"Desde criança escrevia diários. Sempre adorei contar tudo o que acontecia para aquele amigo de papel" - Andréa Cabañas
Por: Helder Moraes Miranda e Mary Ellen Farias dos Santos
Em março de 2005
A jovem escritora Andréa Cabañas foi uma grata surpresa agradável para os internautas do Resenhando.com. Detalhe: apesar de jovem ela tem muito o que falar. Seu diferencial é que por enquanto não pode se dar ao luxo de se sustentar apenas como escreve. Ainda, porque Andréa Cabañas tem carisma e idéias de sobra para se tornar, em breve, um nome famoso na literatura.
A idéia que passa é que estamos espionando, atrás de uma porta entreaberta, a conversa entre aquela prima bonita e sua melhor amiga. Nesse diálogo, ela confessa coisas, se revela e se torna uma personagem ainda mais interessante e não menos enigmática.
"[publicar o livro...] foi a descoberta de que quero morrer escrevendo e, descobrir o que você realmente quer fazer pro resto da sua vida somente com quase trinta anos, é uma louca transformação".
RESENHANDO - Toda escrita é autobiográfica? Até que ponto a vida pode interferir na literatura, e vice e versa?
ANDRÉA - Acredito que você possa encontrar alguma coisa de cada autor em suas obras, mas não acho que seja uma regra. Num programa de TV vi que o Spielberg fez Tubarão para superar seu medo por esses animais. Fiz o mesmo em meu livro, transformando o vampiro num ser mais desejável, e não temível. Se o Spielberg superou seu medo, não sei, mas pra mim não adiantou em nada (risos)... Quando você escreve uma obra, quando você cria um personagem, você é Deus – essas foram palavras de uma amiga roteirista (Yoya Wursch) que me disse certa vez e achei ótima sua colocação! Os personagens cantam, andam, falam, se vestem, transam e choram. Gritam, morrem, se divertem, atropelam, são degolados... tudo isso baseado em fatos que você lê e vive no seu dia a dia, afinal de contas, de onde vem toda a inspiração? O vice-versa é o mais interessante. Já cheguei a sonhar várias vezes com um Lestat que imaginava, que tirava das obras de Anne Rice, assim como milhares de mulheres no mundo todo! Mas não vivi essa loucura, essa alienação de se "apaixonar e viver somente dessa fantasia" como muitas vezes acontece, e não só na literatura. Aliás, minha fantasia com o Lestat expus completamente em meu livro, diga-se de passagem...
RESENHANDO - Fernanda Young, uma das autoras de maior sucesso da nova geração, afirmou em entrevista que, se fosse feia, venderia muito mais livros, pois a beleza e a juventude faz com que ela perca a credibilidade com os leitores. Ser jovem e bonita ajuda ou atrapalha na carreira de escritora?
ANDRÉA - O Eduardo Logullo escreveu sobre mim na VOGUE em 2001, onde já começa a falar também sobre esse lance da mulher jovem: "Mulheres que gostam de escrever geralmente cursam jornalismo, aprimoram burrices e viram aquelas caricaturas que Nelson Rodrigues chamava de estagiárias de calcanhar sujo... Ainda bem que há exceções, como Andrea Cabañas..." Quando comecei a ler a matéria achei que ele ia acabar comigo! Ainda bem que sou uma exceção...Dei uma entrevista pra uma TV e a apresentadora disse "nossa, mas você é tão jovem, né, escrevendo assim..." Dei aquele sorriso amarelo, afinal de contas, fiquei meio passada com esse comentário e até sem graça de poder ter passado isso paras as câmeras (risos)! Gostaria mesmo era de ter perguntado: por quê? Precisamos (nós, mulheres) ter mais de 50 pra saber escrever? Infelizmente, acho que existe um pouco disso. Assim como o mito de toda loira ser burra, alguém jovem e bonita não pode ter cabeça o suficiente pra escrever uma obra. Hummmm... será que por isso não vendi meio milhão de exemplares???!! Mas não acredito que isso (a beleza e a jovialidade) sejam questões de atrapalhar ou não a carreira de um/a escritor/a. Acredito mais nos quesitos falta de sorte, falta de grana, falta de quem indica... e falta de ânimo para ler uma obra de um autor novo! Tenho certeza de que muitos autores irão concordar comigo nesse ponto. Tantos lugares que você manda sua obra para que eles façam uma resenha e nem retorno! Acho isso péssimo e isso é o que "nos bloqueia".
RESENHANDO - Fale sobre o livro que escreveu.
ANDRÉA - Esse livro foi uma viagem, uma viagem bem louca, principalmente porque tenho pavor de vampiros, mas quando conheci Lestat de Lioncourt, tive uma outra visão desses imortais. Posso dizer que a autora (Anne Rice) me fez enxergar o vampiro como um ser extremamente sexual. No livro, Nina se liberta; ela encontra no vampiro a válvula de escape para o seu prazer. Talesien desperta na personagem desejos nunca sentidos antes. Ao mesmo tempo ela conhece um homem tão fascinante quanto seu vampiro que também mexe com seus sentidos. E aí começa a viagem: o que é e o que não é real? Qual dos dois é realmente um vampiro? Diferente de alguns autores brasileiros que também escrevem sobre o tema, tentei dar outra visão dos vampiros.
RESENHANDO - "Sob o Véu da Cólera" é uma publicação independente?
ANDRÉA - Não. O que aconteceu foi que um amigo roteirista soube que eu tinha um material em mãos e ele me indicou a Editora Scortecci, que era de um amigo dele e entrei em contato. Tomei coragem e levei minha obra, coisa difícil isso, ter coragem para publicar uma coisa que até então, era só sua. Ele acreditou na história, não mexeu em nada do texto e propôs um acordo. Posso dizer nesse aspecto que tive sorte, pois ele acreditou mesmo no livro. Isso para mim, foi uma espécie de consagração, pois todo mundo me questionava: nossa, ele não mexeu em nada no texto?! Não. Hoje sou muito grata ao João Scortecci pela força e sei que poderei contar com ele de olhos fechados para futuros trabalhos.
