quarta-feira, 17 de setembro de 2025

.: Ghibli Fest celebra 40 anos do Studio Ghibli com maratona de 14 clássicos


Entre os dias 18 de setembro a 1º de outubro, os fãs da animação japonesa terão a oportunidade de revisitar alguns dos maiores sucessos do Studio Ghibli, em uma mostra especial que celebra os 40 anos do estúdio. O evento, batizado de Ghibli Fest, reúne 14 longas-metragens que marcaram gerações, em sessões que prometem transportar o público para universos de fantasia, delicadeza e crítica social. O Cineflix Miramar, em Santos, está entre os cinemas que irá exibir os longas-metragens.

Entre os títulos que compõem a programação estão obras consagradas como "A Viagem de Chihiro", vencedor do Oscar de Melhor Animação em 2003, "Meu Amigo Totoro", um dos símbolos mais reconhecíveis da cultura pop japonesa, e "Princesa Mononoke", marco da carreira de Hayao Miyazaki por sua abordagem madura e ecológica. Filmes como "O Castelo Animado", "O Serviço de Entregas da Kiki", "Ponyo e Túmulo dos Vagalumes" também estão confirmados, formando um panorama da sensibilidade e da força criativa que tornaram o estúdio uma referência mundial.

Fundado em 1985 por Hayao Miyazaki, Isao Takahata e Toshio Suzuki, o Studio Ghibli construiu uma filmografia que alia poesia visual, personagens memoráveis e narrativas atemporais. O Ghibli Fest não só homenageia essas quatro décadas de produção, como também oferece a chance de uma nova geração conhecer os clássicos na tela grande. 

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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

.: "Cuidado com as Flores Simpáticas" terá duas apresentações no Teatro Paiol


O espetáculo "Cuidado com as Flores Simpáticas" será apresentado nos dias 18 de outubro e 15 de novembro, às 18h, no Teatro Paiol Cultural (Rua Amaral Gurgel, 164, próximo à estação Santa Cecília do metrô, em São Paulo). A montagem mergulha nas camadas mais íntimas do afeto, da raiva e do desejo, sempre sob a voz de mulheres, convidando o público a vivenciar uma experiência transmidiática em que corpos e palavras expandem os limites da fruição teatral.

Dividida em três momentos, a peça percorre diferentes faces da feminilidade. Em “Eu Sou Simpática”, a personagem vivida por Sulamita de Carvalho recusa-se a ser apenas agradável e enfrenta uma entrevista de emprego com ironia, caos e desabafo. Já em “A Mulher das Flores”, Hellen Vasconcelos interpreta uma jardineira de ex-maridos que, por trás de sua doçura, revela uma forma perturbadora de lidar com a insatisfação pessoal. O ciclo se completa em “Cuidado para não se Apaixonar”, quando duas mulheres se entregam a um diálogo intenso e íntimo, confrontando o medo de amar, a força da amizade e a coragem necessária para arriscar o coração, mesmo sem garantias.

O objetivo é rir, refletir e, ao final, se comover. O espetáculo fala de mulheres reais, intensas, absurdas e humanas, e marca também o aguardado retorno aos palcos da atriz e produtora Sulamita de Carvalho após quase dez anos de afastamento.

Com classificação indicativa de 14 anos e duração de 50 minutos, a montagem tem texto de Afonso Nilson, direção e adaptação de Victor Lazzari, que também assina cenário, figurino, iluminação e visagismo. O elenco conta com Hellen Vasconcelos e Sulamita de Carvalho, além da participação de Rafael Eduardo (Rafu) na produção e operação técnica. A fotografia e filmagem são de Diego Marfil e Kauê Vaz (Vertice). A realização é da LAHELL Produções Artísticas, com diversos apoios culturais e de produção.


Serviço
"Cuidado com as Flores Simpáticas"
Dias 18 de outubro e 15 de novembro, às 18h00, no Teatro Paiol Cultural
Rua Amaral Gurgel, 164 – São Paulo, próximo à estação Santa Cecília do metrô.
Estacionamentos conveniados: Rua Santa Isabel, 186 e 197 (R$ 20,00, carimbar ticket no teatro).

.: "Pinguim": Fernanda Baronne, voz de Cristin Milioti, celebra 1° Emmy da atriz


Na noite do último domingo, dia 14 de setembro, aconteceu a 77ª edição do Emmy Awards, considerada a maior premiação da televisão mundial desde sua criação, em 1949, pela Academia de Artes e Ciências Televisivas. Um dos grandes destaques da cerimônia foi Cristin Milioti, que conquistou seu primeiro Emmy ao vencer na categoria Melhor Atriz em Minissérie, Antologia ou Filme para TV por sua atuação como Sofia Falcone em Pinguim. A produção, derivada do universo de Batman, recebeu 24 indicações e se consolidou como um dos maiores sucessos do ano.

O momento foi marcado pela emoção. Em seu discurso, Cristin Milioti agradeceu ao elenco, à equipe e celebrou a oportunidade de interpretar Sofia, uma personagem sombria e complexa que, segundo ela, lhe trouxe enorme realização artística. Sua reação espontânea, vibrando, sorrindo e até gritando de felicidade, foi ovacionada pela plateia e rapidamente se tornou um dos momentos mais comentados da noite.

No Brasil, a conquista repercutiu de forma especial. Fernanda Baronne, dubladora com sólida carreira dando voz a estrelas como Scarlett Johansson, Charlize Theron, Jennifer Garner e Emily Blunt, é quem interpreta Sofia Falcone na versão nacional de Pinguim. Ela já havia dublado Cristin Milioti anteriormente no filme "O Lobo de Wall Street" (2013) e celebrou reencontrar a atriz em um papel tão impactante. “Dar voz à Cristin Milioti novamente, e agora em uma personagem tão multifacetada quanto Sofia, é um privilégio. Ela é intensa, imprevisível e uma verdadeira força dentro da trama. É gratificante ver o talento dela ser reconhecido no Emmy”, comenta Baronne.

