domingo, 1 de junho de 2008

.: Entrevista com Lucas Silveira, cantor da banda Fresno

"Eu diria que esse é o primeiro disco em que a gente atingiu uma sonoridade somente nossa, característica e facilmente reconhecível" - Lucas Silveira, da banda Fresno


Por: Mary Ellen Farias dos Santos e  Helder Miranda
Em junho de 2008



Entrevista com o vocalista da banda Fresno no R.G. de aniversário de cinco anos do Resenhando.com. Conheça um pouco mais do quarteto musical da nova geração. 



Ana Miranda, José Roberto Torero, Fernanda Young e uma reedição das melhores entrevistas de todos os tempos publicada no site em 2007. Estes foram os RG's de aniversário do Resenhando.com, uma honraria até então só ocupada por escritores. Ao contrário daquele papo brega de que o site "ainda ontem era um bebê e hoje dá os primeiros passos", os cinco anos são festejados com a juventude de alguém que está no auge, e promete ir ainda mais longe. Lucas Silveira, da banda Fresno, ao mesmo tempo em que arranca suspiros das garotas com seu hardcore melódico, também fala, com seu sotaque cantado de Porto Alegre - com um linguajar certinho, certinho, o que é difícil, principalmente no meio musical, sobretudo em uma banda jovem.

São muitos números que confirmam o fenômeno pop. A banda Fresno, desde 2003, ostenta o número de dois milhões de downloads de músicas via internet. Além disso, vendeu 30 mil cópias de maneira independente nos três primeiros álbuns, foi revelação na MTV em 2007, e percorreu mais de 20 estados no Brasil em shows que lotavam as cidades em que passavam. 

Com o clipe "Uma música" rolando sem parar na programação da MTV, eles já estrelaram um reallity show na emissora, o "Família MTV". Tanta comoção em torno de uma banda não rendeu a Lucas, nem aos outros integrantes do grupo Fresno - Vavo, Tavares e Bell - , egos inflados. Nesta entrevista, Lucas - que já tentou ser VJ - fala do novo disco,"Redenção" (Arsenal Music), Sandy & Júnior, com quem dividiu o vocal em uma das últimas apresentações da dupla em rede nacional, a um assunto extremamente delicado, principalmente no meio musical: o estigma de ser, ou não, Emo. 



       




RESENHANDO - Como define a banda Fresno após oito anos no meio musicial?
LUCAS - Eu diria que somos um sonho constantemente realizado. A gente foi conquistando muitas coisas pequenas que, aos poucos, nos trouxeram até aqui. Me sinto realizado profissionalmente.


RESENHANDO - Fãs por todo o Brasil. Hoje, qual o significado do sucesso?
LUCAS - É motivo de orgulho. E não é só pra mim. É um orgulho que toma conta de todo mundo que fez parte da nossa vida. Amigos, famílias, enfim, eu me sinto ainda mais feliz porque temos uma porção de gente ao nosso redor que também sente isso. 


RESENHANDO - Qual a diferença musical de Redenção em relação aos álbuns anteriores?
LUCAS - A diferença começa pela formação da banda, que é diferente da que gravou o "Ciano". Além disso, foi um disco concebido em São Paulo, com a gente morando sob o mesmo teto, vivendo uma vida totalmente diferente da que vivíamos em Porto Alegre. São muitos fatores que levaram esse disco a soar diferentemente. A gente sempre teve uma veia pop até na nossa música mais pesada. O que fizemos foi pegar esse lado pop e fazer ele aparecer mais, dando destaque para o que está sendo cantado, e também agregando outras texturas ao nosso som, com o uso de samplers e teclados.


RESENHANDO - Um quarteto que rompe com a agonia juvenil no disco Redenção, quarto álbum da banda. Como aconteceu esta transformação musical?
LUCAS - Trata-se de um amadurecimento natural. Banda que se preze não se contenta em fazer discos sempre iguais. A gente sempre procura deixar bem claro que evoluímos de um disco para o outro. Eu diria que esse é o primeiro disco em que a gente atingiu uma sonoridade somente nossa, característica e facilmente reconhecível. Foi o primeiro trabalho que nos agradou por completo, após finalizado. 