RESENHANDO - Você parece ser muito ligada a temas fantásticos. Qual é a sua relação com o RPG?
ANDRÉA - Nenhuma, aliás, o que é RPG? Brincadeira... Quando o Adriano – do Adorável Noite – me chamou para uma entrevista em seu site, percebi a loucura de tudo isso, ou melhor, o envolvimento, o fascínio e o interesse das pessoas por esse tipo de jogo que, confesso, não conhecia. E esse fascínio não é somente pelo jogo, vamos combinar, mas também pelo mundo dos vampiros. Um mundo que eu não tinha noção que existisse. Mas esse tema (vampiros) é um trauma / medo que carrego desde a infância, nada mais. Gostar de bruxas, espíritos e gatos pretos (risos) são influências dos autores que mais leio mesmo!
RESENHANDO - Como e quando começou a escrever? O que escrevia? Por que?
ANDRÉA - Desde criança escrevia diários. Sempre adorei contar tudo o que acontecia para aquele "amigo de papel" que eu sabia que nunca iria contar meus segredos pra ninguém. Só que isso não ficou só na infância, até hoje os escrevo. Para mim, serve como terapia. Aliás, escrevendo muito e tudo o que sinto - todas as tristezas, dores, raiva , alegria e felicidade - me conheço cada vez mais, aprendo a não cometer os mesmos erros e consigo (às vezes) me defender melhor em determinadas situações. É um ciclo. O que você passa hoje, você já passou algo semelhante anos atrás. E você se encontra. Mesmo. Talvez por isso não precise fazer terapia hoje em dia (risos). Escrever para mim sempre foi um desabafo, além de me expressar melhor escrevendo em determinadas situações. Infelizmente, alguns diários se perderam; outros, joguei fora por causa de um namorado ciumento. Atualmente, tenho guardado diários desde 1993 e, futuramente, quero dar para os meus filhos, netos e bisnetos lerem. Já imaginou meus netos lendo e perguntando: essa louca era minha avó!!?? E foi "praticando" em meus diários que desenvolvi o que hoje sei e adoro fazer: escrever.
RESENHANDO - Você lia muito quando era criança?
ANDRÉA - Não, eu não tinha o hábito, mas lembro-me de alguns livros que li quando estava no colégio e um dos que mais me marcaram foi O Mistério do Cinco Estrelas, de autoria do escritor Marcos Rey. Já ouviu falar??? Acho que os professores que tive nunca incentivaram do jeito que deveriam incentivar a criançada a ler. Sempre achei literatura uma coisa chata. Quando criança, claro. Hoje, quando entro em uma livraria, meus olhos brilham e meus dedos coçam!
RESENHANDO - O que representa a literatura em sua vida?
ANDRÉA - Hoje em dia, tudo! Adoro ler, apesar de ter criado o hábito bem tarde... foi quando eu tinha uns 20 anos e assisti ao filme Henry e June, que contava um trecho da vida de Henry Miller. A partir daí, comecei a comprar seus livros para conhecer melhor o autor e me apaixonei pelo modo como escreve. Ao mesmo tempo fui "descobrindo" o Marcelo Rubens Paiva, Edgar Alan Poe e outros autores e, quando "encontrei" Anne Rice, percebi que não conseguia ficar dois meses sem ler um livro.
RESENHANDO - Qual a sua opinião sobre a importância que, hoje em dia, o livro exerce sobre a população?
ANDRÉA - A literatura te abre a cabeça, dá asas à imaginação e permite que você se comunique com as pessoas, acho que é isso. Se as pessoas lessem mais livros e vissem menos novelas, Big Brothers e blá-blá-blá, acredito que seriam menos alienadas. Por exemplo, num jantar com uns amigos, alguém soltou a pérola "você viu o que aconteceu com o Caetano?". Na hora perguntei: "Caetano Veloso"?, e a resposta: "não, o Caetano do Big Brother. É uma lástima esse tipo de comentário vir à tona num jantar entre amigos. Dizer que uma pessoa que lê muitos livros é uma pessoa extremamente culta, acho que não é por aí, mas acho que os livros fazem você perceber coisas que antes, talvez, você não dava atenção. Não sei se você vai concordar, mas acho que você fica mais esperto, mais "inteligente", entende? Os livros fazem você conhecer culturas diferentes, os livros te causam sensações e, quando um autor me faz sentir isso, ele é tudo pra mim! Quando li Os Catadores de Conchas, de Rosamunde Piltcher, comecei a prestar mais atenção nas coisas, nas flores, na sensação de prazer mesmo quando se está sozinha. Quando alguém fala desses programinhas de TV não acredito que acrescente alguma coisa na vida dessas pessoas. Deu pra entender onde eu quis chegar??
RESENHANDO - Quem você acha que são as pessoas que constituem seu público alvo? Por que?
ANDRÉA - Meu livro não é pra gente quadrara e careta, ponto. Esse tipo de gente tem que ficar longe do meu livro porque costumam trocar os papéis, confundir as coisas. Eu escrevo do jeito que falo e acredito que isso ajuda a criar certa confusão na cabeça dessas pessoas, que acabam confundindo a autora com a personagem. Uma pessoa muito querida da minha família chegou até a me perguntar abismada se eu era viciada em cocaína! Meu livro fala de prazer, do sexo sem medo, do prazer sem limites independente de ser homem ou mulher. Acredito que todos aqueles que tiverem "cabeça aberta", pessoas que saibam apreciar uma literatura erótica e não a confundam com pornografia, esse é o meu público. Será que o meu público são os "GLS" (gays, lésbicas e simpatizantes)? (risos). Quem gosta de ler uma coisa picante, vai gostar do livro. Quem gosta de dar risada, vai gostar do livro. Quem sente tesão, vai gostar do livro. Por causa de certas pessoas me questionei várias vezes se o João Ubaldo "sofreu" quando escreveu A Casa dos Budas Ditosos, por exemplo. E o Marcelo Rubens Paiva? Será que na vida real eles são tão pervertidos e loucos quanto seus personagens???
