terça-feira, 9 de dezembro de 2025

.: Crítica: "Era Uma Vez Minha Mãe" retrata uma mãe zelosa e até sufocante

 

  "Era Uma Vez Minha Mãe" está em cartaz na Cineflix Cinemas de Santos


Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em dezembro de 2025


A comédia dramática "Era Uma Vez Minha Mãe", dirigida por Ken Scott ("Adeus Felicidade" e "Meus 533 Filhos"), exibida durante o Festival de Cinema Francês do Brasil de 2025, na Cineflix Cinemas de Santos, é a cinebiografia do advogado Roland Perez, fã da cantora e atriz búlgara-francesa Sylvie Vartan. Nascido com pé torto congênito em uma família numerosa, arrastando-se pelo chão de casa durante a infância, é levado pela mãe para tratamentos diversos que em nada resultam. 

Sem frequentar a escola, é diante da ameaça de perder o filho que Esther, a mãe (Leïla Bekhti), compra tudo de Sylvie Vartan e decide que o irmão irá ensinar o pequeno a ler. Embora tudo pareça uma confusão, o resultado surge por meio das canções de Vartan. Sem embarcar na ideia de que o filho somente poderia se mover com muletas, prótese ou em uma cadeira de rodas, após passar por tantos médicos e charlatões, Esther, esbarra na pessoa certa e capaz de reverter tal enfermidade.

Seguindo o desejo da mãe de ir para a escola andando, Roland frequenta os bancos escolares e até vira dançarino, apresentando-se em programas televisivos de grande expressão, o que possibilita o "primeiro encontro" do jovem com seu grande ídolo. No entanto, ele vai além e realiza uma entrevista, ficando cara a cara com Sylvie Vartan, até que se torna advogado dela. Vale destacar que a artista participa do longa.

Cativante, o longa que apresenta história verídica, consegue ir direto ao coração com uma mãe, com seus comportamentos sufocantes, mas capaz de mover mundos e fundos para que seu rebento possa ter uma vida sem grandes dificuldades. De fato, as realizações de Roland foram muitas e com Esther sempre apoiando. Filme imperdível!


O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no GonzagaConsulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.


"Era Uma Vez Minha Mãe"(“Ma mère, Dieu et Sylvie Vartan”). Classificação indicativa: 10 anos. Direção e Roteiro: Ken Scott. Elenco: Leïla Bekhti, Jonathan Cohen, Sylvie Vartan. Gênero: Comédia Dramática. Duração: 1h42min. Origem: França, Canadá. Ano: 2025. Sinopse: Uma história verídica sobre Esther, que promete ao filho Roland, nascido com pé torto, uma vida normal e maravilhosa, lutando para realizar esse sonho. 

Trailer de "Era Uma Vez Minha Mãe"



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"Foi Apenas Um Acidente" está em cartaz na Cineflix Cinemas de Santos


Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em dezembro de 2025


Uma família transitando num veículo, num lugar pouco iluminado e atropela um animal. Com problemas para seguir viagem, conseguem socorro de um morador próximo ao local, mas um reconhecimento confuso é capaz de tornar a trama de "Foi Apenas Um Acidente" cheia de reviravoltas e confusões. O longa franco-iraniano-luxemburguês dirigido por Jafar Panahi, nome reconhecido do cinema iraniano pós-Revolução de 1979 e tem sido associado à Nova Onda Iraniana, brinca com a dúvida em meio ao desejo de vingança e o humanismo.

Ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes, o longa foi gravado ilegalmente no Irã devido às restrições impostas ao diretor pela ditadura, em tomadas mais fechadas, a produção que soma 1 hora e 46 minutos de duração, expõe as emoções misturadas de torturados, prisioneiros do regime iraniano, diante de um homem que parece ter sido seu torturador e de uma peculiaridade: era manco. De fato, o ranger da prótese ortopédica surge nitidamente logo nos minutos iniciais, quando o homem desce do veículo para ver o que havia acontecido. 