Disponível na Max, "Pinguim" dá continuidade aos eventos do filme "The Batman" (2022), explorando a ascensão de Oswald Cobblepot (Colin Farrell) no submundo de Gotham. Na disputa pelo controle da cidade, Sofia Falcone surge como sua maior rival, herdando o império criminoso da família e protagonizando uma guerra de poder marcada por intrigas, violência e suspense.

O trabalho de dublagem no Brasil foi realizado pela Unidub – um estúdio Iyuno, com direção de Marco Aurélio Campos, que recebeu elogios de Baronne pela precisão e cuidado. “A direção do Marco Aurélio é sempre impecável, e isso faz toda a diferença para entregarmos o melhor ao público”, afirma a dubladora.


Sobre Fernanda Baronne 
Iniciou a carreira desde cedo, participando como dubladora em filmes ainda na infância. Seu primeiro papel de destaque ocorreu em 1991, ao dar voz à personagem Valéria na dublagem da primeira versão da novela mexicana "Carrossel", exibida pelo SBT naquele ano. A atriz, dubladora e diretora de dublagem ficou reconhecida por emprestar sua voz a diversas atrizes em filmes de renome, assim como em séries animadas de sucesso, incluindo "Kim Possible", "X-Men: Evolution" e "Digimon".

.: Arte, crime e destino se entrelaçam em novo romance de Edney Silvestre


Um dos nomes mais consagrados da literatura brasileira contemporânea, vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Romance e com obras traduzidas em sete países europeus, Edney Silvestre retorna às livrarias com "O Último Van Gogh". Neste novo romance, o autor conduz o leitor por uma narrativa eletrizante que atravessa séculos e fronteiras, aproximando o gênio atormentado da realidade brasileira.

No final do século XIX, Vincent van Gogh travava sua batalha mais intensa: contra a rejeição a sua obra revolucionária, a pobreza extrema e os fantasmas que o levariam ao trágico fim em Auvers-sur-Oise. Entre pinceladas febris e noites de tormento, Van Gogh jamais poderia imaginar que uma de suas últimas telas, dada como perdida, atravessaria o tempo para mudar o destino de um jovem em busca de sobrevivência no Brasil.

 “Minha visão sobre quem Vincent realmente foi mudou radicalmente quando vi, em 2014, a exposição Van Gogh – o suicidado pela sociedade, no Museu d’Orsay, em Paris”, lembra Edney Silvestre. “Ali percebi o gigantesco equívoco de tratar sua arte e sua morte como fruto apenas de depressão. Vincent foi ridicularizado, rejeitado, empurrado ao suicídio por uma sociedade incapaz de compreender sua sensibilidade. Ele era, antes de tudo, um ‘invisível’.”

 Esse olhar atravessa o enredo contemporâneo de "O Último Van Gogh". O jovem Igor Brown, que vive no Rio de Janeiro de 2024, sobrevive entre relações passageiras e trabalhos sexuais, sustentado pela fachada de tradutor de Libras. Sua vida se transforma quando é envolvido em uma trama perigosa: o roubo de um quadro de Van Gogh desaparecido durante a Segunda Guerra. Escondida em um apartamento de luxo no Leblon, a pintura reacende conspirações, perseguições e escolhas de vida ou morte.

A gênese desse personagem também vem de experiências pessoais do autor. “Conforme comecei a imaginar a tela desaparecida, lembrei de outros ‘invisíveis’ que conheci fazendo reportagem, por volta de 2004/2005, nas cercanias da Central do Brasil. Crianças abandonadas, perseguidas, violentadas, esquecidas, como aquelas que, tempos atrás, foram massacradas na Candelária. A partir da história desses meninos nasceu Igor Brown - o michê de Copacabana, capaz de qualquer recurso para sobreviver”, revela Silvestre.

 Ao entrelaçar as vozes de Igor e Vincent, Edney cria uma narrativa que rompe as fronteiras do tempo e do espaço. “Juntos, nessa tessitura entre marginais de séculos diferentes, surgem os dois narradores do meu novo romance”. Com sua escrita envolvente e marcada pelo olhar sensível às contradições humanas, Edney Silvestre convida os leitores a mergulhar em uma história arrebatadora que une passado e presente, arte e crime, dor e redenção." O Último Van Gogh" chega às livrarias no final de setembro e terá noite de lançamento no Rio de Janeiro.


Sobre o autor
Edney Silvestre
 nasceu em Valença, no estado do Rio de Janeiro. Jornalista de longa carreira, se destacou na cobertura dos ataques de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, para a Rede Globo quando era correspondente em Nova York. É vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura e do Jabuti. Seus livros já foram publicados em oito países. Dele, a Globo Livros publicou "Amores Improváveis", "Vidas Provisórias" e "Pequenas Vinganças".


Serviço
Lançamento do livro "O Último Van Gogh"
Terça-feira, dia 30 de setembro de 2025, às 19h00
Livraria da Travessa - Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Store 205 A - Shopping Leblon - Rio de Janeiro)

.: "O Agente Secreto" é escolhido para representar o Brasil no Oscar 2026


Longa de Kleber Mendonça Filho disputará vaga entre os indicados ao prêmio de Melhor Filme Internacional da Academia. Foto: Ricardo Stuckert/PR


O filme "O Agente Secreto", dirigido por Kleber Mendonça Filho, foi escolhido para representar o Brasil no Oscar 2026, na categoria de Melhor Filme Internacional. A decisão foi anunciada pela Comissão de Seleção da Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais (ABCAA), responsável por indicar a produção nacional que tentará uma vaga na maior premiação do cinema mundial, nesta segunda-feira, dia 15 de setembro.