RESENHANDO - O que pensa sobre isso?
ANDRÉA - Como já disse, sofri e sofro até hoje com isso. Mas é aquela coisa, são pessoas que não têm capacidade (nem sei se essa é a melhor palavra) de separar o real da ficção. No meu caso, talvez um dos motivos dessa confusão seja por eu ter escrito tudo em primeira pessoa e por escrever exatamente como falo, daí o "vínculo" e a confusão com a personagem. Atores apanham nas ruas e recebem até ameaças de morte por causa dos personagens que estão interpretando na novela, não é verdade? Isso é coisa de gente louca ou alienada?
RESENHANDO - Para você, a evolução tecnológica está afastando as pessoas dos livros, da boa leitura?
ANDRÉA - Acho que não porque, por mais que existam meios de se fazer download de obras literárias e outras coisas mais, nada tira o prazer de você pegar um bom livro, sentar no sofá, na cama, na areia, seja onde for, e apreciar uma boa obra. Isso não tem preço... e nem Mastercard paga.
RESENHANDO - Quem são seus ídolos na literatura? Sofreu ou sofre alguma influência deles?
ANDRÉA - Atualmente não tenho um ídolo específico, mas sou constantemente influenciada por vários autores. Já fui fissurada pela Anne Rice, mas a vida não é só feita de vampiros e bruxas... Porém, seu tom erótico influenciou muito em meu livro, assim como Henry Miller e até Edgar Allan Poe, embora minha obra não tenha nada de terror! Posso dizer que sou bem eclética nesse sentido. Por exemplo, depois de ler os 5 volumes de Ramsés, de Christian Jacques, escrevi um livro infantil (ainda inédito), acredita? Até Stephen King já me influenciou em uma crônica que escrevi.
RESENHANDO - Qual é o seu gênero literário predileto? Por que?
ANDRÉA - Gosto de tudo um pouco. Se existir o termo "ficção romanceada", esse é o meu predileto! Adoro viajar no tempo, adoro histórias que falam sobre sentimentos e mexem com as sensações. Adoro livros que me façam sonhar que estou naquele tempo. Às vezes é gostoso sair um pouco da realidade e viver, por alguns momentos, um outro mundo e saber que mais tarde, "você vai voltar pra ele".
RESENHANDO - Todo escritor escreve sobre relações humanas. Como você analisa o relacionamento das pessoas nos dias de hoje. Dá para comparar as relações atuais e as do passado?
ANDRÉA - Quando escrevo, analiso muito as atitudes dos que estão em minha volta, escrevo sobre coisas que vejo, coisas que vivo e até ouço das outras pessoas. Analisar o comportamento das pessoas é um pouco complexo, depende muito do que você vai escrever. Quando escrevi Sob o Véu da Cólera, quis mostrar um pouco a "frieza" das pessoas que existe hoje em dia, a falta do romantismo que a personagem procura bastante e não somente nos homens. O mundo está em constante transformação, principalmente com relação às atitudes do ser humano. O romantismo hoje é tido como coisa banal para muitos. Não sei se nos dias atuais Jorge Amado escreveria Mar Morto com o mesmo tom romântico, por exemplo. Posso estar enganada, pois quem tem um Dom, morrerá com ele independente de épocas. Não dá pra comparar épocas, depende muito do autor. O Dráuzio Varela, em Estação Carandiru, conseguiu passar um lado humano do preso que a gente não vê "do lado de fora". Mas eu posso mudar a cena rapidinho fazendo esse mesmo preso apontar um revolver na cabeça do seu filho e fazer com que você mude de opinião. É o meu ponto de vista, é como eu analiso o bandido. Outra coisa que acho importante ao falar de relacionamentos é criar a personagem e, para isso, você precisa de informações, não só para desenvolver sua personalidade, mas também sua profissão e é aí que entra a tecnologia, o mundo virtual. A Internet trouxe a biblioteca pra sua casa, as informações chegam muito mais rápido e isso é fascinante! Hoje posso escrever sobre um oncologista casado com uma bióloga, por exemplo, sem nunca ter estudado medicina. Claro que não vou deixar a pesquisa de campo de lado, mas isso é um outro assunto. Ou seja, essa questão vai bem longe...
RESENHANDO - Se pudesse voltar no tempo, reescreveria algo, achando que poderia ter feito melhor?
ANDRÉA - Sempre quando termino uma obra pode ter certeza de que ela foi refeita várias vezes e, lendo hoje novamente, continuaria reescrevendo sim. Acho que isso é natural de qualquer pessoa. Você sempre tem a sensação de que "pode ser melhor". Por exemplo, essa entrevista... quanta coisa já mudei da versão original!
RESENHANDO - Você coloca palavrões em determinados trechos do livro. Como escritora, acha que realmente há necessidade? Por que?
ANDRÉA - Essa pergunta me faz lembrar de uma coisa engraçada na minha vida, pois quando eu escrevi o livro, trabalhava com muitos homens (e a maioria carioca) e eles falavam muito palavrão, inclusive meu chefe quando brigava no set de gravações. Com certeza, isso influenciou bastante minha personagem, não? Acredito sim que o palavrão, às vezes,expressa melhor determinadas coisas. Não lembro se foi uma crônica do Mário Prata ou qual escritor, sabe aquelas coisas que você recebe por e-mail?, e este falava exatamente da colocação dos palavrões na vida real. Achei extremamente engraçado, pois é verdade essa "realidade". Desculpe escrever isso aqui (pode tirar da entrevista se quiser!), mas não é do caralho alguém te pedir em casamento vendo o por do sol no alto de uma montanha na Guarda do Embaú?? É um puta visual!!! Aí vem um babaca e do nada, rouba sua bolsa no local e você diz: que porra é essa?! Entendeu minha colocação? Porém, quando você me perguntou se eu reescreveria algo de novo, acho que colocaria menos palavrões em meu livro (risos).
