quarta-feira, 2 de junho de 2004

.: A Bíblia como literatura, por Eduardo Caetano

Por: Eduardo Caetano
Em junho de 2004


Durante milênios, a linguagem da Bíblia desperta curiosidade e fascínio na sociedade. O livro é venerado, temido e incompreendido por cristãos de todo planeta. Já os céticos, não o consideram um livro de fé, mas celebram o fato de ser a mais bela reunião de estilos literários. A Palavra de Deus não foi escrita por Ele (lógico!). Muitas mãos redigiram a Bíblia, inspiradas pelo Pai. O intuito era registrar o monoteísmo e seu contexto histórico. Narra a caminhada do povo de Deus, iniciada pelos hebreus.

A primeira divisão é feita entre Antigo e Novo Testamento. O primeiro narra a origem do mundo e a aliança de Deus com seu povo. Já o segundo, o início do cristianismo. A Bíblia judaica não possui o Novo Testamento.

Afinal, não acreditam que Jesus seja o Messias. Por isso, devem estar quase o ano 6000. Os judeus não zeraram o calendário com o nascimento o Filho e Maria e Nazaré. Cada Testamento é subdividido em pequenos livretos, escritos por autores diferentes. O papel utilizado na época, o papiro, não possibilitava a paginação porque uma folha era colada na outra. O livro era uma espécie de rolo, por isso eram tão curtos. Os diversos textos ou livros têm os mais diferentes objetivos como formar comunidades, denunciar a exploração do Império Romano ou apresentar a pessoa de Jesus Cristo.

Moisés - A figura mais marcante do Antigo Testamento é o profeta Moisés. Líder da lei judaica e representante popular, também é autor do Pentateuco (os cinco primeiros livros bíblicos). Neles, Moisés narra a origem do homem e do mundo por meio de histórias lendárias e metáforas (no Gênesis) e a luta do povo hebreu pela terra (Êxodo).

Para o padre Waldemar Valle Martins, um dos fundadores da Universidade Católica de Santos e professor de Filosofia e Cultura Religiosa, não se deve fazer uma interpretação ao pé da letra. "Cada época oferece uma linguagem, pela qual nos manifestamos. A Bíblia trabalha com metáforas e ideologias. Na criação do mundo, Deus não contou até três e o tudo surgiu num piscar de olhos. Nem pegou seu martelinho e foi esculpindo passo a passo".

Ele esclarece que o mundo tende a um desenvolvimento natural. Desde a biosfera até o surgimento do homem. Evolução do homem à semelhança de Cristo. "Ainda estamos neste processo. O homem exprime da língua o que admite ser divino. Moisés não falaria jamais de células e átomos porque nem sequer sabia que isso existia".
Revelando a palavra de Deus (e dos homens): Em um tempo de tirania, culto ao poder e seus representantes, Cristo foi um preso político. Foi condenado e assassinado pelo sistema opressor porque fez sua opção de vida pelo povo marginalizado.

Então, cada um dos quatro evangelistas o retratou de uma forma para iniciar o registro da história das primeiras comunidades cristãs. João Evangelista, pescador e melhor amigo de Jesus, foi um dos que mais se destacou por apresentar a Boa-Nova utilizando sete milagres ou sete sinais de fé.
Os números também são simbólicos. Sete é a plenitude, o infinito, a perfeição. João também é autor do Apocalipse, o livro da Revelação, escrito durante seu exílio na Ilha de Patmus. O livro narra a história cristã e a perseguição do Império Romano de forma sensacional, quase que por códigos metafóricos. No trecho em que narra a mulher vestida de sol com uma coroa com doze estrelas, ele diz que ela é perseguida por um dragão com sete cabeças e dez chifres. A mulher representa Maria de Nazaré e a própria Igreja. Maria precisou se retirar, ir para a margem da sociedade para dar à luz. A Igreja também foi perseguida. As doze estrelas podem ser as doze tribos do Antigo Testamento ou os doze apóstolos do novo. O dragão é Roma, construída sobre sete colinas, as sete cabeças do dragão.

Traduções: Padre Waldemar recorda que a Bíblia é muito rica e diversa em mínimos conteúdos, o que torna sua leitura difícil. "É necessário estudo, envolvimento, dedicação. Sem contar as traduções pelas quais passou. Foi escrita em hebraico e aramaico. Depois, os judeus a traduziram em grego. No século IV, São Jerônimo a traduziu para o latim e, alguns séculos depois, foi traduzida pelas línguas neolatinas", finaliza.

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