O longa-metragem retrata a trajetória de um jovem recrutado pela ditadura militar brasileira como informante e espião, costurando questões históricas e políticas com elementos de suspense. Estrelado por nomes como Wagner Moura, Alice Carvalho, Tânia Maria e Carlos Francisco, o filme contou com apoio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), mecanismo gerido pelo Ministério da Cultura e pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), responsável por impulsionar o setor audiovisual brasileiro com financiamentos públicos.

A obra venceu outros títulos internacionais, incluindo o 78º Festival de Cannes e o Prêmio da Crítica, e se torna agora o principal representante do cinema brasileiro em 2026. Caso seja selecionado pela Academia de Hollywood, o longa pode disputar diretamente o Oscar de Melhor Filme Internacional.

"O Agente Secreto" no Cine Alvorada
Em agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu elenco e equipe do longa em uma sessão especial no Cine Alvorada, com presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes. O encontro marcou o reconhecimento do papel da obra não apenas como produto artístico, mas também como parte do debate sobre memória e democracia no Brasil.

Durante a exibição, Lula destacou a importância do cinema nacional na valorização da história e da identidade do país, enquanto a ministra ressaltou o investimento do Ministério da Cultura na produção audiovisual brasileira e a relevância de levar obras nacionais a palcos internacionais.

O diretor da obra, Kleber Mendonça Filho, ressaltou na ocasião o papel do cinema como porta-voz da identidade nacional. “Este filme foi feito no Brasil, com recursos brasileiros e com histórias que falam de nós. Levá-lo para Cannes e receber esse retorno do público e da crítica é uma prova de que o Brasil tem muito a dizer ao mundo através da sua arte. Estar hoje no Palácio da Alvorada, com essa recepção, reforça o quanto o cinema pode ser também um ato político e cultural”, comemorou. Na última sexta-feira, dia 12 de setembro, diretor e parte do elenco participara da abertura da 58ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Cine Brasília, na capital federal.

domingo, 14 de setembro de 2025

.: Crítica: "Sonhar com Leões", a comédia da morte que obriga a rir da covardia


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com.

Existe algo de profundamente subversivo em um filme que decide tratar de eutanásia com a mesma naturalidade de quem fala sobre o preço do tomate na feira. “Sonhar com Leões”, de Paolo Marinou-Blanco, não tem a pretensão de ensinar nada, tampouco edificar algum tipo de "consciência moralista". O filme prefere rir, debochar e brincar de colocar o espectador diante de uma pergunta incômoda: afinal, quando a vida deixa de ser vida e passa a ser apenas resistência teimosa ao fim inevitável?

Denise Fraga, em um dos melhores momentos da carreira, encarna Gilda - e aqui esqueça a doçura cristalizada da atriz em outros papéis. A personagem dela oscila entre a ternura e a fúria, entre o humor ferino e a fragilidade de quem sabe que o tempo acabou. Ao lado dela, João Nunes Monteiro surge como Amadeu, um jovem que desistiu da vida sem ter vivido de verdade. Se Gilda quer morrer para não perder a dignidade, Amadeu só quer alguém que o enxergue. No fundo, os dois não querem a morte: querem pertencer. E é nesse choque de desejos que o filme encontra a transcendência.

Os diálogos são um espetáculo à parte: afiados, sarcásticos, deliciosamente maliciosos, lembram o frescor de “Pushing Daisies” (no Brasil, "Um Toque de Vida") aquela série que coloria a morte como se fosse uma festa pop. Só que em "Sonhar com Leões", em vez do tom açucarado, há o tempero ácido do pragmatismo, uma ironia que seduz enquanto esbofeteia. A câmera de Paolo, sensível e debochada ao mesmo tempo, transforma até a preparação para o fim em espetáculo metalinguístico: a protagonista fala com o público, chama-o para a intimidade de sua solidão, até não estar mais sozinha.

Victoria Guerra entrega uma participação que beira o politicamente incorreto - e como é bom ver um filme que não teme o risco da inadequação. Roberto Bomtempo aparece como presença especialíssima, discreta mas inesquecível, em uma espécie de presente para o público. Meio brasileiro, meio lusitano, “Sonhar com Leões” é um filme sobre a morte, mas sobretudo sobre propósitos. Discute a estranha e patética necessidade que as pessoas têm de encontrar alguém que segure a mão antes de saltar no escuro. É engraçado, é doloroso, é ridiculamente humano. A morte, nesse filme, não é a vilã. A vilã é a covardia cotidiana de viver sem desejo, de suportar sem sentido, de arrastar-se sem coragem de escolher.

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Ficha técnica
 "Sonhar com Leões" | Sala 4
Classificação indicativa: 16 anos. Ano de produção: 2024. Idioma: português. Direção e roteiro: Paolo Marinou-Blanco. Elenco: Denise Fraga (Gilda), João Nunes Monteiro (Amadeu), Joana Ribeiro (Isa), Victoria Guerra (Laurinda), Sandra Faleiro (Eva), Roberto Bomtempo (Lúcio), entre outros. Distribuição no Brasil: Pandora Filmes. Duração: 87 minutos. Cenas pós-créditos: não.


Sinopse resumida de "Sonhar com Leões" 
Gilda, uma imigrante brasileira em Lisboa, diagnosticada com câncer terminal, busca formas de morrer com dignidade. Após falhas em suas tentativas de suicídio, ela encontra a Joy Transition International, uma organização clandestina que oferece métodos de eutanásia. Lá, conhece Amadeu, um jovem também em busca de uma saída para sua dor. Juntos, enfrentam desafios que misturam humor negro e tragédia, questionando os limites da vida e da morte.


Sessões no idioma original
14/9/2025 - Domingo: 18h00.
15/9/2025 - Segunda-feira: 18h00.
16/9/2025 - Terça-feira: 18h00.
17/9/2025 - Quarta-feira: 18h00. Ingressos neste link.