RESENHANDO - E quanto as cenas sensuais? Há uma necessidade do escritor em revelar traços de personalidade ou é uma estratégia para envolver o leitor?
ANDRÉA - Totalmente estratégia. Acho o máximo quando um escritor me faz sentir o que está escrevendo. Rosamunde Piltcher me fez chorar em Trancoso, acredita? E o Stephen King? Cheguei a ver o homem que ele descrevia naquele exato momento no canto do meu quarto, levando um puta susto! Quando resolvi escrever Sob o Véu... foi culpa do Henry Miller e Anne Rice. Acho o máximo você sentir tesão apenas lendo um livro e sempre imaginei como fazer isso também, como criar esse tesão (ou essa tesão??) nas pessoas. E, modéstia a parte, posso dizer que consegui esse "poder" em meu livro. Pelo menos, foi o que alguns amigos me disseram! E não somente com os trechos sensuais, mas também como os engraçados. Acho que é um Dom conseguir entreter o público dessa forma.
RESENHANDO - De onde você recebe influências?
ANDRÉA - Sou bastante influenciada pela vida real, acredite. Cada palavra solta, cada acontecimento inusitado que rola na minha presença acende uma luzinha aqui dentro e daí sai uma idéia. Atualmente estou trabalhando em duas obras: uma infantil e outra para o público adulto. Esse livro é sobre uma história real que rolou com um casal de amigos. Foi coisa de polícia mesmo e coisa que você acha que só acontece em filme. Pois é, rolou com uns amigos bem próximos e, desde então, já virou um filme na minha cabeça. Pra falar a verdade a primeira idéia era de transformá-lo em um roteiro, mas como acredito isso é mais difícil do que editar um livro, acabei mudando o objetivo. Mais alguns meses e vocês estarão lendo Nove de Julho, quem sabe??
RESENHANDO - Qual foi o impulso que faltava para que você decidisse, finalmente, lançar sua obra?
ANDRÉA - Um hecatombe, acredite! O livro estava na gaveta durante um ano e um furacão passou na minha vida mexendo com minha saúde, estado emocional, foi um horror. Quando vi a oportunidade, não a perdi. Resolvi tirar da gaveta "aquele cartão do editor" que estava também guardado e criei coragem para mandar minha obra. Não demorou 20 dias. Ele leu, gostou, acreditou. Hoje está aí pra todo mundo ler e gostar. E depois dessa revolução interna que passei, confesso que foi um "presente do céu"! Me fez até reencontrar uma pessoa muito especial e que hoje é meu marido!
RESENHANDO - Qual foi a maior mudança após ter seus livros lançados? Como foi a história de ter encontrado seu marido?
ANDRÉA - Foi todo um processo de transformação interno que começou poucos meses antes e logo após o lançamento. Primeiro, foi a descoberta de que quero morrer escrevendo e, descobrir o que você realmente quer fazer pro resto da sua vida somente com quase trinta anos, é uma louca transformação. Atualmente, não é o que me sustenta, mas acredito que um dia vai me sustentar. Quem sabe quando eu tiver 50 anos (risos)! Na seqüência, exatamente no dia do lançamento ele foi me prestigiar. Na verdade eu reencontrei um amigo, um amigo com quem já tinha tido um relacionamento 6 anos atrás, mas cada um já tinha ido pro seu canto, saca? Apesar de todo aquele buxixo, eu estava carente e desacreditada da vida (emocional, quero dizer) e ele reapareceu no momento certo. Foi como uma mágica, exatamente como o Fito Páez diz: "yo no buscava nadie y te vi". Depois ele me ligou, eu liguei, a gente se cruzou e não se desgrudou desde então. Hoje ele é meu amigo, meu namorado, meu amante e marido, além de ser sempre o primeiro a me dar força para nunca parar de escrever.
RESENHANDO - Quais as dificuldades que uma jovem escritora, como você, enfrenta?
ANDRÉA - Quem é Andréa Cabañas?? Acho que isso é o que mais pesa hoje em dia nos novos autores. Você precisa achar alguém que realmente acredite em sua obra e mandar ver na mídia, mas para isso, você precisa de algumas coisas: sorte, tempo (caso você não tenha grana) e grana (caso você não tenha tempo) pra bancar uma boa assessoria de imprensa, que custa caro. E mesmo que você consiga, às vezes não é o suficiente, porque quem é mesmo Andréa Cabañas??
RESENHANDO - E os próximos projetos?
ANDRÉA - Tenho um que é o meu maior xodó. São fábulas para mostrar pra criançada o porquê de determinados animais estarem correndo risco de extinção e, dessa forma, tentar ajudar através da literatura, algumas ONGs a continuarem com seus projetos de preservação, já que é tão difícil encontrar um patrocinador que tenha essa visão. Agora você me pergunta: literatura infantil após um romance erótico?! Pois é, olha o que meu marido fez comigo (risos). Era aniversário dele e eu estava passando por uma péssima fase financeira e sem grana nenhuma pra comprar presente pra ele. Foi quando escrevi a nossa história em forma de fábula e vou falar, ficou linda!! Até que a mãe dele leu e fez a pergunta: você nunca pensou em escrever pra crianças? Na hora me deu um clic, juntei essa descoberta com minha vontade de salvar os animais e criei esse projeto, que ainda está na gaveta esperando aquela oportunidade. Atualmente estou escrevendo outro livro, Nove de Julho, inspirado em fatos reais e na Cássia Eller, de quem sou muito fã! Gostaria que se tornasse um roteiro, mas vamos com calma... É isso. Desde que terminei de escrever Sob o Véu... não parei de escrever. Depois que experimentei o gosto de escrever um livro, quero mais é escrever, escrever, enfim, morrer como Raquel de Queiroz: escrevendo.
