quinta-feira, 20 de setembro de 2007

.: Resenha de "O Grande Líder", de Fernando Jorge

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em setembro de 2007


O retorno do cenário surreal da política brasileira: A corrupção política brasileira de 1910 a 1964 envolta de uma sátira mordaz


Ao ter em mãos o livro relançado que ficou marcado como a sátira da corrupção brasileira que causou barulho nos anos 1970, isto é, "O Grande Líder - Romance satírico, bárbaro, picaresco, baseado em fatos reais, nas cenas surrealistas da vida social, cultural e política de um país latino-americano chamado Brasil", de Fernando Jorge, tem-se a sensação de emprenhar-se em um caminho polêmico, porém muito curioso e interessante, seja para alguns relembrarem ou para outros conhecerem a história nua e crua do Brasil desta época, que sempre está em seu percurso repetitivo.

O livro traz uma sátira mordaz da história política brasileira de 1910 até o golpe de 1964. Na época do seu lançamento, 1970, o biógrafo Fernando Jorge espantou a muitos. Como o fez? Simples. Trouxe para o universo de todos a história de um certo Piranha Albuquerque, político corrupto e safado, porém muito amado pelo povo. Entretanto, tal livro ainda causa furor, pois apesar de ter passado tantos anos os políticos continuam com o mesmo comportamento.

Nesta obra o autor mostra a saga de Piranha da Fonseca Albuquerque, grande nome da corrupção imperante no Brasil de 1910 até o golpe de 64. Para dar veracidade Fernando Jorge baseou-se em fatos reais – e em pessoas reais, dispensando pseudônimos, uma ousadia que gerou alguns processos. O Grande Líder é tão impecável que não deixa ninguém de fora, até mesmo nomes intocáveis da literatura brasileira, como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa.

Em entrevista publicada no site da Editora Geração Editorial (geracaobooks.locaweb.com.br/releases/?entrevista=123), o autor diz:


Geração Editorial - Como surgiu "O Grande Líder"?

Fernando Jorge: A idéia para o livro surgiu quando eu estava trabalhando como chefe da divisão técnica da biblioteca da Assembléia Legislativa de São Paulo (minha formação é em Biblioteconomia).

Ficava chocado ao ver as safadezas do Legislativo e resolvi escrever um romance satírico para mostrar minha revolta contra os políticos corruptos. A figura do Piranha da Fonseca Albuquerque foi inspirada em diversos políticos da época e em suas safadezas — políticos como Moisés Lupion, então governador do Paraná e o político corrupto mais famoso; Ademar de Barros, popularmente conhecido como “Ademar de Barros, de Berros e de Burros”, que foi o primeiro a receber o epíteto de “o que rouba, mas faz” e que foi minha maior fonte de inspiração; Jânio Quadros — de quem peguei o histrionismo (e ele nunca percebeu, tanto que chegou a me pedir que eu fosse seu biógrafo, dizendo “Fernando Jorge, se for o meu biógrafo, meus ossos descansarão em paz”); e em muitos outros protagonistas de patifarias. Além do que eu via no meu dia-a-dia na assembléia, colhi histórias de pilantragens observadas por amigos jornalistas meus. Muitos dos episódios narrados no livro, que podem parecer anedotários, são verdadeiros.


GE - Piranha Albuquerque da Fonseca ainda tem voz e vez hoje?

FJ: Meu livro permanece atualíssimo. Cheguei a essa conclusão por causa de todos os escândalos envolvendo políticos corruptos que estão aparecendo por aí. Basta citar o exemplo do governador de Roraima, preso recentemente. É a mesma coisa, ele e Piranha. O outro nome do Brasil foi e continua sendo Corruptolândia. É o que o Jânio Quadros observou sobre meu livro — que, apesar de ser satírico, ele merece reflexão por ser um grito de revolta contra a desonestidade.

Seu livro teve um sucesso estrondoso quando foi lançado, superando Jorge Amado e Lygia Fagundes Telles nas listas de mais vendidos. Por que não escreveu mais nenhum romance?

Porque me dediquei mais às biografias. Tenho paixão por elas. A de Getúlio Vargas, a de Aleijadinho, a de Santos Dumont, todas me exigiram muitos anos de pesquisa. Mas gostaria de escrever outro romance sim, ele se chamaria “O País dos Generais Linha Dura” e seria sobre a corrupção no Brasil durante a ditadura. Mas, enfim, já sou um pré-cadáver (risos).


GE - Por que Paulo Setúbal?

FJ: A vida dele é muito interessante — viveu pouco, 44 anos. Foi uma figura pitoresca, extraordinária, e vindo de uma família pobre, tornou-se o autor mais popular de seu tempo, ao lado de Monteiro Lobato. Foi um dos principais participantes da Revolução de 32, apesar de já estar tuberculoso na época. Era um grande orador, e foi deputado por dois anos. Era muito lido, muito popular, muito excêntrico. Era excelente escritor, conhecia muito a língua portuguesa, ao contrário de nosso mais popular Paulo atualmente, o Paulo Coelho. Há um grande contraste entre Paulo Setúbal e Paulo Coelho (risos). Paulo Coelho é um literaticida, um assassino da língua portuguesa. E um plagiário, reescreve lendas orientais e as publica como se fossem criações dele.


GE - Por que o sucesso dele, a seu ver?

FJ: A literatura de Paulo Coelho tem comunicação imediata com o leitor primário, desprovido de muita cultura literária, e que constitui a maioria de leitores do mundo todo. Ele tem sorte, no entanto, de os tradutores consertarem muito do estilo claudicante e dos erros gramaticais gravíssimos que ele comete, o que explica em parte por que a crítica internacional gosta tanto dele. Já publiquei um livro explicando por que Paulo Francis era um farsante; pois bem, estou com essa vontade de escrever sobre Paulo Coelho, que além de farsante é vigarista, porque se proclama capaz de fazer chover e ventar (o governo deveria contratá-lo para tentar minimizar o problema de nossas represas, não?). Parafraseando Lênin, para mim Paulo Coelho vai acabar na lata de lixo da literatura.


Fernando Jorge: escritor e jornalista. Entre suas obras de não-ficção mais conhecidas estão “Cale a Boca, Jornalista”, “Getúlio Vargas e o seu Tempo”, “Vida e Poesia de Olavo Bilac”, “As Lutas, a Glória e o Martírio de Santos-Dumont”. Dele, a Geração Editorial também publicou “Vida e Obra do Plagiário Paulo Francis” – “O Mergulho da Ignorância no Poço da Estupidez” (1996) e “A Academia do Fardão e da Confusão” (1999). “O Grande Líder” é seu primeiro e até então único romance.


Livro: O Grande Líder - Romance satírico, bárbaro, picaresco, baseado em fatos reais, nas cenas surrealistas da vida social, cultural e política de um país latino-americano chamado Brasil

Autor: Fernando Jorge

336 páginas

Ano: 2003

Editora: Geração Editorial


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