.: Péri e as "Poesias Vermelhas": versos nasceram onde a canção não chegava


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Rafael Nogueira

De Gal Costa a Margareth Menezes, muitos já deram voz às canções de Péri. Mas em "Poesias Vermelhas", ninguém canta por ele. O artista que sempre escreveu para ser ouvido agora escreve para ser lido - e talvez decifrado. São páginas que nasceram entre 2020 e 2021, quando a música não bastava e a poesia se tornou abrigo contra a enfermidade do mundo.

Cantor, compositor e produtor, Péri estreia na literatura com um livro breve o bastante para caber no bolso, mas insistente o suficiente para permanecer na memória. Os poemas do livro vibram em vermelho, mas também acolhem os azuis da melancolia, os cinzas das incertezas e até os beges dos dias comuns. É nessa paleta que a palavra encontra outra função: deixar de ser apenas letra de música e assumir o risco de ser poesia - íntima, inquieta e, sobretudo, livre. Compre o livro "Poesias Vermelhas", de Péri, neste link.


Resenhando.com - Você diz que agora pode se declarar oficialmente poeta. O que o impedia de fazer isso antes?
Péri - Porque até então, o que eu escrevia servia, em princípio, a só uma música. Tinha que corresponder a uma métrica musical, servia ao estilo, à forma, ao ritmo da música. Mesmo que, na minha percepção, a letra da música sempre existiu por si só, independente da música. Mas como para as pessoas, pelo menos, aquilo está associado à melodia, aquilo se transforma em canção. Então, a libertação foi poder escrever poesia sem necessariamente pensar em música. Isso foi uma libertação, uma forma boa de libertação.


Resenhando.com - “Poesias Vermelhas” nasceu fora da métrica musical. Se a canção fosse um cárcere, qual verso o libertou primeiro?
Péri - Olha, a libertação poética a que eu me refiro não quer dizer que a prisão em relação à métrica musical fosse uma coisa ruim. Era só uma questão de princípio, de rotina, de pensamento artístico. Então, a partir do momento que eu defini na minha cabeça, olhando a página em branco, "puxa, não é música, é outra coisa"... E poesia também não é literatura, é uma coisa diferente. É uma outra trincheira. E eu me vi liberto das amarras da métrica musical. Todos os versos me levaram pra frente.


Resenhando.com - Você cita Augusto de Campos como epígrafe. Se pudesse escolher outro poeta para duelar com você numa roda de improviso, quem seria?
Péri - Eu gosto muito de ouvir, não só ler, mas ouvir áudios e assistir vídeos do Darcy Ribeiro, um grande pensador do Brasil, foi também político, candidato a governador do Rio de Janeiro, na época, muitos anos atrás, acho que o Rio teria muito a ganhar se ele tivesse ganho, um grande educador, um grande pensador do Brasil, um grande defensor das causas democráticas e humanistas. E eu gostava do jeito dele falar. Então, pensar uma poesia minha no sentido político, ser declamada por Darcy Ribeiro seria uma honra.


Resenhando.com - Você fala do vermelho como símbolo da paixão e da resistência. Mas e quando a poesia é azul, cinza ou bege? Ela ainda o interessa?
Péri - Eu acho que esse sentimento de cores da poesia é do jeito que a gente acorda, é do jeito que a gente está aquele dia. Talvez quando o poeta põe para fora todos os seus sentimentos e resolve escrever alguma coisa, isso para mim é uma forma de cura. E o estado de espírito é fundamental. até quando o assunto não é livre quando existe um objeto literário vou escrever sobre tal assunto que está me comovendo no momento o dia que você escreve aquilo é fundamental para o desenrolar tanto é que a gente escreve depois depura muito vai afinando as palavras afinando os sentidos a sintaxe no outro dia muda de novo no outro dia muda de novo então a gente tem que publicar logo senão a gente fica mexendo sempre, porque os sentimentos se alternam sempre, a cada dia, se um dia faz sol, se um dia faz chuva, se um dia a gente acorda assim, se a gente acorda de um outro jeito, isso tudo influencia na nossa escrita. Por isso que quando se escreve, depois de burilar, é melhor publicar logo.


Resenhando.com - Entre o palco e a página, qual deixa você mais nu - o microfone ou o papel?
Péri - O papel é muito mais íntimo. O microfone a gente se expõe muito mais, né? Se expõe na voz, se expõe no que está cantando, se expõe o corpo, a alma, espíritos, né? Subir no palco, olhar para as pessoas. É uma sensação muito forte, é uma ligação muito forte, o artista com o público na relação do palco. Quando está no papel, aí é uma intimidade, entendeu? É quase como eu posso fazer o que eu quiser e não vou ser julgado, mesmo que alguém valer aquilo depois, você colocou aquilo no papel de uma forma tão íntima que o julgamento não importa das pessoas. O que importa é o exercício do que você fez, do que você pôs ali, do que você revelou. E mesmo assim você escreve poesia de uma forma que às vezes não se revela e fica ali o mistério para sempre, ou pelo menos por algum tempo.


Resenhando.com - Seu livro foi escrito entre 2020 e 2021. Que palavra o salvou durante a pandemia e que palavra você se recusa a escrever até hoje?
Péri - Essa época 2020, 2021, uma palavra muito triste que se repetia era a enfermidade, a enfermidade do mundo, a enfermidade das pessoas, a doença corroendo todas as coisas, os seres humanos, o seu pensamento, o seu comportamento, tanta gente sofrendo. Isso tem um impacto grande em qualquer obra artística e óbvio que teve na minha. E a emoção era tanta que só a música não foi capaz Então a poesia me salvou durante a pandemia Ela foi a que realmente conseguiu me libertar e me fazer expressar o que eu estava sentindo E também dar uma contribuição de sentimento, de esperança para quem estava sofrendo tanto, né?

