Narrativas que vencem o passar dos séculos
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em janeiro de 2006
Embora pensemos que não, os contos têm grande importância para a humanidade. Sua significação é uma grande e profunda ferramenta para a formação dos adultos de hoje e dos que farão o amanhã
Conto é uma forma de narrativa breve. Em sua origem, a narração oral era sucinta de um fato verídico ou lendário, reproduzido com fantasia. Contudo, a imaginação, a fabulação, a lenda e o anedótico constituem elementos integrantes do conteúdo do conto. Recentemente, a sétima arte, presenteou o público com o filme, Os Irmãos Grimm, uma suposição envolvente da vida de Wilhelm (Heath Ledger) e Jacob Grimm (Matt Damon), famosos escritores que colocaram no papel as lendas e contos conhecidos do século XIX. Neste quesito, a Editora Rocco, não deixou passar em branco, e deu aos seus leitores, a obra Contos dos Irmãos Grimm, os quais foram editados, selecionados e tiveram um longo e muito valioso (traz informações importantes sobre contos: valores, moral, simbolismo e a história em si) prefácio da analista junguiana Clarissa Pinkola Estés.
A publicação que impressiona pela qualidade do material de sua capa dura e das 316 páginas, de fato é um belo presente para todos, independente da idade. "Eu diria que quando se lêem histórias para crianças, nossos filhos estão aprendendo em um nível e nós em outro. Adoro imaginar adultos lendo histórias para si mesmos. Quando são ouvidos por crianças ou quando são ouvidos por outros adultos, ou por ambos, as histórias tem o efeito de reforçar e validar algo que eles já sabem, algo imenso sobre a bondade que há no fundo dos seus corações", explica a analista junguiana.
Em se tratando de conteúdo, a obra conta com o ensaio da doutora e 53 histórias acompanhadas de ilustrações do mestre vitoriano Arthur Rackham (1867-1939). Estés explica que ler e ouvir contos não é uma simples transferência de seu conteúdo para as almas dos jovens e dos que jamais envelhecem, o processo é muito mais complexo. "Ouvir e lembrar os contos têm um efeito mais semelhante ao de se ligar uma tomada interna. Uma vez ativados, os contos evocam um subtexto mais profundo na psique, uma percepção que, através do inconsciente coletivo, chegou inata, seja antes, durante ou no momento em que a primeira brisa acariciou o corpo úmido do bebê recém-nascido do ventre materno".
Tal magia pode ser revivida por meio dos contos de Branca de Neve, O Cravo, Bela Adormecida, A Gata Borralheira, O Lobo e os Sete Cabritinhos, O Sapateiro e os Anões, O Lobo e o Homem, João Esperto, As Três Línguas, Os Quatro Irmãos Habilidosos, A Raposa e o Cavalo, O Ganso de Ouro, Margarida Esperta, O Rei da Montanha de Ouro, O Doutor Sabe-Tudo, O Rapaz que não Sentia Calafrios, O Rei Barbicha, João de Ferro, Rosa Branca e Rosa Vermelha, As Viagens do Pequeno Polegar, O Exímio Caçador, O Dinheiro das Estrelas, Um-Olho, Dois-Olhos e Três-Olhos, A Mesa, o Burro e o Porrete, O Músico Maravilhoso, O Alfaiatezinho Ladino, João Porco-Espinho e A Árvore Narigueira, que enchem de encanto o leitor que busca os sentimentos mais profundos da vida.
Contudo, vale um alerta, nem todos os finais dos contos são alegres, pois a frase "... e viveram felizes para sempre" originalmente não se aplicava às irmãs malvadas e invejosas de Cinderela (ou Gata Borralheira), pois seus olhos foram arrancados por pássaros no final da história. Talvez, por esse motivo, a adaptação dos estúdios Disney e de outras publicações tenha maior aceitação e conhecimento entre o público (de todas as idades), isto é, os contos de finais terríveis sofreram uma "faxina", para não chocar aos leitores.
Não é possível afirmar que estes sejam os contos em sua forma original, pois de acordo com a doutora, a revisão drástica nos contos não é uma novidade. "Durante muito tempo determinados contos, que tiveram origem na coleção reunida por Perrault na França, não foram publicadas na coleção alemão dos Contos de Grimm, embora no passado fizessem parte integrante da obra. A razão? A França e a Alemanha estavam em guerra. Só mais recentemente, nos últimos quarenta anos, tais contos foram reintegrados nas edições subseqüentes. Muitos são realmente de primeira ordem - A Princesa e a Ervilha, A Pequena Polegar (Thumbelina), O Barba Azul - e vários outros que são fundamentais. Imaginem contos de fadas tão influentes que até foram usados para alimentar escaramuças de guerra".