Por: Helder Moraes Miranda e Mary Ellen Farias dos Santos
Em março de 2005
A jovem escritora Andréa Cabañas foi uma grata surpresa agradável para os internautas do Resenhando.com. Detalhe: apesar de jovem ela tem muito o que falar. Seu diferencial é que por enquanto não pode se dar ao luxo de se sustentar apenas como escreve. Ainda, porque Andréa Cabañas tem carisma e idéias de sobra para se tornar, em breve, um nome famoso na literatura.
A idéia que passa é que estamos espionando, atrás de uma porta entreaberta, a conversa entre aquela prima bonita e sua melhor amiga. Nesse diálogo, ela confessa coisas, se revela e se torna uma personagem ainda mais interessante e não menos enigmática.
"[publicar o livro...] foi a descoberta de que quero morrer escrevendo e, descobrir o que você realmente quer fazer pro resto da sua vida somente com quase trinta anos, é uma louca transformação".
RESENHANDO - Toda escrita é autobiográfica? Até que ponto a vida pode interferir na literatura, e vice e versa?
ANDRÉA - Acredito que você possa encontrar alguma coisa de cada autor em suas obras, mas não acho que seja uma regra. Num programa de TV vi que o Spielberg fez Tubarão para superar seu medo por esses animais. Fiz o mesmo em meu livro, transformando o vampiro num ser mais desejável, e não temível. Se o Spielberg superou seu medo, não sei, mas pra mim não adiantou em nada (risos)... Quando você escreve uma obra, quando você cria um personagem, você é Deus – essas foram palavras de uma amiga roteirista (Yoya Wursch) que me disse certa vez e achei ótima sua colocação! Os personagens cantam, andam, falam, se vestem, transam e choram. Gritam, morrem, se divertem, atropelam, são degolados... tudo isso baseado em fatos que você lê e vive no seu dia a dia, afinal de contas, de onde vem toda a inspiração? O vice-versa é o mais interessante. Já cheguei a sonhar várias vezes com um Lestat que imaginava, que tirava das obras de Anne Rice, assim como milhares de mulheres no mundo todo! Mas não vivi essa loucura, essa alienação de se "apaixonar e viver somente dessa fantasia" como muitas vezes acontece, e não só na literatura. Aliás, minha fantasia com o Lestat expus completamente em meu livro, diga-se de passagem...
RESENHANDO - Fernanda Young, uma das autoras de maior sucesso da nova geração, afirmou em entrevista que, se fosse feia, venderia muito mais livros, pois a beleza e a juventude faz com que ela perca a credibilidade com os leitores. Ser jovem e bonita ajuda ou atrapalha na carreira de escritora?
ANDRÉA - O Eduardo Logullo escreveu sobre mim na VOGUE em 2001, onde já começa a falar também sobre esse lance da mulher jovem: "Mulheres que gostam de escrever geralmente cursam jornalismo, aprimoram burrices e viram aquelas caricaturas que Nelson Rodrigues chamava de estagiárias de calcanhar sujo... Ainda bem que há exceções, como Andrea Cabañas..." Quando comecei a ler a matéria achei que ele ia acabar comigo! Ainda bem que sou uma exceção...Dei uma entrevista pra uma TV e a apresentadora disse "nossa, mas você é tão jovem, né, escrevendo assim..." Dei aquele sorriso amarelo, afinal de contas, fiquei meio passada com esse comentário e até sem graça de poder ter passado isso paras as câmeras (risos)! Gostaria mesmo era de ter perguntado: por quê? Precisamos (nós, mulheres) ter mais de 50 pra saber escrever? Infelizmente, acho que existe um pouco disso. Assim como o mito de toda loira ser burra, alguém jovem e bonita não pode ter cabeça o suficiente pra escrever uma obra. Hummmm... será que por isso não vendi meio milhão de exemplares???!! Mas não acredito que isso (a beleza e a jovialidade) sejam questões de atrapalhar ou não a carreira de um/a escritor/a. Acredito mais nos quesitos falta de sorte, falta de grana, falta de quem indica... e falta de ânimo para ler uma obra de um autor novo! Tenho certeza de que muitos autores irão concordar comigo nesse ponto. Tantos lugares que você manda sua obra para que eles façam uma resenha e nem retorno! Acho isso péssimo e isso é o que "nos bloqueia".
RESENHANDO - Fale sobre o livro que escreveu.
ANDRÉA - Esse livro foi uma viagem, uma viagem bem louca, principalmente porque tenho pavor de vampiros, mas quando conheci Lestat de Lioncourt, tive uma outra visão desses imortais. Posso dizer que a autora (Anne Rice) me fez enxergar o vampiro como um ser extremamente sexual. No livro, Nina se liberta; ela encontra no vampiro a válvula de escape para o seu prazer. Talesien desperta na personagem desejos nunca sentidos antes. Ao mesmo tempo ela conhece um homem tão fascinante quanto seu vampiro que também mexe com seus sentidos. E aí começa a viagem: o que é e o que não é real? Qual dos dois é realmente um vampiro? Diferente de alguns autores brasileiros que também escrevem sobre o tema, tentei dar outra visão dos vampiros.
RESENHANDO - "Sob o Véu da Cólera" é uma publicação independente?
ANDRÉA - Não. O que aconteceu foi que um amigo roteirista soube que eu tinha um material em mãos e ele me indicou a Editora Scortecci, que era de um amigo dele e entrei em contato. Tomei coragem e levei minha obra, coisa difícil isso, ter coragem para publicar uma coisa que até então, era só sua. Ele acreditou na história, não mexeu em nada do texto e propôs um acordo. Posso dizer nesse aspecto que tive sorte, pois ele acreditou mesmo no livro. Isso para mim, foi uma espécie de consagração, pois todo mundo me questionava: nossa, ele não mexeu em nada no texto?! Não. Hoje sou muito grata ao João Scortecci pela força e sei que poderei contar com ele de olhos fechados para futuros trabalhos.
