domingo, 1 de agosto de 2004

.: Entrevista com Érica Martins, cantora da banda Penélope

"Penélope charmosa é a vovozinha" - Érica Martins

Por: Helder Moraes Miranda e Rodrigo Pompeu

Em agosto de 2004



A personagem do mês é uma das mais importantes e representativas cantoras da atualidade no cenário do rock nacional. Na entrevista, Érica Martins se mostra, ora doce, ora na defensiva. 

A impressão que a cantora deixou para a redação do Resenhando.com foi a de uma pessoa extremamente profissional e verdadeira, que se torna monossilábica quando a pergunta não a agrada ou simplesmente porque, às vezes, as questões se tornam desnecessárias quando se encontra alguém que tem tanto a dizer. 

Com vocês, a menina que não levanta bandeiras, é contra qualquer tipo de preconceito e que é mulher o suficiente para ser sincera com seu estilo musical, respeitando a si mesma e, sobretudo, o que mais ama fazer: cantar. 
"Nunca quisemos levantar nenhuma bandeira, porque acreditamos que isso já seja um preconceito. Temos, sim, uma temática feminina, é óbvio. Eu e a Constança somos compositoras e vemos o mundo pela nossa ótica. 



RESENHANDO - Por que vocês resolveram gravar um CD de regravações? Como surgiu o projeto?
ÉRICA - Nós recebemos o convite da Som Livre, depois de termos participado do projeto Superfantástico - Quando Eu Era Pequeno..., lançado por eles.


RESENHANDO - A temática da banda Penélope sempre foi feminina, bem Girl-power. Algumas bandas sofrem pressões com a gravadora, para manter o estilo. Com vocês, fazem ou mesmo, ou foi o caminho natural da banda?
ÉRICA - Primeiro, nunca tivemos uma atitude de riot girl. Nunca quisemos levantar nenhuma bandeira, porque acreditamos que isso já seja um preconceito. Temos, sim, uma temática feminina, é óbvio. Eu e a Constança somos compositoras e vemos o mundo pela nossa ótica. Nunca sofremos nenhum tipo de interferência da gravadora. Quando fomos contratados pela Sony, por exemplo, tivemos total liberdade de composição, atitude... Eles "compraram" a idéia e o estilo da banda. Mais liberdade que isso, impossível! 


RESENHANDO  - Como o último CD, Rock, Meu Amor, está sendo recebido pelo público e pela crítica? E sobre a versão de Imbetween Days, vocês são fãs do Cure? Por que resolveram traduzi-la?
ÉRICA - Está sendo muito bem recebido. O mais interessante, é que chegam vários emails de pessoas que conheceram a Penélope agora - pelo Rock, meu Amor - compraram os cds anteriores e viraram fãs. Eu gravei o Inbetween Days no disco solo do "Herbert - O Som do Sim". As pessoas começaram a pedir em alguns shows e como adoramos The Cure, resolvemos fazer a nossa versão pra ela. Para liberar alguma regravação, o Robert Smith pede para ouvir as músicas e a nossa foi aprovada e liberada por ele mesmo. 


RESENHANDO - No último CD, Rock, Meu Amor, vocês fazem covers interessantes. O repertório foi escolhido por influência dos grupos antigos ou pela própria sonoridade musical? Como foi essa escolha?
ÉRICA - Achamos super interessante a idéia da Som Livre e dos produtores (Bruno Gouveia e Meu Bom) de fazermos um disco temático - tipo como o The Ventures fazia na década de 60, como o Ramones fez aravilhosamente bem no Acid Eaters e etc. Primeiro escolhemos o tema: amor no rock, trilha para casais!! Não queríamos ficar presos a época nenhuma, então partimos da década de 50 com a Celly Campello e chegamos até os dias atuais, com a própria Penélope.


RESENHANDO - Em uma das faixas do novo CD, vocês contam com a participação especialíssima do vocalista do SKank, Samuel Rosa. Como foi gravar com ele? Já havia esse flerte musical entre as bandas?
ÉRICA - Já tínhamos tocado várias vezes com o Skank e sempre pensamos em trazer isso para um disco. Quando fizemos a versão acústica para Continue Pensando Assim, achamos que ficaria lindo ter um dueto com o Samuel!


RESENHANDO - E a idéia de gravar Wander Wildner? Vocês já o conheciam do Replicantes ou foi uma coisa nova?
ÉRICA - É claro que já conhecíamos o Wander e toda a sua história. Adoramos tudo que ele faz. Acho que essa foi a primeira a ser pensada pro disco, já que tem a cara do projeto.


RESENHANDO - A maioria das gravadoras exige pelo menos um grande hit no CD, para que este seja mais fácil de ser comercializado. Um exemplo é o grupo Los Hermanos, que tem grandes músicas, até melhores que Ana Júlia, mas estourou na mídia é lembrado e por esse sucesso até hoje. Há esta interferência com a banda Penélope? Vocês se sentem prejudicados por isto?
ÉRICA - De forma alguma. Só fazemos o que queremos fazer e essa é a mais pura verdade!!! Acho que um hit só ajuda, é uma parte de você, do seu trabalho, a ponta do iceberg. Renegar isso, pra mim é burrice. 