Resenhando.com - Você já foi gravado por vozes como Gal Costa e Margareth Menezes. Se pudesse colocar uma das suas poesias na boca de alguém improvável - digamos, um político, um pastor ou um influencer - quem você escolheria?
Péri - Olha, Augusto é uma grande referência para mim, Augusto de Campos, a poesia concreta, junto com Décio Pignatari e Haroldo de Campos, sempre uma referência, uma descoberta, eu sempre estou descobrindo coisas novas, vendo a poesia concreta. E, além do mais, Augusto é um grande tradutor de outras obras, de outros artistas, um grande recriador, e ele me trouxe conhecimento da poesia do mundo. isso foi fantástico. Então, eu tenho uma referência muito forte em relação a ele como poeta e como recriador, tradutor. Mas eu pensaria também em Gregório de Matos, o baiano Boca do Inferno, porque é um dos primeiros que a gente tem notícia, escrevendo, fazendo poesia dentro de uma realidade do princípio de Salvador, do princípio da Bahia, do começo de tudo que a gente entende hoje como Salvador, como Bahia, como a classe dominante, a elite que comandava as coisas, a divisão com a religião. Gregório de Matos foi um banguardista.


Resenhando.com - A performance é parte do lançamento. Você acredita que a poesia hoje precisa de espetáculo para ser ouvida, ou é o leitor que ficou distraído demais para escutá-la em silêncio?
Péri - Hoje, com o advento das redes sociais, com a expansão das possibilidades de conexão de quem escreve para quem lê, se alargaram muito, é natural ter muitas feiras, muitos encontros em livrarias, fazer aproximação entre o público e o poeta, no caso, e ouvir o que ele tem a dizer e ouvir a forma que ele declama a sua poesia é um mapa do caminho para o leitor. Mas eu acho também que deve existir o momento do leitor sozinho, em silêncio para entender a poesia. Porque poesia, assim, você lê um dia, você entende uma coisa, se você lê uma semana depois, você vai entender outra, um ano depois, é uma outra poesia. Dez anos depois, acontece a primeira revelação uma vida inteira para você descobrir às vezes o sentido de um poema então, às vezes o silêncio a introspecção é importante e necessária.


Resenhando.com - Como seria uma playlist para acompanhar a leitura de “Poesias Vermelhas”? Tem mais Djavan, Fela Kuti ou silêncio mesmo?
Péri - Olha, eu não consigo ler poesia ouvindo música, principalmente se tiver letra, para mim não tem como. No máximo, um Devu-si, Eric Sati, Vila-Lobos, você ouve mais as melodias tocadas por instrumentos, não com letra, porque aí existe o conflito, você está fazendo o embate entre duas poesias, a que você está lendo e da letra da música que você está ouvindo, eu acho que não combina talvez o silêncio seja a melhor companhia no máximo uma música clássica.

Resenhando.com - Se “Poesias Vermelhas” fosse um corpo, o que ela tatuaria na pele, esconderia sob a roupa e gritaria na praça pública?
Péri - Acho que uma boa tatuagem seria meu sangue é vermelho e o seu também. Mostrando para todo mundo que nós todos somos iguais nesse pontinho azul perdido no meio do espaço. Somos uma obra maravilhosa da natureza, ao mesmo tempo somos tão pequenininhos e às vezes a gente se aborrece com coisas tão pequenininhas, a gente se apurrinha com minúsculas coisas, sem a menor importância. Acho que a gente tem que dar mais importância ao que nós somos de verdade, todos iguais. Pessoas passeando na poeira do espaço.

sábado, 13 de setembro de 2025

.: “Uma Semana, Nada Mais” escancara o amor líquido com humor e inteligência


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Caio Gallucci
 

O palco do Teatro Uol abre espaço para uma comédia que, sob a leveza do riso, desnuda as contradições das relações contemporâneas. "Uma Semana, Nada Mais", versão brasileira da peça francesa de Clément Michel, dirigida por João Fonseca, é daquelas montagens que parecem conversar diretamente com o diagnóstico de Zygmunt Bauman sobre o amor líquido: vínculos frágeis, sujeitos que evitam o confronto e afetos que se desmancham ao menor sinal de turbulência.

Na trama, Pablo (Leandro Luna) arma um plano mirabolante para terminar o namoro: chama o melhor amigo, Martín (Beto Schultz), para morar com ele e Sofia (Sophia Abrahão) durante uma semana, na esperança de que a convivência insuportável provoque a separação. O que poderia ser apenas um pretexto para o humor físico e os mal-entendidos típicos da comédia de costumes acaba se transformando em um cenário incômodo, no qual o público ri e se vê diante de uma realidade brutal.

O elenco está afiado. Luna e Schultz formam uma dupla carismática, com excelente timing para o jogo cômico. É Beto Schultz, porém, quem merece um destaque especial: seu Martín é o catalisador das reviravoltas e o responsável pelas gargalhadas mais espontâneas da plateia. Sophia Abrahão, por sua vez, vai muito além da doçura inicial que sua personagem sugere. A Sofia interpretada por ela é uma mulher que, enquanto lida com a busca por trabalho e realizações pessoais, tenta manter em pé uma relação que desmorona diante da falta de diálogo com o homem com quem divide a casa.

Essa inversão - a mulher que age de modo prático e objetivo diante de dois homens perdidos em suas subjetividades - dá à peça uma camada crítica que a aproxima não só das reflexões de Bauman, mas também de Milan Kundera, em "A Insustentável Leveza do Ser". Afinal, o que pesa mais: o compromisso ou a liberdade? O riso, aqui, funciona como a superfície brilhante de uma pergunta muito mais densa.