Assim, o Perna de Pau, com sua outra perna ferida, nega veemente ser o tal torturador. Com a dúvida da maioria dos escalados para o reconhecimento imperando, sendo que foram vendados quando sofreram, instala-se o caos. Afinal, o receio de punir alguém que poderia não ser o vilão, de fato, protela qualquer ação definitiva. 

O filme que recebeu quatro indicações ao Globo de Ouro é bom e envolvente por entregar uma trama investigativa crescente, enquanto que também é repleta de medo de fazer justiça com as próprias mãos sem se ter certeza de quem foi capturado. Vale a pena conferir!


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"Foi Apenas Um Acidente"(“Un Simple Accident”). Classificação indicativa: 14 anos. Direção Jafar Panahi. Gênero: thriller, drama. Países de Origem: Irã, Luxemburgo. Duração: 1h 46. Distribuição: Imovision / MUBI. Elenco: Vahid Mobasseri, Mariam Afshari, Ebrahim Azizi, Hadis Pakbaten. Sinopse: O filme aborda a história de um mecânico que, após um encontro casual, acredita ter encontrado seu antigo torturador da prisão e planeja vingança, gerando dúvidas e tensão no processo. 

Trailer de "Foi Apenas Um Acidente"



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.: Entrevista: Jorge Uribe revela segredos do heterônimo enigmático de Pessoa


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com
Foto: divulgação

É profundamente irônico - ou simplesmente pessoano - reunir, em um único volume, a totalidade de um heterônimo que fez do paradoxo a sua verdadeira morada. Ricardo Reis, esse médico monárquico de inclinação pagã, esse clássico que chega ao século XX como quem desembarca de um tempo impossível, volta agora ao leitor brasileiro em edição que não promete ser definitiva, mas sim reveladora. A editora Tinta-da-China Brasil fecha a trilogia da Coleção Pessoa com um livro que devolve ao heterônimo a própria complexidade do autor: a poesia depurada que o consagrou, a prosa abundante que o surpreende, os inéditos que o deslocam, a grafia arcaizada que não é capricho filológico, mas assinatura identitária.

Ao falar sobre o processo de organização do volume, Jorge Uribe, em entrevista exclusiva para o portal Resenhando.com, descreve a experiência de editar Reis como uma participação ativa no jogo pessoano - esse teatro de múltiplas entradas onde cada manuscrito, variante e rasura devolve ao leitor o espanto de reencontrar o autor e a si mesmo. O trabalho com o espólio, realizado em parceria com Jerónimo Pizarro, revela uma escrita que contrapõe fluxo e contração, disciplina e excesso: um movimento orgânico cujo ritmo se mostra com mais clareza na prosa, onde o heterônimo experimenta ideias, desabafos e contradições que o poeta das odes mantinha à sombra da forma.

O resultado é um livro que, pela primeira vez, apresenta ao público de língua portuguesa a totalidade da poesia e da prosa de Ricardo Reis, em ordenação cronológica e em rigorosa conformidade com a grafia original utilizada por Pessoa. Não se trata de um detalhe: a ortografia arcaizada cria ecos gregos e latinos, moldando o estilo que hoje reconhecemos como próprio de Reis e acentuando a estranha modernidade dele - esse modo de existir entre dois mundos, duas épocas, dois impulsos. Compre o livro "Obra Completa de Ricardo Reis", edição de Jerónimo Pizarro e Jorge Uribe, neste link.


Resenhando.com - “Vivem em nós inúmeros”, escreveu Ricardo Reis - e talvez também se pudesse dizer: “editam-nos inúmeros”. O que significa organizar a obra completa de um heterônimo cuja própria existência é feita de paradoxos e desdobramentos?
Jorge Uribe - Praticar a edição pessoana é participar do jogo que Pessoa, poeta, crítico e também editor, nos legou. É, no fundo, implicar-se, como leitor, na indeterminação da sua proposta criativa, que encontra na incompletude a sua força de adaptação ao tempo sempre vindouro. O paradoxo está na raiz do fascínio por Pessoa e é, sobretudo, uma atitude tática para lidar com a complexidade da vida e da literatura.