Com tantas informações e detalhes sobre a origem dos contos, a nova edição de Contos dos Irmãos Grimm, é um livro obrigatório para os apreciadores do gênero. Nele há as mais belas histórias que eram contadas em família, à noite, junto ao fogo, sendo que, se o narrador e a audiência fossem boas, as histórias eram em maior ou menor escala carregadas de sexo e violência, escatologia e sátira social.
Sobre a organizadora: Clarissa é analista junguiana, com mais de 20 anos de prática, tendo sido diretora-executiva do C. G. Jung Center, em Denver. Doutora em estudos multiculturais e psicologia clínica pelo The Union Institute, ela é autora premiada por trabalhos como The wild woman archetype, sobre o papel dos instintos da natureza feminina, Warming the stone child, sobre crianças sem mãe, In the house of the ridle mother, sobre os arquétipos recorrentes em sonhos de mulheres e The radiant coat, sobre as fronteiras entre a vida e a morte.
Sobre o ilustrador: Arthur Rackham é o principal responsável pela concepção visual dos contos de fada, tal como os conhecemos hoje; com um talento ímpar garantiu que seu trabalho fosse reconhecido até hoje. Seu grande conhecimento em anatomia fez com que seus personagens humanos refletissem um verdadeiro aspecto de ossos sob pele. A isso se soma a habilidade de colorista, com profunda percepção de cores intensas, na terminologia contemporânea: escarlate, vermelhão, terra verde, azul ultramarinho. Suas versões de gigantes, ogros, bruxas, reis, rainhas, servos, entre outros personagens, são referência na concepção dos contos de fadas, compreendem uma concepção medieval e simbolizam uma sociedade com diferentes divisões destas que conhecemos hoje.
Um pouco dos autores: Wilhelm (1786-1859) e Jacob (1785-1863), filólogos e escritores alemães, irmãos que (sempre trabalharam juntos) criaram a filologia germânica e autores de inúmeros contos, baseados nas tradições de seu país, que se tornaram clássicos da literatura infantil universal. Um terceiro irmão, Ludwing, ilustrou os contos em estilo gótico.
Livro: Contos dos Irmãos Grimm
Autor: Clarissa Pinkola Estés
Ilustrações: Arthur Rackham
142 páginas
Tradução: Lia Wyler
Editora: Rocco
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em janeiro de 2006
Embora pensemos que não, os contos têm grande importância para a humanidade. Sua significação é uma grande e profunda ferramenta para a formação dos adultos de hoje e dos que farão o amanhã
Conto é uma forma de narrativa breve. Em sua origem, a narração oral era sucinta de um fato verídico ou lendário, reproduzido com fantasia. Contudo, a imaginação, a fabulação, a lenda e o anedótico constituem elementos integrantes do conteúdo do conto. Recentemente, a sétima arte, presenteou o público com o filme, Os Irmãos Grimm, uma suposição envolvente da vida de Wilhelm (Heath Ledger) e Jacob Grimm (Matt Damon), famosos escritores que colocaram no papel as lendas e contos conhecidos do século XIX. Neste quesito, a Editora Rocco, não deixou passar em branco, e deu aos seus leitores, a obra Contos dos Irmãos Grimm, os quais foram editados, selecionados e tiveram um longo e muito valioso (traz informações importantes sobre contos: valores, moral, simbolismo e a história em si) prefácio da analista junguiana Clarissa Pinkola Estés.
A publicação que impressiona pela qualidade do material de sua capa dura e das 316 páginas, de fato é um belo presente para todos, independente da idade. "Eu diria que quando se lêem histórias para crianças, nossos filhos estão aprendendo em um nível e nós em outro. Adoro imaginar adultos lendo histórias para si mesmos. Quando são ouvidos por crianças ou quando são ouvidos por outros adultos, ou por ambos, as histórias tem o efeito de reforçar e validar algo que eles já sabem, algo imenso sobre a bondade que há no fundo dos seus corações", explica a analista junguiana.
Em se tratando de conteúdo, a obra conta com o ensaio da doutora e 53 histórias acompanhadas de ilustrações do mestre vitoriano Arthur Rackham (1867-1939). Estés explica que ler e ouvir contos não é uma simples transferência de seu conteúdo para as almas dos jovens e dos que jamais envelhecem, o processo é muito mais complexo. "Ouvir e lembrar os contos têm um efeito mais semelhante ao de se ligar uma tomada interna. Uma vez ativados, os contos evocam um subtexto mais profundo na psique, uma percepção que, através do inconsciente coletivo, chegou inata, seja antes, durante ou no momento em que a primeira brisa acariciou o corpo úmido do bebê recém-nascido do ventre materno".