RESENHANDO - O som de Penélope é comercial, underground ou experimental? Por que o título e como ela surgiu?
ÉRICA - Acho muita limitação, rotular bandas e artistas. Cada um é o que é. Não queremos nos enquadrar em nenhum rótulo. Cada um é único no que faz, isso é um fato e queremos que o maior número possível de pessoas conheçam o nosso som.



RESENHANDO  - Como é a relação do pessoal da Penélope com os outros grupos? Com quais bandas vocês têm laços de amizade mais estreitos?
ÉRICA - Desde o início, sempre fomos super bem recebidos por todos e fizemos muitos amigos! 


RESENHANDO - Érica, você tem a voz muito parecida com a da vocalista do Pato Fu, Fernanda Takai. Rola comparação? O que você acha disso?
ÉRICA - Acho que quem fala isso, nunca ouviu realmente Penélope. Temos timbre, estilo e forma de cantar completamente diferente. Adoro Pato Fu e a voz da Fernanda, mas a única coisa q temos em comum é fazermos rock no mesmo país. 


RESENHANDO - "A Mais Pedida", música do grupo Raimundos, que você fez participação especial, foi um sucesso estrondoso. Pode haver um repeteco? Com quem Penélope gostaria de gravar?
ÉRICA - Já fiz várias participações que amei, tanto em discos como em shows de outros artistas. Além do Raimundos, cantei com o Herbert no terceiro disco solo dele, no 80 do Biquíni, tenho uma música em parceria com o Gabriel no novo do Autoramas... Amo cantar e tenho o maior prazer em fazer isso.



RESENHANDO - Como vocês são recebidos no mundo do rock? Rola muito assédio?
ÉRICA - O assédio rola como em qualquer outro meio ou trabalho. 


RESENHANDO - Como é o processo de composição do grupo?
ÉRICA - Super variado. Todos são compositores, temos muitas parcerias juntos e composições separadas. O mais importante, é a admiração que sentimos pelo trabalho do outro. Acho o Luisão um excelente compositor e amo todas as músicas que a Constança faz! 


RESENHANDO - Entre os três CD's da banda, qual vocês consideram o melhor?
ÉRICA - Cada dia, prefiro um. Hoje estou amando o Buganvília. Tinha um tempão que eu não escutava, peguei para ouvir e relembrar o quanto é um discão!!! O Rock, Meu Amor é super divertido, disco para animar qualquer festinha!!


RESENHANDO - Como vocês analisam o cenário da música brasileira atualmente?
ÉRICA - Existem bandas maravilhosas de rock, muitas estão "escondidas" no underground. Então aconselho todos a se informarem sempre sobre o que está rolando de música, a internet é a melhor forma pra isso.


RESENHANDO - O que vocês aconselham para as bandas que estão começando?
ÉRICA - Sejam sinceras com o seu som. Tenham um estilo próprio. 


RESENHANDO - Quem são seus ídolos na música e as bandas novas que merecem destaque hoje?
ÉRICA - Sou muito fã da Wanderléia e de toda a Jovem Guarda, da Rita Lee... De bandas novas, estou ouvindo do Rio de Janeiro, o Canastra e o Nervoso em carreira solo. Em Salvador tem o Retrofoguetes, a Nancyta...


RESENHANDO - Quais as dificuldades que um grupo de Salvador, de ritmos como axé, swing e MPB, enfrentou antes de ter credibilidade para tocar pop e rock?
ÉRICA - A falta de lugares legais para tocar. Salvador vivia só em função do Axé.


RESENHANDO - Vocês foram aclamados pela crítica pelo segundo disco, Buganvília, eleito um dos cinco melhores discos do ano pelo Jornal do Brasil. O que diferencia Penélope das outras bandas?
ÉRICA - Realmente, sempre fomos muito bem recebidos pela "crítica". O que temos de diferente? Temos três meninas que realmente tocam e compõem, temos o nosso estilo próprio, somos sinceros e amamos o que fazemos. 


RESENHANDO - O release do primeiro disco, Mi Casa, Su Casa, foi feito pela escritora Fernanda Young. Como foi isso?
ÉRICA - Eu sempre adorei os livros da Fernanda e sou super fã dela! Quando pensamos em quem poderia escrever o release, só pensamos nela. Ela tem uma forma super atual, divertida de escrever e me identifico muito com tudo. 


RESENHANDO - Em relação a novos projetos? Já podem adiantar algo?
ÉRICA - Gravamos a música tema do filme "A Cartomante" que estreou em janeiro. Estamos gravando clipes novos e, para o primeiro semestre de 2004, um novo disco autoral!

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