Resenhando.com - Entre todos os heterônimos de Pessoa, Ricardo Reis talvez seja o mais enigmático: monárquico e pagão, clássico e moderno, racional e melancólico. Como traduzir esse equilíbrio de contrários em um volume que pretende ser definitivo?
Jorge Uribe Definitivo, só a morte, como diz a sabedoria popular. Reis é como o deus Jano, uma cabeça com duas faces que olham simultaneamente para o passado e o presente. Sua firmeza é a do instante em que os fluxos se encontram.


Resenhando.com - A edição mantém a grafia original usada por Pessoa - uma escolha que parece mais filosófica do que apenas filológica. Por que era essencial preservar essa ortografia “arcaizada” de Reis? 
Jorge Uribe A ortografia de Ricardo Reis não obedece a nenhum acordo ortográfico aceito por Pessoa. Também não é a de Pessoa. A ortografia de Reis é um achado da sua escrita, que constrói uma identidade como efeito de leitura. Por isso, publicá-la não é um capricho antiquário, faz parte de Ricardo Reis. O estilo é o homem.


Resenhando.com - Há, neste livro, textos inéditos e variantes que reconfiguram o que sabíamos sobre Ricardo Reis. Que descobertas você destacaria? O que surpreendeu até mesmo os organizadores?
Jorge Uribe A escrita de Reis, ao contrário do que se poderia pensar, também é excessiva. À precisão das odes contrapõe-se a profusão, quase se poderia dizer a incontinência, da prosa. O prefácio a Alberto Caeiro é uma obra que parece impossível de formar, de tantos caminhos que tomou ao longo de mais de quinze anos de trabalho. São quase uma centena de páginas. Porém, por volta de 1929, Reis conseguiu disciplinar-se e escrever um prefácio de apenas duas folhas. Fluxo e contração são os movimentos peristálticos dessa máquina orgânica, que se revelam com maior clareza na prosa.


Resenhando.com - Pessoa dizia que “toda a arte é uma forma de literatura”. O que a prosa de Reis - menos conhecida do que as odes - revela sobre sua visão de mundo e sua relação com o próprio Pessoa?
Jorge Uribe Reis é, entre outras coisas, um dispositivo de desabafo emotivo por meio da técnica. A escrita regrada e a prosódia herdada são os prazeres do estilista virtuoso. Reis traz para Pessoa a liberação da autodeterminação, da regra autoimposta. Por outro lado, a prosa é uma ensaística da possibilidade. Pessoa permite-se jogar com ideias que também lhe pareciam descabeladas, como o apoio à Alemanha na Grande Guerra, ser monárquico mas anticatólico, e o desejo de ter nascido em outra época que não a que lhe coube viver.


Resenhando.com - Ao ler Ricardo Reis hoje, em 2025, o que ainda nos fala? Em um tempo tão convulsionado e impaciente, que lição ética ou estética se pode tirar da serenidade pagã e do ceticismo de Reis?
Jorge Uribe Não sei se por influência de Reis, mas penso que nem sempre se podem tirar boas lições da literatura. Contudo, gosto da sua convicção acerca do caráter lúdico da vida, um jogo em que se pode experimentar o gesto não automatizado, a resposta imprevisível, que também é libertadora: “Tudo o que é serio pouco nos importe, / O grave pouco pese, / O natural impulso dos instinctos / Que ceda ao inutil goso / (Sob a sombra tranquila do arvoredo) / De jogar um bom jogo.”