RESENHANDO - Você parece ser muito ligada a temas fantásticos. Qual é a sua relação com o RPG?
ANDRÉA - Nenhuma, aliás, o que é RPG? Brincadeira... Quando o Adriano – do Adorável Noite – me chamou para uma entrevista em seu site, percebi a loucura de tudo isso, ou melhor, o envolvimento, o fascínio e o interesse das pessoas por esse tipo de jogo que, confesso, não conhecia. E esse fascínio não é somente pelo jogo, vamos combinar, mas também pelo mundo dos vampiros. Um mundo que eu não tinha noção que existisse. Mas esse tema (vampiros) é um trauma / medo que carrego desde a infância, nada mais. Gostar de bruxas, espíritos e gatos pretos (risos) são influências dos autores que mais leio mesmo!
RESENHANDO - Como e quando começou a escrever? O que escrevia? Por que?
ANDRÉA - Desde criança escrevia diários. Sempre adorei contar tudo o que acontecia para aquele "amigo de papel" que eu sabia que nunca iria contar meus segredos pra ninguém. Só que isso não ficou só na infância, até hoje os escrevo. Para mim, serve como terapia. Aliás, escrevendo muito e tudo o que sinto - todas as tristezas, dores, raiva , alegria e felicidade - me conheço cada vez mais, aprendo a não cometer os mesmos erros e consigo (às vezes) me defender melhor em determinadas situações. É um ciclo. O que você passa hoje, você já passou algo semelhante anos atrás. E você se encontra. Mesmo. Talvez por isso não precise fazer terapia hoje em dia (risos). Escrever para mim sempre foi um desabafo, além de me expressar melhor escrevendo em determinadas situações. Infelizmente, alguns diários se perderam; outros, joguei fora por causa de um namorado ciumento. Atualmente, tenho guardado diários desde 1993 e, futuramente, quero dar para os meus filhos, netos e bisnetos lerem. Já imaginou meus netos lendo e perguntando: essa louca era minha avó!!?? E foi "praticando" em meus diários que desenvolvi o que hoje sei e adoro fazer: escrever.
RESENHANDO - Você lia muito quando era criança?
ANDRÉA - Não, eu não tinha o hábito, mas lembro-me de alguns livros que li quando estava no colégio e um dos que mais me marcaram foi O Mistério do Cinco Estrelas, de autoria do escritor Marcos Rey. Já ouviu falar??? Acho que os professores que tive nunca incentivaram do jeito que deveriam incentivar a criançada a ler. Sempre achei literatura uma coisa chata. Quando criança, claro. Hoje, quando entro em uma livraria, meus olhos brilham e meus dedos coçam!
RESENHANDO - O que representa a literatura em sua vida?
ANDRÉA - Hoje em dia, tudo! Adoro ler, apesar de ter criado o hábito bem tarde... foi quando eu tinha uns 20 anos e assisti ao filme Henry e June, que contava um trecho da vida de Henry Miller. A partir daí, comecei a comprar seus livros para conhecer melhor o autor e me apaixonei pelo modo como escreve. Ao mesmo tempo fui "descobrindo" o Marcelo Rubens Paiva, Edgar Alan Poe e outros autores e, quando "encontrei" Anne Rice, percebi que não conseguia ficar dois meses sem ler um livro.
RESENHANDO - Qual a sua opinião sobre a importância que, hoje em dia, o livro exerce sobre a população?
ANDRÉA - A literatura te abre a cabeça, dá asas à imaginação e permite que você se comunique com as pessoas, acho que é isso. Se as pessoas lessem mais livros e vissem menos novelas, Big Brothers e blá-blá-blá, acredito que seriam menos alienadas. Por exemplo, num jantar com uns amigos, alguém soltou a pérola "você viu o que aconteceu com o Caetano?". Na hora perguntei: "Caetano Veloso"?, e a resposta: "não, o Caetano do Big Brother. É uma lástima esse tipo de comentário vir à tona num jantar entre amigos. Dizer que uma pessoa que lê muitos livros é uma pessoa extremamente culta, acho que não é por aí, mas acho que os livros fazem você perceber coisas que antes, talvez, você não dava atenção. Não sei se você vai concordar, mas acho que você fica mais esperto, mais "inteligente", entende? Os livros fazem você conhecer culturas diferentes, os livros te causam sensações e, quando um autor me faz sentir isso, ele é tudo pra mim! Quando li Os Catadores de Conchas, de Rosamunde Piltcher, comecei a prestar mais atenção nas coisas, nas flores, na sensação de prazer mesmo quando se está sozinha. Quando alguém fala desses programinhas de TV não acredito que acrescente alguma coisa na vida dessas pessoas. Deu pra entender onde eu quis chegar??
RESENHANDO - Quem você acha que são as pessoas que constituem seu público alvo? Por que?
ANDRÉA - Meu livro não é pra gente quadrara e careta, ponto. Esse tipo de gente tem que ficar longe do meu livro porque costumam trocar os papéis, confundir as coisas. Eu escrevo do jeito que falo e acredito que isso ajuda a criar certa confusão na cabeça dessas pessoas, que acabam confundindo a autora com a personagem. Uma pessoa muito querida da minha família chegou até a me perguntar abismada se eu era viciada em cocaína! Meu livro fala de prazer, do sexo sem medo, do prazer sem limites independente de ser homem ou mulher. Acredito que todos aqueles que tiverem "cabeça aberta", pessoas que saibam apreciar uma literatura erótica e não a confundam com pornografia, esse é o meu público. Será que o meu público são os "GLS" (gays, lésbicas e simpatizantes)? (risos). Quem gosta de ler uma coisa picante, vai gostar do livro. Quem gosta de dar risada, vai gostar do livro. Quem sente tesão, vai gostar do livro. Por causa de certas pessoas me questionei várias vezes se o João Ubaldo "sofreu" quando escreveu A Casa dos Budas Ditosos, por exemplo. E o Marcelo Rubens Paiva? Será que na vida real eles são tão pervertidos e loucos quanto seus personagens???