Há momentos em que o espetáculo parece um filme francês transportado para o palco brasileiro: diálogos rápidos, dilemas sentimentais e uma atmosfera que mistura leveza e melancolia. João Fonseca acerta ao evitar exageros, deixando que a comicidade surja do desconforto natural das situações. A tradução de Priscilla Squeff, ajustada ao ritmo brasileiro, garante que o humor mantenha frescor sem perder a universalidade do texto original. "Uma Semana, Nada Mais" é, no fundo, sobre aquilo que todos já experimentaram: a dificuldade de comunicar o que se sente, o medo de perder e, paradoxalmente, a pressa em encerrar vínculos sem medir as consequências. 


Serviço
"Uma Semana, Nada Mais"
De 6 de setembro a 26 de outubro, sábados e domingos às 18h00
Teatro Uol – Shopping Pátio Higienópolis, São Paulo
Ingressos: R$ 100 (inteira) / R$ 50 (meia)

.: "Drácula: um Terror de Comédia" é um clássico extremamente debochado


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com. Foto: divulgação

Extremamente debochado e misturando o pop e o cult, o espetáculo "Drácula - Um Terror de Comédia" já chega aos palcos brasileiros com ares de clássico, mesmo sem ter essa intenção. A montagem, que estreou no Teatro Bravos, em São Paulo, e segue até dia 12 de outubro, é uma das produções mais inventivas e bem-acabadas dos últimos tempos, equilibrando humor inteligente, irreverência, sagacidade e um visual de tirar o fôlego. É teatro de primeira grandeza, desses que conquistam pelo riso, pelo cuidado e pelo talento dos artistas envolvidos.

Se Tiago Abravanel assume o papel do conde mais famoso da literatura com fina ironia e um gosto evidente pela liberdade que o teatro proporciona a ele, o elenco ao redor se revela uma engrenagem preciosa e muito bem escolhida. Abravanel poderia ter se acomodado na televisão, mas o palco parece ser o lugar em que ele se reinventa com mais força - e esse Drácula é, sem dúvida, libertador para ele.

O espetáculo também consagra Ludmillah Anjos como um grande nome dos musicais. Dona de uma trajetória construída tijolo por tijolo desde a visibilidade que ganhou no talent show em que estreou, ela mostra, mais uma vez, toda a versatilidade que tem e confirma que chegou ao patamar das estrelas, sem precisar provar mais nada a ninguém. Bruna Guerin, por sua vez, entrega uma mocinha nada óbvia, cheia de nuances, em um papel à altura da carreira sólida que construiu no teatro com espetáculos como "Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812" e a própria Janet de "Rock Horror Show", que claramente é uma das fontes de inspiração dessa nova montagem de "Drácula".

Lindsay Paulino, na pele de Mina, também brilha. Além de provocar gargalhadas certeiras, ele capta todos os olhares para si, em um jogo de cena em que aparece bem à vontade. Visualmente deslumbrante, com uma trilha sonora moderna irresistível, "Drácula - Um Terror de Comédia" é esperto, sacaninha, sagaz, e inteligente sem jamais soar petulante e sem ter a pretensão de ser um novo clássico, mesmo já sendo. Um espetáculo memorável, daqueles que fazem rir, pensar e aplaudir de pé.


Serviço
"Drácula - Um Terror de Comédia"

Local: Teatro Bravos – Rua Corifeu de Azevedo Marques, 200 – São Paulo/SP
Temporada: até dia 12 de outubro de 2025
Horários: sextas, às 20h00; sábados, às 17h00 e 20h00; domingos, às 18h00
Ingressos: disponíveis na bilheteria do teatro e pelo site Sympla
Classificação etária: 12 anos

.: Editora Janela Amarela recoloca Julia Lopes de Almeida no mapa da literatura


Por Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com.

Julia Lopes de Almeida nasceu em 1862 e atravessou o fim do século XIX e o início do XX como uma das escritoras mais ativas e influentes do Brasil. Jornalista, romancista, dramaturga, cronista e defensora do voto feminino, foi voz incômoda em uma sociedade marcada pelo patriarcado - e, ainda assim, acabou relegada ao esquecimento por décadas. Em 2025, 163 anos após ter nascido, a força da obra dessa artista retorna às mãos dos leitores graças ao trabalho da Janela Amarela Editora, comandada por Carol Engel e Ana Maria Leite Barbosa, que acaba de completar um feito inédito: reunir em catálogo todos os romances publicados em vida por Julia, além de novelas e livros infantis.

Mais do que reeditar, as editoras assumem uma missão: devolver Julia ao lugar de destaque que sempre lhe coube, sem que o gesto se limite a uma homenagem pontual ou simbólica. Nesta entrevista exclusiva ao portal Resenhando.com, Carol Engel fala sobre apagamento literário, silenciamento de vozes femininas, as escolhas editoriais que tornam a leitura de Julia acessível ao público contemporâneo e a atualidade inquietante de uma autora que, em 1902, já denunciava as falências morais e econômicas que ainda rondam o Brasil de 2025.


Resenhando.com - Julia Lopes de Almeida foi preterida na fundação da Academia Brasileira de Letras por ser mulher. Hoje, quando vemos homenagens tardias, você acha que estamos celebrando Julia ou apenas limpando a imagem de uma instituição que historicamente excluiu mulheres?
Carol Engel - Ao fazer esse tipo de análise, é importante levarmos em consideração o contexto, o local, a época. A sociedade brasileira de 1897 era marcada pelo patriarcalismo e pela exclusão da mulher da vida política, elas eram relegadas exclusivamente a vida doméstica. Partindo desse conhecimento, não é de estranhar que uma instituição criada naquele período seguisse os mesmos padrões sociais. Foi a sociedade que historicamente excluiu as mulheres, a ABL apenas espelhou o comportamento da época. Homenagens, sejam elas tardias ou não, são sempre válidas, principalmente quando usadas para demonstrar de admiração e respeito. É uma oportunidade de dar destaque a um nome/ uma personalidade que merece reconhecimento, fazer este nome, e seus feitos, conhecido por novas gerações. Qualquer homenagem que se faça à Julia Lopes de Almeida, que dê destaque ao seu trabalho e reverbere seu nome, é válido, desde que não seja um ação pontual, simbólica, mas uma ação contínua de perpetuação de seu nome, seu trabalho e sua arte.