RESENHANDO - Como aconteceu a produção do novo CD? Como as músicas foram selecionadas?
LUCAS - O repertório do disco já estava 100% composto antes mesmo de a gente ter assinado com a Arsenal/Universal. A gente planejava lançar esse disco de forma independente. No entanto, com o contrato já assinado, o que fizemos foi apenas mostrar para o pessoal da gravadora as músicas, que foram totalmente aprovadas, sem ressalva alguma. Nossos interesses musicais atualmente convergem bastante com os da gravadora, por isso, não teve aquela coisa de os caras meterem os bedelhos, ou solicitarem a composição de mais músicas. Com isso em mente, tivemos quase um ano para lapidar essas músicas, que foram gravadas na maior das tranqüilidades, no estúdio Midas, com produção não só do Rick Bonadio, como do Rodrigo Castanho e do Paulo Anhaia. Optamos apenas por uma regravação, com a música "Alguém Que Te Faz Sorrir", que julgamos ser um sucesso não explorado pela banda anteriormente.


RESENHANDO - Apesar do fim da dupla Sandy e Jr., ambos continuam sendo ícones do meio artístico. Como foi cantar ou ter um membro do grupo junto deles, interpretando uma canção no VMA 2007?
LUCAS - Foi uma honra totalmente inesperada. Sandy e Jr. fazem, mesmo que indiretamente, parte da vida de muita gente. Todos os conhecem e eles têm um público enorme. Além disso, são pessoas muito legais. Essa participação angariou muitos olhares para a banda, que ainda se via num gueto segmentado da música. 


RESENHANDO - No site oficial da banda (http://www.fresnorock.com.br) diz: "Era necessário sair de vez do saco hardcore melódico (chamado por alguns de emo) que foi colocado quando estourou em 2006, com o álbum Ciano". Como surgiram os comentários que a banda era emo? Como é a reação da banda diante deste rótulo?
LUCAS - O rótulo "emo" partiu muitas vezes de nós mesmos, em idos de 2002 e 2003. No entanto, nessa época, o rótulo tratava-se somente de uma subdivisão do rock alternativo que englobava bandas sensacionais como At The Drive-In e Sunny Day Real Estate. Eu já citei muito em entrevistas, que gostávamos de bandas emo, que nosso som era emo, enfim. Mas todos nós sabemos que o conceito de emo hoje é algo totalmente distorcido, beirando a chacota. Musicalmente, hoje ele designa bandas do naipe de Simple Plan e Good Charlotte, que nada têm a ver com a essência da palavra, perdida anos atrás. Extra-musicalmente, emo é um fenômeno comportamental do século 21, uma tribo urbana que também não tem muito a ver com o que a gente quer passar. Enfim, já incomodou muito, mas hoje a gente leva numa boa, pois sabemos que esse tipo de febre passa, e a nossa vontade de tocar, não.


RESENHANDO - Quais os planos da banda para 2008?
LUCAS - A gente acabou de lançar nosso novo disco, "Redenção". Então, no momento, os planos se resumem em divulgar esse disco em todos os cantos do país, fazendo shows cada vez mais intensos. Estamos muito felizes e constantemente realizados. É isso! Valeu. 



Discografia
2008 - Redenção (Arsenal/Universal)
2007 - MTV Ao Vivo 5 Bandas de Rock (Arsenal/Universal)
2006 - Ciano (Terapia Records_
2004 - O Rio, A Cidade, A Árvore (RCT/Antídoto)
2003 - Quarto dos Livros (Sweet Salt/Antimídia)

Demo
2001 - O Acaso do Erro

DVD
2007 - MTV Ao Vivo 5 Bandas de Rock (Arsenal/Universal)

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