Resenhando.com - O livro encerra a trilogia da Coleção Pessoa, depois das obras completas de Caeiro e Campos. Que imagem do poeta - e do homem Fernando Pessoa - emerge dessa trilogia?
Jorge Uribe O que Fernando Pessoa escreveu não equivale a uma coleção de poemas e textos em prosa destinados a serem lidos separadamente. Como num anfiteatro de múltiplas entradas, todas convergem para o palco. Caeiro, Reis, Campos e ainda o próprio Pessoa ortônimo formam uma relação orgânica, um sistema vital de implicações mútuas, uma identidade autônoma e comunitária. Nenhum livro é uma ilha.


Resenhando.com - Ambos os organizadores têm trajetórias ligadas ao universo acadêmico e editorial, mas há também uma dimensão quase arqueológica em lidar com o espólio pessoano. O que mais fascina e o que mais exaure nesse trabalho de “abrir as arcas de Pessoa”?
Jorge Uribe O espólio é um jogo de espelhos. Nele, o pesquisador, que nada mais é do que um leitor entusiasmado que quer partilhar com outros aquilo que vê, encontra o reflexo do seu próprio empenho. Quanto mais empenho, mais se multiplica o salão, devolvendo imagens ora complacentes, ora temíveis. O cansaço provém, sobretudo, da dificuldade da transcrição, das lacunas e ilegíveis, que frequentemente criam uma relação tantalizante com a obra. Mas essa é também a indisponibilidade que mantém o fogo aceso.


Resenhando.com - Há uma certa ironia em lançar a obra completa de Ricardo Reis no Brasil - o país para onde ele teria se exilado. Essa coincidência tem para vocês algum sentido simbólico?
Jorge Uribe Não vejo ironia nisso. Reis volta à casa que não é sua casa, porque é um desterrado paradigmático. É possível que nunca tenha partido.


Resenhando.com - Se Ricardo Reis pudesse escrever uma ode sobre este lançamento, o que ele diria?
Jorge Uribe Não sei bem. Como disse antes, Ricardo Reis reivindica para si o direito de ser imprevisível. Mas talvez fizesse uma ode parecida com esta: “De novo traz as aparentes novas / Flores o verão novo, e novamente / Verdesce a cor antiga / Nas folhas redivivas...”

.: #Literalistas: as leituras de Antonio Arruda e o rito mensal que ele faz


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com
Foto: divulgação

Escritor e roteirista, Antonio Arruda lê para reorganizar o mundo e para desorganizá-lo na mesma medida. Talvez por isso, ao citar a máxima do poeta e amigo Flávio Viegas Amoreira (“um poema por dia, um conto por semana, um romance por mês”), ele a transforme em pulsação vital. Autor do livro de contos "O Corte que Desafia a Lâmina", Arruda intercala ficções, filosofia e teoria literária, movendo-se, como ele próprio diz, “no centro da encruzilhada dos estilos, das linguagens, das literatitudes”. É desse lugar de fricção e fertilidade que compartilha as leituras que o acompanham neste momento, cada uma em diálogo direto com sua escrita, sua sensibilidade e as vozes femininas que o atravessam.

A primeira delas é “O Jardim das Oliveiras”, publicado pela Editora Record, de Adélia Prado, recém-finalizado. É também a obra da qual extrai o verso que funciona como chave de leitura e de afeto: “Me atrai o que no desespero é belo”. Arruda encontra no livro um território em que o divino e o mundano se interligam por zonas de dor, decomposição e luz - “verme entre brasas”. Para ele, trata-se de um livro em que “nada sobra, nada falta”, um espaço onde o corpo, a fé, a finitude e o Mistério se entrelaçam em poesia. Um tesouro revelado, como escreve o próprio.

