foi surpresa, porque eu estava concorrendo como melhor disco de rock, acústico, com violão. E disputava com a volta de Os Mutantes, que fizeram turnê mundial. Estavam todos em Las Vegas para receber o prêmio, e eu fui o azarão. Realmente, é um puta disco... Tinha de ganhar mesmo!


RESENHANDO - Este disco o apresentou para a nova geração?
LOBÃO - Não, desde 1998 eu sou ícone da música independente. Quem vai ao meu show não é o quarentão nostálgico. Quando você atua, tem de estar com o novo. Pode ser até um cara mais velho, mas tem de pensar para frente. Quem pensa que o melhor passou está morto. Acho que o melhor sempre está por vir.
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