Resenhando.com - O resgate de Julia passa pelo gesto editorial de atualizar ortografia e contextualizar termos. Mas até que ponto “modernizar” a autora não corre o risco de domesticar sua força original e a rebeldia de sua escrita?
Carol Engel - Há uma diferença entre modernizar a leitura e atualizar a ortografia. Modernizar seria trazer termos atuais para o texto, não trabalhamos desta forma, mantemos o texto original, integral. O que fazemos é atualizar a ortografia. A língua portuguesa mudou muito, não podemos publicar livros com “bibliotheca", “commentou", como eram escritos na época. Essa atualização não enfraquece a força da criação literária, mas garante uma leitura mais acessível. O mesmo trabalho já é feito em autores clássicos consagrados como Machado de Assis e José de Alencar, por exemplo. As notas de roda pé foram pensadas nos leitores contemporâneos menos habituados a leitura de textos clássicos, cujo vocabulário pode, muitas vezes, criar um distanciamento. Servem para contextualizar e enriquecer a experiência de leitura, para que o leitor mantenha o interesse no texto, mesmo que se depare com algum termo ou palavra que desconheça.


Resenhando.com - O esquecimento de Julia e de tantas autoras brasileiras não foi acidental. Quem lucrou com esse apagamento literário, e quem perde quando suas vozes voltam a circular?
Carol Engel - Adoraria descobrir essa resposta. Espero que o trabalho de resgate literário que temos feito estimule pesquisadores a desvendar esse mistério e descobrir os motivos deste apagamento. De maneira bastante simplista podemos verificar uma consolidação de um mercado editorial calcado em vozes exclusivamente masculinas. O que certo, é que podemos é definir quem perdeu com esse apagamento: perderam os leitores, privados desta diversidade de vozes; perderam as mulheres, que não viam retratada na literatura, modelos e referencias escritos por outras mulheres, e perdeu também a proporia história da literatura brasileira, que ficou empobrecida sem estes registros.


Resenhando.com - Julia defendia voto feminino, acesso popular à cultura, educação para mulheres e ainda escrevia crônicas sobre jardinagem. O que isso revela sobre a multiplicidade da escritora e a nossa mania de reduzir autoras a uma única faceta?
Carol Engel - A tendência reducionista não é “privilégio” da literatura, abarca muitos setores e ainda hoje lutamos contra ele. Julia, com sua multiplicidade dialogava com diferentes públicos, sem esforço, mostrava que não precisava ser apenas “OU”, era mulher E escritora E jornalista E esposa E mãe. Que nos inspiremos em Julia e aceitemos as diferentes facetas, nossas e dos outros. Não precisamos ser apenas um, mas precisamos respeitar os múltiplos que podemos ser.


Resenhando.com - Ao reeditar todos os romances de Julia, a Janela Amarela realizou um feito inédito. Mas qual foi o momento mais surpreendente do processo: descobrir a força da obra ou perceber o abismo da indiferença cultural que a engoliu por décadas?
Carol Engel - Cada nova obra de Julia que trabalhamos foi uma surpresa. Por variados motivos: A dificuldade de acesso de determinados títulos. A variedade de temas. A composição das personagens e suas complexidades, e mesclado a tudo isso, o inacreditável apagamento do nome da autora da história, da história literária brasileira.


Resenhando.com - Quando se fala em “resgate literário”, muitas vezes pensamos em arqueologia. Mas Julia não parece uma autora morta: as personagens femininas dela e as críticas sociais ainda respiram no texto da autora. Você diria que Julia foi “apagada” ou que ela sempre esteve à espreita, esperando ser relida?
Carol Engel - Essa pergunta é curiosa e mostra, do ponto de vista literário, como a bagagem do leitor influência na recepção da mensagem. Quando falamos de “resgate literário” focamos mais na ideia de recuperação e liberdade, mas é interessante perceber que outros percebem pelo viés arqueológico... curioso, né!? Acredito que o desejo de todo o escritor é ser lido, e com Julia não pode ser diferente. Ainda que tenha sido “temporariamente apagada” a força de sua escrita manteve-se latente e agora pode ser redescoberta.


Resenhando.com - A comparação com Jane Austen e George Sand é recorrente. Mas será que não é uma violência comparar Julia apenas pelo viés europeu, em vez de inseri-la numa tradição afro-latino-americana de escritoras invisibilizadas?
Carol Engel - Não diria compara, mas equiparar, em qualidade, talento e produção. Infelizmente, precisamos dar como referência nomes europeus para exemplificar os talentos importantes de nossa literatura que foram esquecidos e silenciados. O ideal, e assim espero, é que, num futuro breve, possamos dar como referência nomes como o de Julia como exemplo referencial literário. Será maravilhoso ouvir: “o texto dela é marcante como os da Julia Lopes de Almeida...”, “o perfil deste personagem lembra muito os da Chrysanthème...” ou ainda “segue um estilo da Ignez Sabino...” mas para isso estas escritoras precisam voltar a ser conhecidas e reconhecidas por suas criações. Este é o trabalho que está acontecendo agora, com o resgate e relançamento destas obras e destas autoras.