Depois, ele retorna a “Conto Azul e Outros Contos”, publicado pela editora Nova Fronteira, de Marguerite Yourcenar, relido agora como parte do processo de escrita de seu novo livro de poemas. Há, segundo Arruda, três vozes femininas que se intercalam na obra - a mãe, a avó e a deusa -, e Yourcenar oferece a ele não apenas uma estética, mas uma lente. "Ainda que em prosa", afirma ele, "o feminino de Yourcenar emerge de forma poética e imagética, desestabilizando e revelando laços profundos entre mulheres reais, míticas e simbólicas".

Por fim, Arruda lê - e momentaneamente interrompe para manter o rito mensal - “quase todas sobrevivemos às mães”, publicado pela Editora 7 Letras, de Deborah Couto. Ainda assim, reconhece que, ao terminar este texto, voltará imediatamente ao romance. A obra, diz ele, é tecido de personagens intensas e cenas curtas que funcionam como pequenos socos no estômago. Ali, desejos, falências e complexidades humanas se insinuam mais nas entrelinhas do que no que é dito, “neste romance que pode ser lido num fôlego só”Compre o livro "O Corte que Desafia a Lâmina", de Antonio Arruda, neste link.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

.: #LeituraMiau: "Argumentos e Roteiros para Curtas-Metragens"


Por Cláudia Brino, escritora, ativista cultural e editora da Costelas Felinas

"Argumentos e Roteiros para Curtas-Metragens" do autor H. Francisconi, é uma obra singular que cruza as fronteiras entre literatura e cinema de forma criativa. Sem a pretensão de ensinar ou oferecer fórmulas, o autor apresenta uma coletânea de histórias em dois formatos: primeiro como narrativa literária, depois em versão roteirizada para o cinema.

Mais do que um exercício de estilo, essa duplicidade revela o potencial das ideias e a riqueza de seus desdobramentos. O leitor é convidado a observar como o mesmo enredo pode ganhar diferentes nuances ao migrar do texto literário para a estrutura cinematográfica, explorando os silêncios, os cortes, as imagens sugeridas — e tudo aquilo que escapa à palavra escrita.

Francisconi oferece um jogo inteligente entre forma e conteúdo, em que a técnica não se impõe, mas se dissolve na fluidez do gesto criativo. A obra, longe de ser um manual, é um convite à experimentação, à leitura atenta e à sensibilidade artística. Ideal para leitores interessados nas interseções entre literatura e cinema, Argumentos e Roteiros para Curtas-Metragens é uma proposta ousada que instiga tanto quem escreve quanto quem observa os bastidores da criação.

domingo, 7 de dezembro de 2025

.: Crítica: "O Apego" traça relações inesperadas que emocionam

"O Apego" está em cartaz na Cineflix Cinemas de Santos


Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em dezembro de 2025


"O Apego", drama dirigido por Carine Tardieu ("Os Jovens Amantes"), é sensível e cativante ao apresentar uma história que poderia acontecer com qualquer um, mas não da exata maneira como foi com a livreira Sandra (Valeria Bruni). A produção exibida durante o Festival de Cinema Francês do Brasil de 2025, na Cineflix Cinemas de Santos, soma 1 hora e 45 minutos de duração, mas capaz de mudar uma mulher ferozmente independente.

Sandra é vizinha de um casal, novatos no pedaço, mas que trouxeram com eles, um garotinho e um bebê na barriga. É justamente antes de dar a luz que a vizinha pede para que Sandra cuide do pequeno Elliott (César Botti). Contudo, uma tragédia acontece e Alex (Pio Marmaï, de "Os Três Mosqueteiros" e "O Próximo Passo"), volta do hospital sem a parceira. 

Sozinho e enlutado, desperta o sentimento de querer ajudar em Sandra, uma mulher que vive e trabalha em volta de livros. Com um toque delicado de literatura, a trama vai se desenhando, ao fortalecer laços de amizade e até intimidade, o que confunde muito o pai solteiro. Assim, surge na vida da família despedaçada a pediatra Emilia Demetriu (Vimala Pons, "Os Bastidores do Amor" e "O Livro da Discórdia"), ainda que Alex comece a relação com uma grosseria e sobre uma ponta de ciúmes em Sandra.

