sábado, 1 de setembro de 2007

.: Entrevista com Falcão, cantor e humorista

"Quem acha que a família é algo morto e sem função é porque não teve família." - Falcão

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em setembro de 2007




Ele foge dos padrões impostos pela mídia e diz que ser diferente é o segredo da longevidade de sua carreira. Descubra o outro lado de Falcão: humor e autenticidade na hora de uma boa conversa. Confira!



Ele foge dos padrões impostos pela mídia e contraria tudo o que há no mercado fonográfico da atualidade. Qual o segredo para permanecer neste cenário tão disputado? Este é exatamente o "x" da questão: ser diferente. Afinal, qual cantor com uma longa carreira teria coragem de lançar um CD chamado "What Porra Is This?"? Somente Falcão.

O oitavo CD de Falcão, lançado em 2005, traz um misto de indignação com certos acontecimentos da vida e bom humor exacerbado. Algumas da músicas têm nomes curiosos e chamativos, como por exemplo, Pato Donald no Tucupi, Amanhã Será Tomorrow, Fome Zero-A-Zero, Quem não tem Cão não Caça, Alguma Coisa acontece no meu Bucho, A Sociedade não Pode Viver sem as Pessoas,  Ordem e Progresso, entre outras. No site MUBI -Música Brasileira Independente- (mubi.com.br), este CD está descrito da seguinte maneira: "Se um dia existiu Mamonas e Raimundos, é graças a cara de pau do gigante Falcão. What Porra Is This apresenta todas as marcas registradas de Falcão. Filosofia para as massas, esculhambação da "inteligência nacional" e bom humor. São 11 composições próprias e uma regravação da espetacular It's Not Mole Não, Severina Cooper de Acioly Neto. Para ouvir de cabo a rabo".

Com seu estilo popular, muita naturalidade e humor canta tudo o que muitos brasileiros pensam, mas falam somente para poucos. Confira a entrevista do cantor Falcão!



RESENHANDO - Falcão não é somente um artista cômico. Por esse motivo, nós da equipe Resenhando.com e seus internautas gostaríamos de conhecê-lo um pouco mais, mesmo porque sua versatilidade envolve até formação acadêmica. Como e quando foi despertado o seu lado humorístico?
FALCÃO - Na verdade, eu nunca pretendi ser um artista cômico (E acho que não sou). O caso é que eu sou cearense, e no Ceará quase todo mundo é engraçado por natureza; na minha família, por exemplo, tem material humano para produzir umas duas "Escolinha do professor Raimundo" ou umas três "Zorra total". Por isso, talvez eu tenha enveredado pelo caminho do brega mais irreverente, embora esse gênero musical tenha sempre sido usado como trilha da dor de cotovelo e da cornagem. 



RESENHANDO - O que prefere: brincar com o que acontece no cotidiano ou encarar tudo em seu modo verdadeiro? Quais tipos de assuntos gosta mais de satirizar? Por que? 
FALCÃO - Brincar e satirizar o cotidiano da seriedade, para mim é a forma mais certeira de levar assuntos "difíceis" à reflexão do povo. Desse jeito, quando eu falo de chifre, de viadagem, dos problemas das minorias ou de temas políticos e sociais, as pessoas, que num primeiro instante sentiram-se atraídas pelo humor ou pela melodia simples, acabam captando melhor a mensagem ou a crítica.


RESENHANDO - Pode falar sobre sua infância? O que mais gostava de ler e escutar? 
FALCÃO - Sempre, desde a mais tenra (gostaram do "tenra"?) idade li e escutei tudo que caiu na minha mão, sem distinção do que fosse, lia dos clássicos da literatura às bulas dos remédios da farmácia do meu pai, lá em Pereiro - CE. Aliás, a primeira imagem, que eu me lembro, do meu pai foi ele lendo um livro... Além disso ele era grande amante 
da música em geral e, por tabela, eu acabei ouvindo toda a sua discoteca que ia da ópera ao brega de Waldick Soriano. 


RESENHANDO - Atualmente, com a modernidade a família está perdendo o seu verdadeiro valor, chegando a ser vista por muitos como algo indiferente e sem função. Para você, qual a importância da família nos dias de hoje? 
FALCÃO - Quem acha que a família é algo morto e sem função é porque não teve família... A família é tão importante em todos os tempos que (digo mesmo sem ver nenhuma pesquisa), nas áreas onde não há formação familiar (principalmente nas 
nossas grandes cidades), é onde a sociedade está mais degenerada.