RESENHANDO - O que pensa sobre isso?
ANDRÉA - Como já disse, sofri e sofro até hoje com isso. Mas é aquela coisa, são pessoas que não têm capacidade (nem sei se essa é a melhor palavra) de separar o real da ficção. No meu caso, talvez um dos motivos dessa confusão seja por eu ter escrito tudo em primeira pessoa e por escrever exatamente como falo, daí o "vínculo" e a confusão com a personagem. Atores apanham nas ruas e recebem até ameaças de morte por causa dos personagens que estão interpretando na novela, não é verdade? Isso é coisa de gente louca ou alienada?
RESENHANDO - Para você, a evolução tecnológica está afastando as pessoas dos livros, da boa leitura?
ANDRÉA - Acho que não porque, por mais que existam meios de se fazer download de obras literárias e outras coisas mais, nada tira o prazer de você pegar um bom livro, sentar no sofá, na cama, na areia, seja onde for, e apreciar uma boa obra. Isso não tem preço... e nem Mastercard paga.
RESENHANDO - Quem são seus ídolos na literatura? Sofreu ou sofre alguma influência deles?
ANDRÉA - Atualmente não tenho um ídolo específico, mas sou constantemente influenciada por vários autores. Já fui fissurada pela Anne Rice, mas a vida não é só feita de vampiros e bruxas... Porém, seu tom erótico influenciou muito em meu livro, assim como Henry Miller e até Edgar Allan Poe, embora minha obra não tenha nada de terror! Posso dizer que sou bem eclética nesse sentido. Por exemplo, depois de ler os 5 volumes de Ramsés, de Christian Jacques, escrevi um livro infantil (ainda inédito), acredita? Até Stephen King já me influenciou em uma crônica que escrevi.
RESENHANDO - Qual é o seu gênero literário predileto? Por que?
ANDRÉA - Gosto de tudo um pouco. Se existir o termo "ficção romanceada", esse é o meu predileto! Adoro viajar no tempo, adoro histórias que falam sobre sentimentos e mexem com as sensações. Adoro livros que me façam sonhar que estou naquele tempo. Às vezes é gostoso sair um pouco da realidade e viver, por alguns momentos, um outro mundo e saber que mais tarde, "você vai voltar pra ele".
RESENHANDO - Todo escritor escreve sobre relações humanas. Como você analisa o relacionamento das pessoas nos dias de hoje. Dá para comparar as relações atuais e as do passado?
ANDRÉA - Quando escrevo, analiso muito as atitudes dos que estão em minha volta, escrevo sobre coisas que vejo, coisas que vivo e até ouço das outras pessoas. Analisar o comportamento das pessoas é um pouco complexo, depende muito do que você vai escrever. Quando escrevi Sob o Véu da Cólera, quis mostrar um pouco a "frieza" das pessoas que existe hoje em dia, a falta do romantismo que a personagem procura bastante e não somente nos homens. O mundo está em constante transformação, principalmente com relação às atitudes do ser humano. O romantismo hoje é tido como coisa banal para muitos. Não sei se nos dias atuais Jorge Amado escreveria Mar Morto com o mesmo tom romântico, por exemplo. Posso estar enganada, pois quem tem um Dom, morrerá com ele independente de épocas. Não dá pra comparar épocas, depende muito do autor. O Dráuzio Varela, em Estação Carandiru, conseguiu passar um lado humano do preso que a gente não vê "do lado de fora". Mas eu posso mudar a cena rapidinho fazendo esse mesmo preso apontar um revolver na cabeça do seu filho e fazer com que você mude de opinião. É o meu ponto de vista, é como eu analiso o bandido. Outra coisa que acho importante ao falar de relacionamentos é criar a personagem e, para isso, você precisa de informações, não só para desenvolver sua personalidade, mas também sua profissão e é aí que entra a tecnologia, o mundo virtual. A Internet trouxe a biblioteca pra sua casa, as informações chegam muito mais rápido e isso é fascinante! Hoje posso escrever sobre um oncologista casado com uma bióloga, por exemplo, sem nunca ter estudado medicina. Claro que não vou deixar a pesquisa de campo de lado, mas isso é um outro assunto. Ou seja, essa questão vai bem longe...
RESENHANDO - Se pudesse voltar no tempo, reescreveria algo, achando que poderia ter feito melhor?
ANDRÉA - Sempre quando termino uma obra pode ter certeza de que ela foi refeita várias vezes e, lendo hoje novamente, continuaria reescrevendo sim. Acho que isso é natural de qualquer pessoa. Você sempre tem a sensação de que "pode ser melhor". Por exemplo, essa entrevista... quanta coisa já mudei da versão original!
RESENHANDO - Você coloca palavrões em determinados trechos do livro. Como escritora, acha que realmente há necessidade? Por que?
ANDRÉA - Essa pergunta me faz lembrar de uma coisa engraçada na minha vida, pois quando eu escrevi o livro, trabalhava com muitos homens (e a maioria carioca) e eles falavam muito palavrão, inclusive meu chefe quando brigava no set de gravações. Com certeza, isso influenciou bastante minha personagem, não? Acredito sim que o palavrão, às vezes,expressa melhor determinadas coisas. Não lembro se foi uma crônica do Mário Prata ou qual escritor, sabe aquelas coisas que você recebe por e-mail?, e este falava exatamente da colocação dos palavrões na vida real. Achei extremamente engraçado, pois é verdade essa "realidade". Desculpe escrever isso aqui (pode tirar da entrevista se quiser!), mas não é do caralho alguém te pedir em casamento vendo o por do sol no alto de uma montanha na Guarda do Embaú?? É um puta visual!!! Aí vem um babaca e do nada, rouba sua bolsa no local e você diz: que porra é essa?! Entendeu minha colocação? Porém, quando você me perguntou se eu reescreveria algo de novo, acho que colocaria menos palavrões em meu livro (risos).