Resenhando.com - Se Julia fosse publicada hoje, em pleno século XXI, com redes sociais, podcasts e clubes de leitura feministas, você acredita que ela seria uma estrela literária ou ainda assim encontraria os mesmos muros de silenciamento?
Carol Engel - Como sonhar é de graça, às vezes me pego imaginando como cada uma das autoras que redescobrimos seria se vivessem nos tempos atuais. É um exercício curioso... No caso de Julia, acho que ela seria uma estrela literária, sim, mas adaptada aos novos formatos, não ia se limitar apenas a publicação de livros, as redes sociais permitiriam uma interação estreita com seus leitores. Teria uma newsletter, onde ia publicar crônicas, e um podcast, para debater com convidados sobre temas da atualidade. Continuaria falando sem medo, batalhando pelas pautas que defendia... até por isso, às vezes, seria cancelada, mas sem medo continuaria defendendo suas ideias.


Resenhando.com - Há quem diga que reeditar Julia é um ato de reparação histórica. Mas reparação para quem? Para Julia, que já não está aqui, ou para os leitores que foram privados de conhecê-la?
Carol Engel - Para Julia é uma reparação simbólica, à sua memória. Em vida, como escritora, ela teve reconhecimento, o silenciamento de sua obra aconteceu depois de sua morte. É, portanto, uma reparação à nossa história da literária e aos leitores que podem, agora, ter acesso a este conteúdo.


Resenhando.com - Julia falava de falência econômica e moral em 1902. O Brasil de 2025, atolado em crises sucessivas, ainda não saiu da mesma encruzilhada? O que a leitura dela nos diz sobre o eterno retorno das nossas ruínas sociais?
Carol Engel - Romances, ainda que sejam histórias ficcionais, são um retrato de nossa sociedade e registros como os que Julia Lopes de Almeida faz em seus livros, servem como uma ferramenta crítica, nos lembra o quanto ainda temos que mudar, melhorar. Muitos dos problemas de outrora seguem nos assombrando, muito ainda precisa ser feito. Se as crises econômicas mudam, as questões morais parecem apenas se ajustar aos novos tempos. As obras de Julia podem ser vistas como uma sinal de alerta, será que 100 anos não foram suficientes para corrigir velhas falhas e entender com ser ou fazer melhor?

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

.: Rick Davies, da banda Supertramp: o sonho acabou


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação

Com o falecimento do músico britânico Rick Davies aos 81 anos, depois de uma luta contra uma doença grave (Mieloma Múltiplo) nos últimos anos, encerram-se as chances de uma eventual reunião da formação clássica da banda Supertramp. O Supertramp preferiu não seguir a regra das demais bandas antigas, que buscam reagrupar seus antigos membros e reviver hits que marcaram uma época. Após a saída de Roger Hodgson, em 1983, a banda se manteve ativa com Davies na liderança do vocal e das composições. Entretanto, sem conseguir alcançar o brilho e a popularidade dos anos 70 e 80.

Rick Davies sempre foi uma das forças criativas do Supertramp. Em que pese o sucesso que as canções de Hodgson alcançavam, as de Davies sempre serviam como um contraponto. Ou melhor, um complemento perfeito para o som desenvolvido naquela época pelo grupo.

Como alguns exemplos poderia citar canções como Bloody Well Right, From Now On (esta uma de minhas preferidas dele), Goodbye Stranger, Crime Of the Century, entre tantas outras. Ele também tinha um talento nato para compor hits radiofônicos como a balada retrô My Kind Of Lady, que estourou junto com It´s Raining Again, de Roger Hodgson.

Uma pena que ambas as partes não entraram em um acordo amigável para aparar as arestas do passado e voltar a tocar juntos no palco. Porque tanto Hodgson como Davies estavam em plena atividade musical e seria muito interessante acender aquela velha chama musical.

Davies havia anunciado em 2015que iria se retirar para tratar da doença, interrompendo as atividades da banda desde então.

Como consolo para os fãs, fica a obra da banda que permanece como uma referência em termos de um rock que transitava entre o pop e o estilo mais progressivo. Todas essas canções certamente não soam datadas e se mantém atuais nos dias de hoje.

"From Now On"

"My Kind Of Lady"

"Bloody Well Right"

.: Ricardo Vilas & Banda Maravilha chega nas plataformas digitais


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação

Ricardo Vilas está divulgando seu novo projeto, o disco “Ricardo Vilas & Banda Maravilha”, que está disponível em todas as plataformas digitais, com distribuição da Conexão África Produções. Um trabalho que reforça a ligação do músico com a cultura de origem africana, que sempre se mostrou presente em sua obra autoral. O projeto da parceria nasceu a partir de um vínculo criado em 2012, quando Ricardo conheceu os músicos da Banda Maravilha durante sua pesquisa de doutorado sobre a circulação da música popular entre Brasil e Angola.

“Angola, para nós brasileiros, é a África mais próxima. Essa conexão sempre me interessou e me atraiu, a ponto de dedicar minha pesquisa acadêmica ao estudo da Música Popular Angolana e de seus pontos de encontro com a música brasileira”, explica  Ricardo. O álbum reúne 12 faixas, entre composições inéditas e autorais; e conta com participações especiais de Dionísio Rocha, Filipe Zau, Nilze Carvalho e Hudson Santos, que contribuíram para um resultado positivo, um verdadeiro diálogo musical entre Angola e Brasil.

O projeto busca ampliar o conhecimento das culturas africanas no Brasil, especialmente no campo da Música Popular Brasileira, além de fortalecer os laços com o continente africano, de onde vem boa parte da nossa população. Ao mesmo tempo, pretende mostrar à população africana o quanto a sua presença cultural é valorizada e bem-vinda. “Agora que o projeto está ganhando as ruas, fico muito feliz de ver que conseguimos realizar um verdadeiro encontro musical entre Angola e Brasil. Mostramos tudo o que compartilhamos, em termos musicais, e também as particularidades que nos diferenciam, mas que dialogam de forma harmoniosa”, concluiu Ricardo Vilas

"Atlântica Mulata"


"Voando pra Luanda"


"Nosso Canto"

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