RESENHANDO - O que diferencia o artista Falcão dos outros? 
FALCÃO - Cada artista é um mundo à parte. Claro que há artistas que são, digamos, mais previsíveis. Eu acho que a minha diferenciação dá-se pela autenticidade, pela 
naturalidade e pela sinceridade com que eu chego até meu público.


RESENHANDO - Conhecendo os bastidores, o que pensa atualmente sobre fazer parte do meio artístico? Existe rivalidade? 
FALCÃO - Trabalhar no meio artístico é como trabalhar em qualquer outra área. É claro que como nesse meio as coisas são muito mais públicas e mais glamurosas, as vaidades, as intrigas e as invejas sejam muito mais exacerbadas. No entanto, há uma vantagem: é pouco o contato que se tem uns com os outros, o que não deixa de também ser ruim pois isso nos priva da convivência com aqueles colegas mais chegados.


RESENHANDO - Entre os seus sucessos que vivem na boca do povo, há preferência por alguma música? Qual? Por que? 
FALCÃO - É claro que dentre as minhas músicas há aquelas das quais eu sou mais admirador, algumas nem são grandes sucessos de público. Mas, as que o público mais gosta me dão grande alegria de ouvi-las ou de cantá-las justamente pela energia que o povo nos manda a cada execução. Entre elas a que eu gosto mais é "Holiday foi muito", por que homem é homem, menino é menino, macaco é macaco é macaco e 
viado é viado... 


RESENHANDO - Como você analisa o cenário da música brasileira dos últimos anos? 
FALCÃO - A música brasileira, dita MPB, é de uma grande diversidade e riqueza melódica, literária, etc... e não deve ser confundida com a música que a mídia toca. Essa música que está no rádio e na TV é, digamos assim, a parte descartável da verdadeira MPB.


RESENHANDO - Ao navergarmos em seu site, o www.sitedofalcao.com.br, encontramos coisas interessantes, como por exemplo, o horóscopo que serve para todos os dias e o teste de corno. Qual a finalidade do site, além da divulgação de seu trabalho? Quem idealizou este espaço virtual? 
FALCÃO - O nosso "saite" foi idealizado por mim e minha equipe e tem como principal finalidade levar os conhecimentos bregorianos e a filosofia "falconética" a todos os fãs e interessados. Quando eu falo em filosofia, alguém pode até achar que seja brincadeira mas, das coisas mais bestas veio todo o pensamento ocidental e oriental, afinal a besteira é a base da sabedoria. Em tempo: eu fui o segundo cantor brasileiro a ter um espaço na internet, depois do ministro Gilberto Gil.


RESENHANDO - Disponibilizar uma música para download no "Bolachografia" é uma estratégia de marketing ou apenas uma forma de divulgação de seu trabalho, forma muito utilizada pelos artistas da atualidade? 
FALCÃO - As duas coisas, mas muito mais o desejo de que o fã que não conseguiu no disco possa ter alguma coisa para se deleitar, já que a minha discografia, por motivos operacionais das gravadoras, é muito difícil de ser encontrada em lojas do ramo.


RESENHANDO - Qual o segredo para manter-se na mídia, após tantos anos de estrada, sempre apostando num formato que não é muito bem aceito pelo público? 
FALCÃO - O segredo é exatamente o formato: Como é uma coisa que não é tão comum nem tão descartável, tem um público fiel que espera cada lançamento na certeza que pode ter um produto fora do padrão da mesmice reinante no mercado. 


RESENHANDO - Quais seus planos para a carreira artística? 
FALCÃO - Continuar como um cantor diferenciado na medida que o talento e a inspiração me coadjuvarem e, num futuro bem próximo, voltar a TV com um trabalho também "catilogênico". 


RESENHANDO - Deixe uma mensagem para os internautas do Resenhando.com 
FALCÃO - A mensagem, que nunca é demais, é de que cultivemos a cultura da paz com catilogência que é a soma da "catigoria" com a loucura e a inteligência. Sem esquecer que "gentileza gera gentileza".



PING-PONG: 
Gosto de: Ver TV e ficar sem fazer nada. 
Não gosto de: Chocolate 
Meus cantores favoritos são: Zé Ramalho, Fagner, Bob Dylan, Waldick Soriano, Raimundo Soldado.
Meus escritores favoritos são: Machado de Assis, Rubens Fonseca, Audifax Rios, Edgar Alan Poe.

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