RESENHANDO - E quanto as cenas sensuais? Há uma necessidade do escritor em revelar traços de personalidade ou é uma estratégia para envolver o leitor?
ANDRÉA - Totalmente estratégia. Acho o máximo quando um escritor me faz sentir o que está escrevendo. Rosamunde Piltcher me fez chorar em Trancoso, acredita? E o Stephen King? Cheguei a ver o homem que ele descrevia naquele exato momento no canto do meu quarto, levando um puta susto! Quando resolvi escrever Sob o Véu... foi culpa do Henry Miller e Anne Rice. Acho o máximo você sentir tesão apenas lendo um livro e sempre imaginei como fazer isso também, como criar esse tesão (ou essa tesão??) nas pessoas. E, modéstia a parte, posso dizer que consegui esse "poder" em meu livro. Pelo menos, foi o que alguns amigos me disseram! E não somente com os trechos sensuais, mas também como os engraçados. Acho que é um Dom conseguir entreter o público dessa forma.
RESENHANDO - De onde você recebe influências?
ANDRÉA - Sou bastante influenciada pela vida real, acredite. Cada palavra solta, cada acontecimento inusitado que rola na minha presença acende uma luzinha aqui dentro e daí sai uma idéia. Atualmente estou trabalhando em duas obras: uma infantil e outra para o público adulto. Esse livro é sobre uma história real que rolou com um casal de amigos. Foi coisa de polícia mesmo e coisa que você acha que só acontece em filme. Pois é, rolou com uns amigos bem próximos e, desde então, já virou um filme na minha cabeça. Pra falar a verdade a primeira idéia era de transformá-lo em um roteiro, mas como acredito isso é mais difícil do que editar um livro, acabei mudando o objetivo. Mais alguns meses e vocês estarão lendo Nove de Julho, quem sabe??
RESENHANDO - Qual foi o impulso que faltava para que você decidisse, finalmente, lançar sua obra?
ANDRÉA - Um hecatombe, acredite! O livro estava na gaveta durante um ano e um furacão passou na minha vida mexendo com minha saúde, estado emocional, foi um horror. Quando vi a oportunidade, não a perdi. Resolvi tirar da gaveta "aquele cartão do editor" que estava também guardado e criei coragem para mandar minha obra. Não demorou 20 dias. Ele leu, gostou, acreditou. Hoje está aí pra todo mundo ler e gostar. E depois dessa revolução interna que passei, confesso que foi um "presente do céu"! Me fez até reencontrar uma pessoa muito especial e que hoje é meu marido!
RESENHANDO - Qual foi a maior mudança após ter seus livros lançados? Como foi a história de ter encontrado seu marido?
ANDRÉA - Foi todo um processo de transformação interno que começou poucos meses antes e logo após o lançamento. Primeiro, foi a descoberta de que quero morrer escrevendo e, descobrir o que você realmente quer fazer pro resto da sua vida somente com quase trinta anos, é uma louca transformação. Atualmente, não é o que me sustenta, mas acredito que um dia vai me sustentar. Quem sabe quando eu tiver 50 anos (risos)! Na seqüência, exatamente no dia do lançamento ele foi me prestigiar. Na verdade eu reencontrei um amigo, um amigo com quem já tinha tido um relacionamento 6 anos atrás, mas cada um já tinha ido pro seu canto, saca? Apesar de todo aquele buxixo, eu estava carente e desacreditada da vida (emocional, quero dizer) e ele reapareceu no momento certo. Foi como uma mágica, exatamente como o Fito Páez diz: "yo no buscava nadie y te vi". Depois ele me ligou, eu liguei, a gente se cruzou e não se desgrudou desde então. Hoje ele é meu amigo, meu namorado, meu amante e marido, além de ser sempre o primeiro a me dar força para nunca parar de escrever.
RESENHANDO - Quais as dificuldades que uma jovem escritora, como você, enfrenta?
ANDRÉA - Quem é Andréa Cabañas?? Acho que isso é o que mais pesa hoje em dia nos novos autores. Você precisa achar alguém que realmente acredite em sua obra e mandar ver na mídia, mas para isso, você precisa de algumas coisas: sorte, tempo (caso você não tenha grana) e grana (caso você não tenha tempo) pra bancar uma boa assessoria de imprensa, que custa caro. E mesmo que você consiga, às vezes não é o suficiente, porque quem é mesmo Andréa Cabañas??
RESENHANDO - E os próximos projetos?
ANDRÉA - Tenho um que é o meu maior xodó. São fábulas para mostrar pra criançada o porquê de determinados animais estarem correndo risco de extinção e, dessa forma, tentar ajudar através da literatura, algumas ONGs a continuarem com seus projetos de preservação, já que é tão difícil encontrar um patrocinador que tenha essa visão. Agora você me pergunta: literatura infantil após um romance erótico?! Pois é, olha o que meu marido fez comigo (risos). Era aniversário dele e eu estava passando por uma péssima fase financeira e sem grana nenhuma pra comprar presente pra ele. Foi quando escrevi a nossa história em forma de fábula e vou falar, ficou linda!! Até que a mãe dele leu e fez a pergunta: você nunca pensou em escrever pra crianças? Na hora me deu um clic, juntei essa descoberta com minha vontade de salvar os animais e criei esse projeto, que ainda está na gaveta esperando aquela oportunidade. Atualmente estou escrevendo outro livro, Nove de Julho, inspirado em fatos reais e na Cássia Eller, de quem sou muito fã! Gostaria que se tornasse um roteiro, mas vamos com calma... É isso. Desde que terminei de escrever Sob o Véu... não parei de escrever. Depois que experimentei o gosto de escrever um livro, quero mais é escrever, escrever, enfim, morrer como Raquel de Queiroz: escrevendo.
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