Tal magia pode ser revivida por meio dos contos de Branca de Neve, O Cravo, Bela Adormecida, A Gata Borralheira, O Lobo e os Sete Cabritinhos, O Sapateiro e os Anões, O Lobo e o Homem, João Esperto, As Três Línguas, Os Quatro Irmãos Habilidosos, A Raposa e o Cavalo, O Ganso de Ouro, Margarida Esperta, O Rei da Montanha de Ouro, O Doutor Sabe-Tudo, O Rapaz que não Sentia Calafrios, O Rei Barbicha, João de Ferro, Rosa Branca e Rosa Vermelha, As Viagens do Pequeno Polegar, O Exímio Caçador, O Dinheiro das Estrelas, Um-Olho, Dois-Olhos e Três-Olhos, A Mesa, o Burro e o Porrete, O Músico Maravilhoso, O Alfaiatezinho Ladino, João Porco-Espinho e A Árvore Narigueira, que enchem de encanto o leitor que busca os sentimentos mais profundos da vida.
Contudo, vale um alerta, nem todos os finais dos contos são alegres, pois a frase "... e viveram felizes para sempre" originalmente não se aplicava às irmãs malvadas e invejosas de Cinderela (ou Gata Borralheira), pois seus olhos foram arrancados por pássaros no final da história. Talvez, por esse motivo, a adaptação dos estúdios Disney e de outras publicações tenha maior aceitação e conhecimento entre o público (de todas as idades), isto é, os contos de finais terríveis sofreram uma "faxina", para não chocar aos leitores.
Não é possível afirmar que estes sejam os contos em sua forma original, pois de acordo com a doutora, a revisão drástica nos contos não é uma novidade. "Durante muito tempo determinados contos, que tiveram origem na coleção reunida por Perrault na França, não foram publicadas na coleção alemão dos Contos de Grimm, embora no passado fizessem parte integrante da obra. A razão? A França e a Alemanha estavam em guerra. Só mais recentemente, nos últimos quarenta anos, tais contos foram reintegrados nas edições subseqüentes. Muitos são realmente de primeira ordem - A Princesa e a Ervilha, A Pequena Polegar (Thumbelina), O Barba Azul - e vários outros que são fundamentais. Imaginem contos de fadas tão influentes que até foram usados para alimentar escaramuças de guerra".
Com tantas informações e detalhes sobre a origem dos contos, a nova edição de Contos dos Irmãos Grimm, é um livro obrigatório para os apreciadores do gênero. Nele há as mais belas histórias que eram contadas em família, à noite, junto ao fogo, sendo que, se o narrador e a audiência fossem boas, as histórias eram em maior ou menor escala carregadas de sexo e violência, escatologia e sátira social.
Sobre a organizadora: Clarissa é analista junguiana, com mais de 20 anos de prática, tendo sido diretora-executiva do C. G. Jung Center, em Denver. Doutora em estudos multiculturais e psicologia clínica pelo The Union Institute, ela é autora premiada por trabalhos como The wild woman archetype, sobre o papel dos instintos da natureza feminina, Warming the stone child, sobre crianças sem mãe, In the house of the ridle mother, sobre os arquétipos recorrentes em sonhos de mulheres e The radiant coat, sobre as fronteiras entre a vida e a morte.
Sobre o ilustrador: Arthur Rackham é o principal responsável pela concepção visual dos contos de fada, tal como os conhecemos hoje; com um talento ímpar garantiu que seu trabalho fosse reconhecido até hoje. Seu grande conhecimento em anatomia fez com que seus personagens humanos refletissem um verdadeiro aspecto de ossos sob pele. A isso se soma a habilidade de colorista, com profunda percepção de cores intensas, na terminologia contemporânea: escarlate, vermelhão, terra verde, azul ultramarinho. Suas versões de gigantes, ogros, bruxas, reis, rainhas, servos, entre outros personagens, são referência na concepção dos contos de fadas, compreendem uma concepção medieval e simbolizam uma sociedade com diferentes divisões destas que conhecemos hoje.
Um pouco dos autores: Wilhelm (1786-1859) e Jacob (1785-1863), filólogos e escritores alemães, irmãos que (sempre trabalharam juntos) criaram a filologia germânica e autores de inúmeros contos, baseados nas tradições de seu país, que se tornaram clássicos da literatura infantil universal. Um terceiro irmão, Ludwing, ilustrou os contos em estilo gótico.
Livro: Contos dos Irmãos Grimm
Autor: Clarissa Pinkola Estés
Ilustrações: Arthur Rackham
142 páginas
Tradução: Lia Wyler
Editora: Rocco
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