Sem sentimentalismo barato, "O Apego" é retrato encantador que apresenta cada passo evolutivo nas relações inesperadas, sem floreios ou inverdades após perdas que mudam destinos. Assim, a dose de realidade no filme faz também com que o público se apegue à história emocionante. Filme imperdível!

 

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"O Apego"(“L'Attachement). Direção: Carine Tardieu. Gênero: Drama. Duração: 1h45. Classificação: 12 anos. Nacionalidades: França, Bélgica.  Ano de Produção: 2024. Idioma: Francês. Distribuição: Bonfilm. Elenco: Valeria Bruni Tedeschi (como Sandra Ferney), Pio Marmaï (como Alex Perthuis), Vimala Pons, Raphaël Quenard. Sinopse: Sandra, uma mulher na casa dos cinquenta, ferozmente independente, vê sua vida mudar inesperadamente quando acaba por compartilhar, de repente e sem querer, a intimidade de seu vizinho de andar, Alex, e dos dois filhos dele.  Contra todas as expectativas, e à medida que ela se aproxima dessa família "adotiva", surge uma comovente e reflexiva história sobre laços inesperados e as complexas relações humanas. O filme aborda temas como amor, luto, família e paternidade com emoção e sutileza, levantando a questão de quem são eles para ela e quem é ela para eles. 

Trailer de "O Apego"



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  "O Estrangeiro" está em cartaz na Cineflix Cinemas de Santos


Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em dezembro de 2025


O drama psicológico existencial "O Estrangeiro", dirigido por François Ozon, adapta clássico de Camus, por meio da apatia incompreensível do protagonista, Meursault (Benjamin Voisin, de "Ilusões Perdidas", "Almas Gêmeas"). Na Argélia dos anos 1930, enquanto enfrenta o julgamento após cometer o crime de matar um árabe com cinco tiros numa praia, a postura dele ao perder a mãe recentemente é misturada e determinante para a sentença recebida.

Exibido durante o Festival de Cinema Francês do Brasil de 2025, em cartaz na Cineflix Cinemas de Santos, o longa que provoca desconforto em preto e branco, soma 2 horas de duração, mantendo o mistério do romance, assim como uma fidelidade infiel ao texto original. O resultado é um filme primoroso que trata o existencialismo e a apatia do protagonista ao explorar temas como o absurdo da vida e a indiferença humana.

Benjamin Voisin na pele do protagonista brilha mais uma vez numa adaptação da literatura francesa, entregando com primor a essência taciturna desta obra-prima filosófica. Tem-se um Meursault que caminha naturalmente entre a complexidade moral e o vazio existencial, desde o velório da mãe até sua prisão e julgamento. Tornando-se um verdadeiro estrangeiro de si. 

Ao questionar a justiça e a fé por meio de silêncios impactantes ou raras palavras, "O Estrangeiro" consegue ser bem-sucedido, comprovando merecer a seleção para o Festival de Veneza (2025) e para o Festival de Cinema Francês do Brasil (2025). O longa tem ainda no elenco Rebecca Marder ("A Garota Radiante"), Pierre Lottin ("A Noite do Triunfo" e "A Fanfarra"), Swann Arlaud ("Anatomia de Uma Queda") e Jean-Charles Clichet ("Vizinhos Bárbaros"). Filmaço imperdível que é pura poesia e reflexão!


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"O Estrangeiro"(“L’Étranger”). Classificação indicativa: 14 anos. Ano de produção: 2025. Idioma: francês. Direção: François Ozon. Roteiro: François Ozon, Manu Dacosse. Elenco: Benjamin Voisin, Rebecca Marder, Pierre Lottin, Denis Lavant, Swann Arlaud. Distribuição no Brasil: California Filmes. Duração: 2h00m. Cenas pós-créditos: não.

Trailer de "O Estrangeiro"



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